terça-feira, 29 de novembro de 2011

10 anos sem George Harrison

George Harrison nos anos 1960George Harrison nos anos 1990Gostaria de deixar uma breve homenagem ao "Beatle quieto", que deixou o mundo material no dia 29 de novembro de 2001, vítima de câncer no pulmão.

Marcaram sua imagem, além da música, a intensa espiritualidade e a paixão pela cultura indiana.

Além da extensa obra dos Beatles, Harrison também teve uma bela carreira solo. O álbum All Things Must Pass é ótimo, e eu aconselho a quem encontrá-lo à venda em algum lugar que compre imediatamente.

Veja o trailer do documentário sobre Harrison Living In The Material World, de Martin Scorsese:

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Ato em defesa das florestas, 29/11 em Brasília

logo da campanha #florestafazadiferenca em defesa do Código Florestal
A Comissão de Meio Ambiente do Senado aprovou esta semana as alterações no Código Florestal.
Apesar de algumas pequenas melhorias, como a criação do Cadastro Rural Ambiental (CRA), os problemas apontados pelos cientistas continuam, inclusive a anistia aos desmatadores e os problemas constitucionais.
(leia análise do projeto aprovado, feita pelo Dr. Jean Paul Metzger, pesquisador da USP, aqui)

Além do projeto, foram aprovadas a toque de caixa várias emendas que beneficiam os agricultores que desrespeitaram a lei.
Emendas que poderiam tornar a coisa menos pior, como a proibição de novos desmatamentos por dez anos, foram rejeitadas.

Foi aprovado "regime de urgência", e a proposta pode ir a votação no plenário a qualquer momento.
(fique de olho para saber como vota o seu senador!!!)

Apesar do desânimo, não podemos baixar a guarda.
O que for aprovado pelo Congresso ainda vai passar pela presidente Dilma, que poderá vetar (conforme prometido) os retrocessos mais graves, como os artigos que premiam que desmatou ilegalmente até 2008 com cancelamento de multas e impunidade.

No próximo dia 29, terça-feira, o Comitê Brasil em Defesa das Florestas e do Desenvolvimento Sustentável vai promover o "Ato em defesa das florestas" em Brasília, para a entrega dos abaixo assinados para a Presidente Dilma e para a Presidência do Senado.

(Ainda não assinou? Está esperando o quê??? Assine e divulgue!)

Precisamos do seu apoio!
Mesmo que não possa estar lá pessoalmente, ajude a divulgar o ato.

As assinaturas coletadas devem ser enviadas com urgência para Caixa Postal 6137, CEP 70740-971, Brasília - DF.

Vai ter ônibus (grátis!) saindo de São Paulo:
Saída dia 28 de novembro às 16hs
Volta São Paulo dia 29/11 - 18hs
Confirmar enviando e-mail para voluntariado.apoio@sosma.org.br até dia 25 (sexta-feira) às 12hs.

Esta região poderia ser mais segura se tivesse florestas nas encostas dos morros - #florestafazadiferencao ator Wagner Moura apóia a campanha #florestafazadiferenca em defesa do Código Florestal

o músico e poeta Arnaldo Antunes apóia a campanha #florestafazadiferenca em defesa do Código Florestalo ator Victor Fasano apóia a campanha #florestafazadiferenca em defesa do Código Florestal
Manifestantes contra as mudanças no Código Florestal protestam no Senado. Foto de Jose Cruz/ABr
Manifestantes contra as mudanças no Código Florestal protestam durante sessão da Comissão de Meio Ambiente do Senado. Os manifestantes foram retirados do plenário.
Foto de Jose Cruz/ABr

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Código Florestal não é exclusividade do Brasil; nós perdemos até para outros Brics em proteção às florestas

Aguardando o início da votação do Código Florestal na Comissão de Meio Ambiente do Senado, dois artigos interessantes:

Do Greenpeace Brasil, publicado em 07/10/2011:

Não estamos sós

Estudo sobre legislações florestais de 11 países mostra que proteção e desenvolvimento andam juntos.


Cai por terra um dos mais repetidos argumentos ruralistas utilizados nas discussões sobre a reforma do Código Florestal Brasileiro na Câmara dos Deputados. Um estudo realizado sobre as normas de 11 nações demonstra que, definitivamente, a legislação florestal não é uma exclusividade brasileira.

A pesquisa mostra que o Brasil não está só nesse barco, e, ainda mais, que pode aprender muito com a experiência de outros países. Há leis que regem as florestas mundo afora, inclusive anteriores à nacional, e vivências que podem enriquecer em muito o debate, caso os parlamentares do Congresso Nacional as examinem.

É a partir da análise da história que devem ser revistos os erros e acertos passados, para uma melhor formulação do que se quer como futuro. Por esse motivo, partiu do Greenpeace a iniciativa de requisitar a pesquisa técnica, que reúne dados de Alemanha, China, Estados Unidos, França, Holanda, Índia, Indonésia, Japão, Polônia, Reino Unido e Suécia. A compilação dos dados foi levada a cabo por duas das mais renomadas instituições científicas sobre o tema: o Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e o ProForest, organização afiliada à Universidade de Oxford, na Inglaterra, e autoridade global no assunto.

O que se constata é a conscientização da importância das florestas e dos recursos naturais: nações que devastaram muito no passado hoje correm atrás do que foi perdido, com leis de proteção e incentivos financeiros para recuperação. E quem não perdeu cuida do que tem com unhas e dentes.

Alguns dos países estudados possuem legislações muito anteriores à nossa. A Suécia, por exemplo, colocou em vigor seu “Código Florestal” em 1886 e estipulou que áreas desmatadas deveriam ser reflorestadas. O resultado salta a olhos vistos: a área florestada cobre 69% do território. O país possui ainda 22,7 milhões de hectares de terras florestais produtivas e 0,7 milhão de hectares dessas terras estão dentro de áreas protegidas.

“Esse estudo desconstroi o discurso ruralista para justificar uma mudança no Código Florestal – o de que nenhum outro país tem uma legislação como a nossa e que temos o direito a desmatar. A discussão na Câmara ficou baseada em mantras que foram repetidos como verdade, mas que foram produzidos em cima de falácias”, afirma Paulo Adario, diretor da campanha Amazônia do Greenpeace. “Os senadores, quando ouviram outras visões, começaram a perceber que teriam de sair do circo montado pelos ruralistas na Câmara dos Deputados.”

Privado não é intocável

O estudo mostra que há uma preocupação geral contra o desmatamento, inclusive em propriedades privadas. Derrubada em terras particulares tem de ser justificada e aprovada, assim como em áreas públicas.

Na França, por exemplo, quem quiser derrubar uma área maior a 25 hectares precisa fazer um estudo de impacto ambiental, e não pode começar a operação sem autorização. Algo similar também acontece na Alemanha e outros países.

“A regra do mundo hoje é a recuperação florestal, não a perda. Na discussão no Congresso, vemos os mesmos personagens que atuavam no Brasil do passado. Mas nós já estamos no Brasil do futuro, que está na beira de uma conferência como a Rio+20, e que já se coloca como uma potência mundial”, afirma Adalberto Veríssimo, pesquisador sênior do Imazon e um dos coordenadores do estudo. “Temos de ver o que o país quer: se colocar como um exemplo ou afundar ainda mais. Os 56% de cobertura florestal que possuímos hoje já é o fundo do poço.”

Floresta de volta

Na outra ponta, a recuperação também é valorizada. O exemplo da China é significativo. Com uma baixa relação per capita entre população e floresta, e após dezenas de séculos de exploração, o governo chinês lançou um amplo programa de reflorestamento, o que a torna atualmente o país com o maior incremento anual em florestas plantadas entre as nações estudadas.

No Reino Unido, o governo assumiu compromissos com a criação e a gestão de florestas como um recurso natural renovável. Depois da ECO-92, no Rio de Janeiro, o governo adotou uma política florestal para promover o uso sustentável dos recursos e assegurar uma expansão constante da cobertura vegetal.

Outro exemplo bem sucedido em países ricos é o dos Estados Unidos, cuja cobertura florestal tem se mantido relativamente estável desde 1907. Em 1900 o país possuía 34% de área coberta. Em 1950 ela sofreu ligeira redução passando a 33%, e permanece nesse patamar até hoje – isso sem comprometer a produção agrícola.

Segundo Veríssimo, não podemos nos dar ao luxo de destruir nossa floresta tropical, cuja restauração é muito mais difícil. “Nós não temos conhecimento científico suficiente das espécies. A agropecuária deve ter a consciência de que a fronteira está fechada, senão não irá mudar o seu modelo produtivo. Devemos saber que manter floresta não afetará o preço da carne. Com tecnologia e uma mudança de modelo, a produção pode triplicar.”

A experiência em outros países mostra que o Brasil precisa investir em tecnologia, para aumentar a produtividade, e em preservação, para reescrever a história perversa de perda de recursos naturais que se viu em outros países.

“O mundo de hoje não é mais o mundo pré-industrial. Não existe mais uma sociedade isolada. Os compromissos que o governo brasileiro assumiu internacionalmente refletem essa posição. Temos de estar antenados com as regras internacionais de mercado. Desse modo, a proteção das florestas é também uma proteção de mercado”, diz Paulo Adario. “Mudando o Código Florestal como querem os ruralistas sacrificaremos os interesses do país em nome de um setor que é fundamentalmente atrasado.”

Confira o estudo.
*~*~*~*

Artigo publicado hoje pela BBC Brasil:
Brasil perde para outros Brics na hora de proteger suas florestas

O Brasil está atrás de China, Rússia e Índia no combate ao desmatamento e na recuperação da área florestal perdida. Esta é a conclusão de um estudo organizado pelo instituto brasileiro Imazon e o Proforest, ligado à Universidade de Oxford, que estudo comparou a situação em 11 países e mostra que nos quesitos preservação e reflorestamento o Brasil está perdendo a corrida com outros países dos Brics.


O estudo, divulgado no momento em que o Senado debate os termos do novo Código Florestal quanto ao tratamento de áreas verdes do país, compara a forma com que o Brasil e outros países lidam com o tema e analisa o que está sendo feito de suas florestas.

Se colocados lado a lado, os dados mostram que, enquanto China, Índia e Rússia têm criado leis para proteger suas florestas e agem para recuperar o que já foi devastado, o Brasil segue na contra-mão, desmatando mais do que é reflorestado.

O levantamento, denominado "Um Resumo do Status das Florestas em Países Selecionados", verificou um padrão semelhante nos países analisados. Primeiro, passam por intenso processo de desmatamento, normalmente quando estão se desenvolvendo, para abrir espaço para a agricultura e explorar matérias-primas.

Em seguida, essa devastação é interrompida por fatores que vão da escassez dos produtos florestais à preocupação ambiental. Começa então uma curva ascendente, com políticas de proteção ambiental e reflorestamento.

Fundo do poço

Para Adalberto Veríssimo, pesquisador sênior do Imazon e coordenador do levantamento no país, o Brasil está longe de acompanhar os outros Brics.

"Estamos atualmente no fundo do poço e um desses bem profundos, porque quando ainda é pobre, o país dilapida suas florestas, mas à medida que se torna emergente, começa a mostrar uma curva ascendente", disse Veríssimo à BBC Brasil.

"Mas o que vemos aqui não é nada disso. O Brasil já é emergente e continua caindo, já que perde mais florestas do que planta", afirma o pesquisador, lembrando que se originalmente o país tinha 90% de seu território coberto por florestas, hoje essa proporção é de 56%.

O exemplo mais contundente talvez seja a China, que com um amplo programa oficial superou a fase de devastação intensa e já conseguiu recuperar suas florestas, apesar de ainda serem limitadas. Segundo dados da FAO, a cobertura florestal do país em 1950 não chegava nem a 10% do território, enquanto hoje ocupa 22%.

"O principal interesse chinês é impulsionar sua economia e criar uma reserva estratégica para o país, protegendo, por exemplo, áreas como as que têm recursos hídricos", afirma Veríssimo.

A legislação da China impede que florestas sejam suprimidas em prol de mineração ou projetos de infraestutura e só abre exceções mediante a autorização governamental e pagamento de taxa de restauração ambiental.

Curva ascendente

Já a Rússia, país com maior cobertura florestal do mundo, ampliou essa área em 15% em 60 anos e hoje tem quase metade de seu território coberto por florestas. O crescimento deve-se a uma melhoria na legislação, também resultado da menor dependência da área rural.

Segundo o estudo, a Índia também já começou avançar rumo ao reflorestamento, embora em um nível bem mais tímido, de 21% para 22%. Mas o pesquisador lembra que os entraves indianos são muitos mais duros do que os brasileiros, já que eles vivem em território muito menor que o nosso com uma população cerca de seis vezes maior.

O estudo do Imazon e da Proforest, que incluiu também países europeus e da América do Norte, deixa claro que para fazer progresso nessa trajetória de recuperação ambiental são precisos incentivos do governo.

Setores ruralistas rejeitam as conclusões do estudo pois acreditam que a falta de incentivo governamental no Brasil invalida as comparações. Eles alegam que o estudo põe lado a lado países que não são comparáveis, justamente por receberem benefícios em prol da conservação ambiental

"Esse estudo é uma interpretação parcial dos dados, porque mostra que países que, após devastarem quase toda a área verde que tinham, vêm replantando com recursos obtidos na forma de incentivos financeiros e indenizações para áreas que deixam de produzir alimentos", disse à BBC Brasil, Assuero Veronez, vice-presidente da CNA (Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária).

"E não podemos comparar isso com a nossa legislção, que apenas restringe o uso sem qualquer tipo de indenização ou compensação ao proprietário."

sábado, 12 de novembro de 2011

Festa italiana

Hoje foi dia de festa na Itália.

Silvio Berlusconi deixa o Palácio Quirinale depois de entregar sua renúncia ao presidente Giorgio Napolitano - Foto: APApós um governo marcado por escândalos sexuais, corrupção e acusações de envolvimento com a máfia, o primeiro-ministro Silvio Berlusconi renunciou ao cargo, após a aprovação de reformas econômicas exigidas pela União Européia.

Uma multidão o recebeu com vaias no Palácio Quirinale, sede da presidência.
Antes de sua chegada, um coral de 'Aleluia', de Handel, com dezenas de cantores e músicos clássicos, apresentou-se na frente do palácio.

orquestra toca Aleluia, de Handel, em homenagem à renúncia de Berlusconi
Lembrei-me de um e-mail emocionante que recebi alguns meses atrás e fui procurar.
O texto estava em espanhol; segue uma tradução minha:
A Itália finalmente despertou. É comovente.

No último dia 12 de março (de 2011), Silvio Berlusconi teve de enfrentar a realidade. A Itália festejava o 150o aniversário de sua unificação, e nessa ocasião foi encenada na Ópera de Roma a ópera 'Nabucco' de Giuseppe Verdi, sob regência do maestro Riccardo Muti. Nabucco é uma obra musical e política: evoca o episódio da escravidão dos judeus na Babilônia, e seu famoso coro 'Va Pensiero' é o canto dos escravos oprimidos. Na Itália, este canto é o símbolo da busca pela liberdade do povo, que no final do século XIX - quando foi escrita a ópera - estava oprimido pelo império Habsburgo, o qual combateu até a criação da Itália unificada.

Antes da apresentação, Gianni Alemanno, prefeito de Roma, subiu ao palco para proferir um discurso denunciando os cortes no orçamento para a cultura que o governo havia feito (e Alemanno é membro do partido governante e ministro de Berlusconi!). Esta intervenção em um dos momentos culturais mais simbólicos da Itália produziria um efeito inesperado, dado que Berlusconi em pessoa assistia à apresentação.

Entrevistado logo pelo Times, Riccardo Muti, regente da orquestra, contou que foi uma verdadeira noite de revolução: "A princípio houve uma grande ovação no público. Logo começamos a ópera. Se desenrolou muito bem, até que chegamos ao famoso canto 'Va Pensiero'. Imediatamente, senti que a atmosfera ficava mais tensa. Há coisas que não se pode descrever, mas se sente. Era um silêncio do público que se fazia sentir. Mas, no momento em que as pessoas se deram conta de que começava 'Va Pensiero', o silêncio se tornou um verdadeiro fervor. Se podia sentir a reação visceral do público diante do lamento dos escravos que cantam "Ó pátria minha, tão bela e perdida".

Quando o coro chegava ao fim, já se ouvia do público pedidos de "bis". O público começou a gritar "Viva Itália!", "Viva Verdi!", "Vida longa à Itália!". As pessoas no "poleiro" começou a lançar papéis com mensagens patrióticas.

Em apenas uma ocasião Muti havia aceitado fazer um bis para 'Va Pensiero', na Scala de Milão em 1986, dado que uma ópera não deve sofrer interrupções. "Eu não queria apenas fazer um bis. Tinha que haver uma intenção especial para fazê-lo", relata. Mas o público já havia despertado seu sentimento patriótico. Em um gesto teatral, Muti se virou e olhou para o público e para Berlusconi, e disse:

"Sim, estou de acordo com isto. 'Vida longa à Itália'. Porém...
Já não tenho mais 30 anos e vivi minha vida, mas viajei muito pelo mundo, e hoje sinto vergonha do que sucede em meu país. Então, se atendo hoje ao vosso pedido de um bis para 'Va Pensiero', não é apenas pela inspiração patriótica que sinto, mas porque esta noite, quando dirigia o coro que cantou 'Ai minha pátria, bela e perdida', pensei que, se seguirmos assim, vamos matar a cultura sobre a qual se construiu a história da Itália. Neste caso, nossa pátria estaria, de fato, 'bela e perdida'".
(Aplausos, inclusive dos artistas em cena)

Continuou: "Já que reina aqui um clima italiano, eu, Muti, me calei por muitos anos. Gostaria agora... teríamos que dar sentido a este canto; estamos em nossa casa, no teatro de Roma, e com um coro que cantou magnificamente bem e que foi acompanhado esplendidamente. Se quiserem, proponho que se unam a nós para que cantemos todos juntos".

Então convidou o público a cantar com o coro dos escravos. "Vi grupos de gente se levantarem. Toda a Ópera de Roma se levantou. E o coro também. Foi um momento mágico na Ópera".
Essa noite não foi somente uma apresentação de Nabucco, mas também uma declaração do teatro da capital para chamar a atenção dos políticos".

Aqui está o vídeo desse momento cheio de emoção:

Agora, festejam os italianos, "a Itália está livre!"

Agora eu fiquei assustada: Metade dos brasileiros não sabe o que é autoritarismo

Vi no Maria da Penha Neles!
Fiquei realmente assustada. Tinha que compartilhar.


charge de Ziraldo
POVO ESTÚPIDO
Metade dos brasileiros não sabe o que é autoritarismo

Por Nemércio Nogueira (consultor de empresas e diretor do Instituto Vladimir Herzog)

É alarmante o resultado da pesquisa da chilena Latinobarometro que a Folha de S.Paulo publicou no dia 29 de Outubro. Ela mostra que no último ano o apoio da população brasileira à democracia caiu de 54% para 45%. Caiu mais que a média de apoio na América Latina. Ou seja, menos de metade da nossa população prefere a democracia a qualquer outra forma de governo. A maioria acha que um governo autoritário pode ser preferível a um democrático, ou que dá na mesma a democracia ou o autoritarismo.

Vivo hoje, à vista desse fato, Nelson Rodrigues diria que, além da unanimidade ser burra, a maioria é estúpida. Parece incrível que, numa nação que foi vítima da opressão de uma ditadura, mais de metade da população pense que um governo totalitário pode ser melhor que a democracia, ou que tanto faz.

É por isso que tem tanta importância o trabalho que vem sendo feito pelo Instituto Vladimir Herzog, com seu projeto “Resistir é preciso...”, resgatando os jornais e jornalistas que, nas bancas, na clandestinidade ou no exílio, combateram a ditadura. Em vídeos, livros, documentários e outras iniciativas, o Instituto insere na História do Brasil e procura mostrar a todos, principalmente aos mais jovens, qual era a realidade que vivíamos nos anos de chumbo. Para que não permitamos que isso aconteça de novo.

Os estúpidos que dispensaram a democracia nessa pesquisa do Latinobarometro não sabem que, sem democracia:

1. A imprensa amordaçada não poderia denunciar corrupção nos governos, nem opinar livremente sobre todos os assuntos;

2. Um presidente da República rejeitado pela população não teria sido castigado pelo impeachment;

3. Um presidente que terminou oito anos de mandato com apoio de 86% da população, também segundo o Latinobarometro, não poderia sequer ter sido eleito;

4. O fim do sigilo eterno de documentos do governo e a criação da Comissão da Verdade, já aprovados pela Câmara e pelo Senado, nem projetos teriam sido;

5. O Brasil não viveria o atual desenvolvimento social e econômico, nem gozaria do respeito que hoje lhe dedicam os outros países;

6. Nenhuma crítica ao governo seria permitida – por jornalistas, por sindicalistas, por estudantes, por políticos, ou por quem quer que fosse;

7. A corrupção, a incompetência e o desmando de governantes e funcionários públicos estariam permanentemente acobertados pela intransparência do poder totalitário;

8. Estaríamos todos continuamente sob a ameaça arbitrária de prisão, tortura e morte;

9. Teríamos de tomar cuidado com o que disséssemos perto de colegas de escola e de trabalho, vizinhos, conhecidos, até parentes, pois qualquer um poderia nos delatar, em troca de alguma vantagem junto aos donos do poder;

10. Ainda existiria um DOPS, com o inacreditável nome de Departamento de Ordem Política e Social, onde se prendiam pessoas pelo crime de pensamento e opinião;

11. Não poderíamos votar porque os mandantes nos seriam impostos, nem a opinião pública poderia se manifestar.

Com a provável exceção dos estúpidos 55% da população brasileira que acham que democracia não é indispensável, todos conhecem a frase de Sir Winston Churchill: ”A democracia é a pior forma de governo, exceto todas as outras que têm sido tentadas de tempos em tempos." E a de Ulysses Guimarães, que disse que "A grande força da democracia é confessar-se falível de imperfeição e impureza, o que não acontece com os sistemas totalitários, que se autopromovem em perfeitos e oniscientes para que sejam irresponsáveis e onipotentes."

Só na democracia é possível criticar até mesmo a própria democracia – e, de Saramago e Bernard Shaw até ao Marquês de Maricá, há comentários derrogatórios a ela em suficiente quantidade. Mas eu fico com Goethe: "A democracia não corre, mas chega segura ao objetivo."

No Conjur

O rancor contra a USP e a curiosa associação: “Além de maconheiro, você deve ser viado.”

Reitor da USP dá boas vindas à polícia militar - charge de Carlos Latuff
Charge de Carlos Latuff

Insisto no assunto porque o "debate" continua em baixíssimo nível nas redes sociais, e este ótimo texto toca em mais um ponto fundamental.
Como esperar segurança, se a USP não for respeitada pela população?

Fechar o campus cada vez mais não é um bom caminho para conseguir respeito.

Os acontecimentos recentes na USP deveriam levar a um debate sério sobre a interação da universidade com a população, assim como sobre o papel da PM - no campus e em todo o Brasil.
(Segundo relatório da Secretaria da Segurança Pública do estado de São Paulo, de cada 5 assassinatos registrados na capital, 1 é de autoria da PM)

mídia contra os manifestantes da USP - charge de Carlos Latuff
Charge de Carlos Latuff

Podemos discordar de alguns argumentos e dos métodos usados pelos estudantes (eu sou contra a invasão da Reitoria - mas ainda sou mais contra a ação da tropa de choque -, e ao longo de meus vários anos como aluna da USP tanto participei de greves quanto de manifestações contra greves), mas é preciso entender suas reinvindicações.
Nem todo aluno da USP é "filhinho de papai" com carro importado e camiseta GAP.
E se você acha que as manifestações são pelo "direito a fumar maconha", você não entendeu nada.

É muito curioso que boa parte da imprensa retrate os manifestantes dessa forma. Parece até uma conspiração para acabar com a reputação das universidades públicas...
O Ensino Fundamental e o Ensino Médio públicos já foram sucateados há muito tempo. Querem fazer o mesmo com o Ensino Superior?

Eu também aceito com muito orgulho que parte dos meus impostos vá para as universidades públicas!


O rancor contra a USP
Por Marcelo Rubens Paiva

“Além de maconheiro, você deve ser viado.”

Curiosa associação.

Esta é uma das muitas reações de carinho que recebi ao falar do conflito entre alunos da USP e a PM.

Dos mais de 400 comentários abaixo, o índice de reprovação dos acontecimentos é altíssimo.

E, claro, as agressões pessoais foram a tônica dos leitores: sou maconheiro, esquerdóide, analfabeto, autor de um livro só, cujo acidente me deixou paraplégico e burro, e a quantidade de drogas que tomei queimaram meus neurônios.

Uma fofura…

Ou não se entendeu o que queriam afinal os alunos da USP, ou um rancor contra eles domina parte da sociedade.

Percebi como tem gente que acha um desperdício o investimento do orçamento estadual em uma universidade pública.

Uma, não. Três [USP, Unicamp, Unesp].

Frequentadas por “vagabundos, maconheiros, depredadores dominados por correntes da esquerda radical”.

Um desperdício de dinheiro público.

Imaginei que fosse uma unanimidade a proposta de que o Estado deva investir pesadamente em educação, se quisermos dar um passo, sim, de gigante.

Além de vendermos pedras com ferro, soja e alimentar o mundo, poderíamos nos transformar numa força industrial e tecnológica.

Imaginei que a essência de uma Universidade fosse desenvolver o livre pensar.

As mensagens que os estudantes me passaram foram:

1. Esta PM não nos serve.

2. A política de repressão à posse de entorpecentes faliu.

3. A reitoria abriu mão de resolver os seus problemas, como a violência no campus, desistiu e chamou o Estado.

Leitores reclamaram que estudantes da USP não devem ter privilégios, que esta PM é a que temos. E que eles não querem a PM lá para poderem fumar seus baseadinhos livremente.

O governador do Estado reclamou que deveriam ter aulas de democracia.

Mas continuo concordando com os estudantes.

Não é a PM que deveria voltar à escola e aprender a combater o crime?

Esta PM é falida.

Não consegue lidar com os índices alarmantes de violência urbana. A corrupção corrói da base à cúpula. O traficante NEM acaba de declarar que metade dos seus rendimentos ia para a polícia.

Em todas as cidades existe a sua cracolândia, sinal de que, como disse a revista THE ECONOMIST, perdemos a batalha para o tráfico. Como sanar tal doença?

O DCE da USP entregou à reitoria meses atrás a sua proposta para conter a violência: iluminar o campus, descatracalizá-lo, tornar a Universidade aberta e criar uma guarda universitária focada nos direitos humanos.

E reitoria desprezou. Preferiu chamar a força de repressão que fez de São Paulo uma das cidades mais violentas do mundo.

A cobertura de parte da mídia só alimentou o preconceito. Não se debateram ideias, mas a atitude de vândalos.

Prefiro uma Universidade que continue nos propondo novas ideias. Sim, gratuita. Aceito com orgulho que parte dos meus impostos vá para as universidades públicas.

Já estudei em duas e sei muito bem que elas não servem apenas à elite. Que há convênios com países africanos e latino-americanos. Que se estuda as raízes dos problemas e conflitos sociais. Que há núcleos de combate à violência. E que a força dos movimentos sociais é a alma da democracia e da justiça social.

E que numa Universidade livre, governador, repensa-se o papel do Estado.

Nem na época da DITADURA as ações dos estudantes eram unanimes.

Havia uma maioria silenciosa não engajada que não participava.

Isto não quer dizer que ela estava correta.

Muitos diziam que estudantes estavam lá para apenas estudar.

A História prova que dos estudantes vêm as ideias de transformação.

É mais vantajoso escutá-los do que trancá-los ou reprimir com “borrachadas”.

No meio estudantil, longe das forças do mercado, nascem as grandes ideias.

Nasce o futuro.

sábado, 5 de novembro de 2011

Novembro

RobertJude Law, Watson











RobertRobert Downey Jr., Sherlock Holmes











Do tumblr (como se pronuncia isso??) Lost in Translation