O Código Florestal (que não protege apenas as florestas, mas todos os ecossistemas brasileiros e diversos bens dos quais precisamos para sobreviver e que vão sumir se os ecossistemas forem destruídos, como a água) está em perigo, e interesses privados pressionam para que uma proposta (muito, muito ruim) seja votada - e aprovada - este mês na Câmara dos deputados.
Este foi o prólogo.
Hoje, li uma reportagem no site do Estadão e gostaria de compartilhá-la aqui.
A reportagem (leia um trecho mais abaixo) mostra como pequenos produtores que se adaptaram às exigências da lei atual conseguiram muito mais do que a legalidade: conseguiram recuperar nascentes de água e melhorar sua qualidade de vida, tendo lucro ao mesmo tempo!
Kátia Abreu e Aldo Rebelo fazem lobby, manipulando dados e afirmando que o Código Florestal atual deixa "100% dos agricultores brasileiros" na ilegalidade (sim, Rebelo disse esse disparate! Isso não apenas é uma mentira deslavada, como ele precisa aprender a mentir direito; algumas semanas atrás eu li que ele havia dito "80% dos agricultores", o que já foi ridículo!) e que quem é contra o Código florestal está representando "ONGs estrangeiras" e "interesses escusos".
Gostaria de saber em qual categoria se encaixam todos os cientistas, de instituições renomadas como a Embrapa, a ESALQ, a USP, a SBPC e a ABC, que são contra a proposta.
Também são contra diversos movimentos e associações de pequenos produtores rurais, dentre eles o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), a Federação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (FETRAF), o MST e a Comissão Pastoral da Terra (CPT).
Apesar do Ministério do Meio Ambiente (também contrário às modificações propostas) estar procurando um acordo entre os "ruralistas" e os "ambientalistas" (será que ainda vamos precisar desses rótulos, por quanto tempo?), os ruralistas (leia-se "grandes produtores que querem ganhar o máximo que puderem o mais rápido possível") já afirmaram que não aceitarão nenhuma proposta alternativa.
Hoje, o presidente da Câmara, Marco Maia, criou um grupo para tentar negociar a proposta de alteração antes que ela seja levada a votação. Estou tentando ser otimista, mas não podemos relaxar!
Leia abaixo um trecho da reportagem publicada no Estadão, "Pequenos produtores mantêm reserva legal", de Leandro Costa e José Maria Tomazela:
Capela do Alto. O agricultor João Carlos Wincler estava a ponto de desistir da lavoura e da criação de gado de leite no Sítio da Alvorada, em Capela do Alto (SP). O terreno é declivoso e a cada chuva ele via brotar a erosão, que abria sulcos no mandiocal e acabava com o pasto. "A mina de água secou e tivemos de dar água da torneira para o gado." Wincler e os três irmãos herdaram do pai a propriedade de 14,5 hectares e não tiveram o cuidado de evitar que o gado pisoteasse a pequena mata do sítio. A capoeira de 3,6 hectares estava sendo dizimada, além da erosão.
Há quatro anos, eles aderiram ao programa estadual de microbacias e receberam a visita do agrônomo Antonio Vieira Campos, da Casa da Agricultura local. "Ele mandou cercar a mata para o gado não entrar e recomendou que recuperássemos a área degradada."
Com equipamentos do programa, foram construídas duas bacias de contenção na parte de cima do terreno. Na parte mais sujeita às enxurradas foram plantadas touceiras de bambu e outras espécies de crescimento rápido. Os resultados logo surgiram. Sem o gado comendo os brotos e plantas novas, a mata encorpou. A mina voltou a jorrar. "É uma água tão boa que a gente enche os galões para beber." O pasto passou a produzir mais e a produção de leite melhorou.
O melhor mesmo foi recuperar a mina. O veio de água tornou-se permanente e, além de abastecer gado e lavoura, encorpa o riacho que atende às propriedades vizinhas. Pequenos produtores de abobrinha e outras hortaliças usam a água para irrigação. "Do jeito que estava indo, o sítio ia acabar", diz José Carlos, que não se importa de destinar à reserva legal mais de 20% da área do sítio. "Quando passamos a cuidar da mata, tudo melhorou, até a lavoura."
Em Apucarana. Quando regularizou a situação da sua propriedade, em Apucarana (PR), há três anos, o cafeicultor Paulo Fenato perdeu 3, de 38 hectares de cultivo. Para recompor a área de reserva, arrancou 3.500 pés de café. Fenato não se sente punido, porém. "Foi necessário. Não só porque a lei pede, mas porque a preservação dos recursos naturais depende disso", diz ele, cuja propriedade está na bacia do Rio Pirapó, que, além de Apucarana, abastece municípios da região central do Paraná, como Maringá.
Compensar a redução na área de plantio não está sendo tão difícil. Com técnicas avançadas em uma pequena parcela da propriedade ele já igualou a produção anterior. "Substituí o plantio convencional pelo adensado em 2 hectares e já recuperei a perda. Se antes eu plantava 550 pés/hectare, agora planto 4.100 no mesmo espaço." Fenato pretende multiplicar a produtividade nos próximos anos, estendendo o adensamento para toda a lavoura.
Em relação às vantagens de preservar, Fenato diz: "A paisagem mudou. Depois que reflorestei minha propriedade ela voltou a ter vida, com bichos e pássaros", diz. Ele frisa a importância da preservação. "Quanto mais a natureza sofrer, mais nós, produtores, sofreremos". Para preservar as mata ciliares e manter a reserva legal, ele recebe da Prefeitura de Apucarana um prêmio mensal de R$ 562. Junto com outros 68 produtores, ele integra o Projeto Oásis Apucarana, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo, que visa a incentivar a conservação das matas em torno dos Rios Pirapó e Tibagi, que banham a região.
Também em Apucarana, o sojicultor Satio Kayukawa diz que nunca contou com os 9 hectares de área de preservação de seu sítio. Quando comprou a propriedade de 36 hectares, no fim da década de 1980, ela já possuía essas áreas de reserva e só mexeu nelas para substituir 1.800 eucaliptos por árvores nativas.Há, dentro da propriedade, seis nascentes, que ele diz cuidar com zelo. "Elas são minha garantia de água boa." O investimento em variedades de soja mais produtivas permitiu ao produtor tocar a propriedade sem expandir a área de plantio, de 17 hectares.
Um comentário:
Oi! È isso aí! Veja em meu blog: http://ambientedaserra.blogspot.com/2011/03/reserva-legal-preservando-mananciais.html
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