quarta-feira, 2 de março de 2011

Pequenos produtores mostram as vantagens da preservação

árvores fazem uma falta...Ah, eu sei que já escrevi muitas vezes sobre isso, mas nem todo mundo que entra aqui vai procurar pelas coisas que escrevi meses atrás. E sempre há muito o que falar!

O Código Florestal (que não protege apenas as florestas, mas todos os ecossistemas brasileiros e diversos bens dos quais precisamos para sobreviver e que vão sumir se os ecossistemas forem destruídos, como a água) está em perigo, e interesses privados pressionam para que uma proposta (muito, muito ruim) seja votada - e aprovada - este mês na Câmara dos deputados.

Este foi o prólogo.

Hoje, li uma reportagem no site do Estadão e gostaria de compartilhá-la aqui.
A reportagem (leia um trecho mais abaixo) mostra como pequenos produtores que se adaptaram às exigências da lei atual conseguiram muito mais do que a legalidade: conseguiram recuperar nascentes de água e melhorar sua qualidade de vida, tendo lucro ao mesmo tempo!

Kátia Abreu e Aldo Rebelo fazem lobby, manipulando dados e afirmando que o Código Florestal atual deixa "100% dos agricultores brasileiros" na ilegalidade (sim, Rebelo disse esse disparate! Isso não apenas é uma mentira deslavada, como ele precisa aprender a mentir direito; algumas semanas atrás eu li que ele havia dito "80% dos agricultores", o que já foi ridículo!) e que quem é contra o Código florestal está representando "ONGs estrangeiras" e "interesses escusos".

Gostaria de saber em qual categoria se encaixam todos os cientistas, de instituições renomadas como a Embrapa, a ESALQ, a USP, a SBPC e a ABC, que são contra a proposta.
Também são contra diversos movimentos e associações de pequenos produtores rurais, dentre eles o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), a Federação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (FETRAF), o MST e a Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Apesar do Ministério do Meio Ambiente (também contrário às modificações propostas) estar procurando um acordo entre os "ruralistas" e os "ambientalistas" (será que ainda vamos precisar desses rótulos, por quanto tempo?), os ruralistas (leia-se "grandes produtores que querem ganhar o máximo que puderem o mais rápido possível") já afirmaram que não aceitarão nenhuma proposta alternativa.
Hoje, o presidente da Câmara, Marco Maia, criou um grupo para tentar negociar a proposta de alteração antes que ela seja levada a votação. Estou tentando ser otimista, mas não podemos relaxar!

Leia abaixo um trecho da reportagem publicada no Estadão, "Pequenos produtores mantêm reserva legal", de Leandro Costa e José Maria Tomazela:
agricultor mostra as vantagens de manter a Reserva LegalCapela do Alto. O agricultor João Carlos Wincler estava a ponto de desistir da lavoura e da criação de gado de leite no Sítio da Alvorada, em Capela do Alto (SP). O terreno é declivoso e a cada chuva ele via brotar a erosão, que abria sulcos no mandiocal e acabava com o pasto. "A mina de água secou e tivemos de dar água da torneira para o gado." Wincler e os três irmãos herdaram do pai a propriedade de 14,5 hectares e não tiveram o cuidado de evitar que o gado pisoteasse a pequena mata do sítio. A capoeira de 3,6 hectares estava sendo dizimada, além da erosão.

Há quatro anos, eles aderiram ao programa estadual de microbacias e receberam a visita do agrônomo Antonio Vieira Campos, da Casa da Agricultura local. "Ele mandou cercar a mata para o gado não entrar e recomendou que recuperássemos a área degradada."

Com equipamentos do programa, foram construídas duas bacias de contenção na parte de cima do terreno. Na parte mais sujeita às enxurradas foram plantadas touceiras de bambu e outras espécies de crescimento rápido. Os resultados logo surgiram. Sem o gado comendo os brotos e plantas novas, a mata encorpou. A mina voltou a jorrar. "É uma água tão boa que a gente enche os galões para beber." O pasto passou a produzir mais e a produção de leite melhorou.

O melhor mesmo foi recuperar a mina. O veio de água tornou-se permanente e, além de abastecer gado e lavoura, encorpa o riacho que atende às propriedades vizinhas. Pequenos produtores de abobrinha e outras hortaliças usam a água para irrigação. "Do jeito que estava indo, o sítio ia acabar", diz José Carlos, que não se importa de destinar à reserva legal mais de 20% da área do sítio. "Quando passamos a cuidar da mata, tudo melhorou, até a lavoura."

Em Apucarana. Quando regularizou a situação da sua propriedade, em Apucarana (PR), há três anos, o cafeicultor Paulo Fenato perdeu 3, de 38 hectares de cultivo. Para recompor a área de reserva, arrancou 3.500 pés de café. Fenato não se sente punido, porém. "Foi necessário. Não só porque a lei pede, mas porque a preservação dos recursos naturais depende disso", diz ele, cuja propriedade está na bacia do Rio Pirapó, que, além de Apucarana, abastece municípios da região central do Paraná, como Maringá.

Compensar a redução na área de plantio não está sendo tão difícil. Com técnicas avançadas em uma pequena parcela da propriedade ele já igualou a produção anterior. "Substituí o plantio convencional pelo adensado em 2 hectares e já recuperei a perda. Se antes eu plantava 550 pés/hectare, agora planto 4.100 no mesmo espaço." Fenato pretende multiplicar a produtividade nos próximos anos, estendendo o adensamento para toda a lavoura.

Em relação às vantagens de preservar, Fenato diz: "A paisagem mudou. Depois que reflorestei minha propriedade ela voltou a ter vida, com bichos e pássaros", diz. Ele frisa a importância da preservação. "Quanto mais a natureza sofrer, mais nós, produtores, sofreremos". Para preservar as mata ciliares e manter a reserva legal, ele recebe da Prefeitura de Apucarana um prêmio mensal de R$ 562. Junto com outros 68 produtores, ele integra o Projeto Oásis Apucarana, da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Turismo, que visa a incentivar a conservação das matas em torno dos Rios Pirapó e Tibagi, que banham a região.

Também em Apucarana, o sojicultor Satio Kayukawa diz que nunca contou com os 9 hectares de área de preservação de seu sítio. Quando comprou a propriedade de 36 hectares, no fim da década de 1980, ela já possuía essas áreas de reserva e só mexeu nelas para substituir 1.800 eucaliptos por árvores nativas.Há, dentro da propriedade, seis nascentes, que ele diz cuidar com zelo. "Elas são minha garantia de água boa." O investimento em variedades de soja mais produtivas permitiu ao produtor tocar a propriedade sem expandir a área de plantio, de 17 hectares.

Um comentário:

Cesáurio disse...

Oi! È isso aí! Veja em meu blog: http://ambientedaserra.blogspot.com/2011/03/reserva-legal-preservando-mananciais.html