quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Qual é o problema com a propaganda da Hope com a Gisele Bündchen?

A Secretaria de Políticas para Mulheres do governo federal pediu ao Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) a suspensão do campanha publicitária "Hope ensina" (veja na Carta Capital - que até apelidou a Gisele de "Amélia Bündchen"!).

O caso está entre os dez assuntos mais comentados de hoje no twitter e, pelos comentários da maioria dos usuários, deu pra ver que quase ninguém entendeu qual é o problema.

Gisele Bündchen vestida na campanha Hope Ensina - ErradoGisele Bündchen de lingerie na campanha Hope Ensina - CertoA campanha consiste em três comerciais "educativos", que "ensinam" o jeito "certo" (de lingerie, salto agulha e em uma pose sedutora) e o jeito "errado" (vestida) de dar uma má notícia para o "maridão".

Em um desses comerciais, intitulado "Estourei o Cartão", a má notícia é que ela estourou o limite do cartão de crédito (dele).
A propagando está reforçando dois estereótipos: o homem como "o provedor" e a mulher como "a viciada em compras descontrolada".

Em outro, "Bati o Carro", ela precisa contar que bateu o carro dele (e de novo, com o "de novo" em destaque).
Mais uma vez, reforça a idéia de que o homem é o provedor (por que ela não tem um carro dela?), e também reforça o mito de que mulheres dirigem mal (quando, de fato, mulheres dirigem muito melhor que os homens, tanto que seguro de carro é mais barato para mulheres).

Além disso tudo, a campanha reforça o estereótipo de femme fatale, que usa o sexo para controlar os homens.

E os comerciais ainda terminam com o narrador dizendo "você é brasileira, use seu charme", reforçando o estereótipo de puta mulher sensual que a mulher brasileira tem (não, isso não é bom!).


Ninguém tem nada contra a Gisele Bündchen nem acha ruim o fato dela aparecer de calcinha e sutiã na televisão, viu, povo burro do Twitter?

Mas na mesma época em que temos nossa primeira presidentA, e uma mulher faz o discurso inaugural na Assembléia Geral da ONU pela primeira vez na História, as mulheres ainda são vítima de violência doméstica (faltou a propaganda contar o que acontece com a mulher que der a notícia "do jeito errado"... Será que ela apanha?), ainda sofrem assédio e abuso sexual de estranhos e de conhecidos, ainda ganham menos que os homens... e muita gente no exterior associa brasileiras a prostitutas, ou turismo no Brasil a turismo sexual.
(e a gente continua reforçando isso... quantas vezes você já viu uma entrevista em que o repórter NÃO pergunta a um artista que veio pra cá o que achou das mulheres brasileiras? Argh!)

Não precisamos de comerciais que reforcem tudo isso!
Parabéns à Secretaria de Políticas para Mulheres!

*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*
A Hope divulgou a seguinte nota em resposta à Secretaria:
"Em relação às denúncias recebidas por essa Secretaria por conta da campanha publicitária “HOPE ensina”, a HOPE, empresa com 45 anos de história e que sempre primou pela excelente relação com as suas consumidoras, esclarece que a propaganda teve o objetivo claro e bem definido de mostrar, de forma bem-humorada, que a sensualidade natural da mulher brasileira, reconhecida mundialmente, pode ser uma arma eficaz no momento de dar uma má notícia. E que utilizando uma lingerie HOPE seu poder de convencimento será ainda maior.

Os exemplos nunca tiveram a intenção de parecer sexistas, mas sim, cotidianos de um casal. Bater o carro, extrapolar nas compras ou ter que receber uma nova pessoa em sua casa por tempo indeterminado são fatos desagradáveis que podem acontecer na vida de qualquer casal, seja o agente da ação homem ou mulher.

Foi exatamente para evitar que fôssemos analisados sob o viés da subserviência ou dependência financeira da mulher que utilizamos a modelo Gisele Bundchen, uma das brasileiras mais bem sucedidas internacionalmente. Gisele está ali para evidenciar que todas as situações apresentadas na campanha são brincadeiras, piadas do dia-a-dia, e em hipótese alguma devem ser tomadas como depreciativas da figura feminina. Seria absurdo se nós, que vivemos da preferência das mulheres, tomássemos qualquer atitude que desvalorizasse nosso público consumidor."
Sinceramente, eu acho que a resposta saiu tão ruim quanto os comerciais!

(e estou longe de ser a única - leiam a perspectiva publicitária da Marjorie Rodrigues, que é ótima!)






Mafalda completa 47 anos

O (brilhante) cartunista Joaquin Salvador Lavado, conhecido como Quino, publicou as primeiras tiras com a personagem Mafalda no dia 29 de setembro de 1964, na revista argentina Primera Plana.

estréia de Mafalda, de Quino, em 29/09/1964, na revista Primera Planaestréia de Mafalda, de Quino, em 29/09/1964, na revista Primera Plana
Primeiras tiras de Mafalda

Mafalda era fã dos Beatles e detestava sopa. Estava sempre questionando os problemas do mundo, e sonhava ser intérprete da ONU quando crescesse.

Minha mãe tinha uma série de livros com as tirinhas, e eu cresci lendo Mafalda!
Depois, quando eu tinha uns 8 anos mais ou menos, foi lançado o livro Toda Mafalda. Eu lia toda noite antes de dormir. Muitas vezes caía no sono em cima do livro, e ele acabou ficando todo arrebentado, tadinho... mas ainda está aqui na minha estante e é muito querido!

Mais algumas ótimas tirinhas com a Mafalda:

Mafalda: quando crescer, vou trabalhar de intérprete da ONU... você promete durar até eu crescer?
Mafalda (Quino) - Vietnã
Mafalda (Quino) - presidente
Mafalda (Quino) - porque a humanidade não vai para a frente
Mafalda (Quino) - um antigo costume que está sempre na moda
Mafalda (Quino) - mudar o mundo
Mafalda: nesta família não há chefes, somos uma cooperativa

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Participando da campanha #legalizaroaborto

A hashtag #legalizaroaborto está em primeiro lugar no twitter!

Cartaz campanha pelo direito ao aborto
Eu não sou a favor do aborto, e acredito que não faria um aborto.

Mas sou a favor da legalização do aborto no início da gestação, porque milhares de mulheres morrem todos os anos em abortos clandestinos.

Sou a favor da legalização do aborto porque acho melhor um aborto no terceiro mês de gravidez do que um recém-nascido morrer de fome e frio numa lata de lixo.

Sou a favor da legalização do aborto porque, nos países em que ele foi legalizado, em geral não houve aumento no número de abortos realizados. Na maioria deles, o número de abortos vem diminuindo.

Sou a favor da legalização do aborto porque abortar não é algo prazeroso, é um momento traumático na vida de uma mulher, e acho errado que, além do trauma e risco de vida, ela ainda vá para a cadeia. Ela precisa é de apoio psicológico!

Sou a favor da legalização do aborto porque, mesmo com a criminalização, cerca de 2 milhões de abortos são realizados todos os anos no Brasil.

Sou a favor da legalização do aborto porque este número é uma estimativa; por ser ilegal e realizado na clandestinidade, não se sabe o número exato.
Como muito bem colocado na lista "Aborto: 10 razões para legalizar", "Se o aborto fosse legalizado, o governo teria oficialmente o número de abortamentos, poderia controlá- los e saberia onde tem mais ou menos abortos para tentar diminuir este número. Se o aborto é crime não se tem controle, o número de abortos não diminui, mais mulheres morrem, mais pessoas são presas e o governo não pode fazer nada para mudar isso."

E sou a favor da legalização do aborto porque, como postaram no twitter, se coroinhas engravidassem, a igreja seria a favor do aborto faz tempo. (hahaha)


O aborto já é legalizado no Canadá, em quase todo o território dos Estados Unidos, quase toda a Europa e boa parte da Ásia, além de Cuba, Cidade do México e Oceania.

Estudos sugerem que fetos humanos não sentem dor antes dos seis meses (24 semanas) de gestação.
Sim, há controvérsias - outros estudos falam que não há dor até a 29a semana, outros falam 22a semana.
Na esmagadora maioria dos países em que o aborto é legalizado, isso não faz a menor diferença, pois geralmente o aborto só é permitido até o terceiro mês de gestação.

TERCEIRO MÊS!
Aos três meses de gestação, o feto mede cerca de 5cm e sua pele é transparente.
Se você associa aborto a essas imagens de bebezinhos ensangüentados que ilustram 99,9% dos sites e cartazes anti-aborto, saiba que isso é MENTIRA e estão te manipulando!


Quem se diz contra a legalização do aborto se diz "a favor da vida".
Mas aborto legal = morte do feto; aborto ilegal = morte do feto + morte da mãe + dinheiro na mão de clínicas clandestinas.

E falam tanto dos direitos do feto; e os direitos das crianças?
Quem as defende depois que elas nasceram? E as crianças de rua, que não costumam sobreviver até a adolescência? E as crianças maltratadas por seus pais?
A criança não deve ser uma punição à mulher que transou sem proteção! Todas as crianças devem ser desejadas e amadas!

E por que é que todo mundo "a favor da vida" fala o tempo todo na responsabilidade da mãe, e ninguém fala da responsabilidade do pai???


Vamos deixar de ser hipócritas?

Eu sou a favor da vida, por isso sou a favor da legalização do aborto!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

In memoriam: Wangari Maathai

Homenagem a Wangari Maathai no site do Greenbelt Movement
Homenagem a Wangari Maathai no site do Greenbelt Movement,
fundado por ela em 1977


Wangari Maathai 1940-2011A bióloga, ambientalista, defensora dos direitos humanos, feminista e Prêmio Nobel da Paz Wangari Maathai faleceu ontem à noite, vítima de câncer.

Ela nasceu em 1940 em Nyeri, no Quênia.

Em 1960, como parte de programas relacionados com a independência do Quênia, Maathai foi um dos 300 estudantes quenianos a receber bolsas de estudos nos Estados Unidos (assim como o pai do presidente Barack Obama).
Graduou-se em biologia no Mount St. Scholastica College, no Kansas, em 1964. Cursou mestrado na Universidade de Pittsburgh, e doutorado na Alemanha (universidades de Giessen e Munique) e na Universidade de Nairóbi.

Foi a primeira mulher na África Ocidental e Central a obter o título de doutora.
Professora na Universidade de Nairóbi, tornou-se também a primeira mulher a presidir um departamento em uma universidade no Quênia.

Ela foi membro da Cruz Vermelha, tornando-se diretora da sede em Nairóbi em 1973.
Foi também diretora do Environment Liaison Centre (criado após a Conferência de Estocolmo), em 1974.

a ativista Wangari Maathai lutou contra o desmatamento no QuêniaEm 1977, Maathai fundou o Movimento Greenbelt (“Cinturão Verde”), ONG sem fins lucrativos que tem como missão "fortalecer comunidades em todo o mundo para proteger o meio ambiente e promover bons governos e culturas de paz".

O Movimento começou encorajando mulheres em áreas rurais do Quênia a plantar árvores, combater o desmatamento e restaurar a paisagem, melhorando a qualidade de vida através de acesso a água limpa, lenha, frutos e outros recursos.

Ainda em atividade, a organização já plantou mais de 40 milhões de árvores e capacitou mais de 30 mil mulheres.

“Não se pode proteger o meio ambiente a menos que se dê poder às pessoas, dê informações a elas e as ajude a entender que esses recursos são delas e que elas devem protegê-los.”

Maathai foi também uma líder no combate ao autoritarismo do regime do ex-presidente Daniel Arap Moi nas décadas de 1980 e 1990.

Por sua luta a favor do meio ambiente e da democracia e contra a corrupção em seu país, a ativista sofreu violência policial, foi presa várias vezes e recebeu ameaças de morte.

Após o advento do multipartidarismo no Quênia e a eleição de Mwai Kibaki, em 2002, ela foi eleita membro do Parlamento e se tornou secretária de Estado para o Meio Ambiente, ocupado o cargo de 2003 a 2005.
Wangari Maathai recebe o Prêmio Nobel da Paz, em 2004
Em 2004, Wangari Maathai recebeu o Prêmio Nobel da Paz por "sua contribuição ao desenvolvimento sustentável, à democracia e à paz".

Ela foi a primeira mulher africana e primeira ambientalista a receber o prêmio.

Seu trabalho inspirou a Campanha 1 Bilhão de Árvores do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), lançado em 2006.

11 milhões de árvores já foram plantadas em todo o mundo, como parte da campanha.

Wangari Maathai: a revolução das árvoresAlém do Nobel da Paz, Maathai recebeu muitas outras homenagens, como o Légion d'Honneur da França em 2006, o Prémio Nelson Mandela para a Saúde e Direitos Humanos em 2007 e a Ordem do Sol Nascente do Japão em 2009.
Ela também recebeu doutorados honoris causa de diversas universidades.

Em 2005, foi eleita como o primeiro presidente do Conselho Econômico, Social e Cultural da União Africana. No mesmo ano, foi nomeada Embaixadora da Boa Vontade para os Ecossistemas Florestais da Bacia do Congo.

Em 2009, foi nomeada mensageira da paz pela ONU.

Em 2010, tornou-se administradora da recém-criada Fundação para a Educação Ambiental da Floresta de Karura, por cuja proteção vinha lutando há décadas.

Atualmente, era membro do Conselho da Associação de Parlamentares Europeus com a África (AWEPA).

“O problema é que ainda achamos que os nossos recursos durarão para sempre. Sem elevar o nosso nível de consciência ética, não poderemos entender que esse nível de vida tão elevado para poucos em detrimento de muitos não pode seguir adiante. No meu país, o Quênia, pelo menos 10% das pessoas vivem desperdiçando recursos porque querem imitar o nível de vida do mundo rico. Os recursos não são suficientes. Os países ricos exploram os recursos naturais dos pobres, e os poucos ricos dos países pobres fazem o mesmo. A nossa forma de lutar contra a pobreza é lutar contra esta forma de hiper-consumo não apenas no mundo industrializado, mas também nos países em desenvolvimento onde lamentavelmente estamos copiando o mundo rico em detrimento do nosso povo.”
(Wangari Maathai, em entrevista realizada em outubro de 2007)

Inabalável - autobiografia de Wangari Maathai
O documentário de 2008 "Taking Root: The Vision of Wangari Maathai", dirigido por Alan Dater, conta a história desta mulher incrível.
(veja o trailer - infelizmente, sem legendas)

Um de seus livros publicados é a autobiografia Inabalável, de 2007, disponível no Submarino.

Descanse em paz, Wangari Maathai!
Obrigada por ter existido!


"Eu serei um beija-flor." (Wangari Maathai)


(postagem escrita com informações do New York Times e da Wikipedia)

domingo, 25 de setembro de 2011

Carta aberta das metroviárias de SP: Zorra Total faz apologia à violência sexual

O Sindicato dos Metroviários já havia denunciado.
Agora, as metroviárias publicaram uma carta aberta à população, denunciando quadro do programa Zorra Total que faz apologia à violência sexual.

NÃO É ENGRAÇADO!

metroviárias denunciam quadro misógino do programa Zorra Total(Vi no Maria da Penha Neles, que pegou do Contexto Livre. Vamos espalhar!)

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Código Florestal aprovado na CCJ sem resolver problemas de constitucionalidade

motosserraA Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado aprovou, na última quarta-feira (Dia da Árvore, coincidência infeliz), a reforma no Código Florestal.

Senadores de vários partidos (PT, PSDB, PDT, PRB, PSOL, PSB e até DEM) questionaram vários pontos do projeto, e levantaram dúvidas quanto à constitucionalidade de diversos aspectos.

Ainda assim, e apesar de terem sido apresentadas 96 emendas, a maioria deu um “voto de confiança” ao Relator Luiz Henrique (PMDB/SC; o mesmo que, quando governador de Santa Catarina, sancionou uma lei ambiental inconstitucional - leia sobre essa lei aqui, aqui e aqui), e concordou que todas as questões, inclusive de caráter jurídico, serão discutidas e votadas nas outras comissões.
(Para quê, então, os projetos passam pela CCJ??)

O projeto anda deve passar por mais três comissões (Agricultura, Ciência e Tecnologia e Meio Ambiente) antes de ir a plenário.

A bancada ruralista quer que a reforma seja aprovada no Senado até outubro.
Senadores dessa bancada são maioria nas três comissões.


Recomendo a leitura do artigo "Código Florestal é aprovado sem resolver principais problemas de constitucionalidade", de Julio Cezar Garcia, publicado dia 22/09/2011 no site do Instituto Socioambiental.


Ajude a divulgar a campanha #florestafazadiferenca e assine o abaixo-assinado!
Não custa nada!

Você também pode imprimir o abaixo-assinado e coletar assinaturas de seus amigos, parentes, vizinhos, colegas...

o ator Wagner Moura apóia a campanha #florestafazadiferenca em defesa do Código Florestal
O ator Wagner Moura apóia a campanha #florestafazadiferenca

o músico e poeta Arnaldo Antunes apóia a campanha #florestafazadiferenca em defesa do Código Florestal
O músico e poeta Arnaldo Antunes apóia a campanha #florestafazadiferenca

o ator Victor Fasano apóia a campanha #florestafazadiferenca em defesa do Código Florestal
O ator Victor Fasano apóia a campanha #florestafazadiferenca

campanha #florestafazadiferença
Participe!


quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Dia Mundial Sem Carro

Hoje é o Dia Mundial Sem Carro!

Dia Mundial Sem Carro - 22 de setembro
E que tal adotar um dia por semana como Dia Sem Carro?
Um pequeno gesto que pode trazer grandes benefícios para você e para a sua cidade!

Veja minha postagem com 10 bons motivos para NÃO ter um carro.

E sábado tem manifestação na Paulista pelo Plano de Mobilidade Sustentável!
Bora?
A concentração é às 15hs, no vão do MASP.
Mais informações
Evento no Facebook

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Um brinde à Paz Mundial!

logo oficial do Dia Internacional da Paz - International Peace Day21 de setembro é o Dia Internacional da Paz.

O Dia da Paz foi declarado pela ONU em 1981 na terceira terça-feira do mês de setembro, para coincidir com a abertura da Assembléia Geral (na qual nossa Presidenta fará o discurso de abertura), portanto está comemorando 30 anos.

Em 2001, a Assembléia Geral declarou a data 21 de Setembro como oficial e permanente, e uma resolução foi aprovada com unanimidade fixando a data e declarando-a um dia de cessar-fogo global.

Desde então, o Dia da Paz vem ganhando destaque e é marcado por eventos em todo o planeta, como manifestações e shows.
Mas vai muito além disso.

É um dia de ações concretas pela paz.
Em muitas zonas de conflito, as pessoas reconhecem e respeitam o cessar-fogo de 24 horas no dia 21 de setembro.

A Organização Mundial da Saúde e a UNICEF aproveitam a data para levar tratamento de saúde e campanhas de imunização a regiões usualmente inacessíveis.
Graças ao cessar-fogo, 1.5 milhão de crianças em áreas vulneráveis do Afeganistão foram imunizadas contra doenças como pólio, meningite, tuberculose, sarampo, difteria e tétano.

Veja algumas imagens do Dia da Paz de 2009, da página International Day of Peace no Facebook:

Dia da Paz 2009 - Estados Unidos
Alunos, professores e funcionários da Reed Intermediate School, Newtown, Estados Unidos
(Bee Photo, Hicks)

Dia da Paz 2009 - Havana, Cuba
Cerca de um milhão de pessoas assistiram ao show Paz Sin Fronteras na Plaza de la Revolución em Havana, Cuba
(Foto de Ismael Farncisco/AFP/Getty Images)

Dia da Paz 2009 - Matadi, República Democrática do Congo
Esportes e manifestações culturais reuniram milhares na cidade de Matadi, República Democrática do Congo

Dia da Paz 2009 - monges budistas no Cambodja
Monges budistas em cerimônia no Cambodja
(AP Photo/Heng Sinith)

Dia da Paz 2009 - Austrália
Outro sinal da paz, em New South Wales, Australia


Nós construímos a violência, cada vez que brigamos com um colega, xingamos alguém no trânsito ou fechamos os olhos para as necessidades dos outros.
Do mesmo modo, podemos construir a paz.

Vamos criar um mundo sem violência?


"Imagine se existisse um dia
no qual as lutas cessassem;
no qual a paz e a não-violência dominassem a Terra;
no qual feridas fossem curadas;
no qual o mundo aprendesse a se unir
ao invés de matar.
Existe!
Dia da Paz
21 de Setembro
O que você fará pela paz no dia 21 de setembro?"
(da organização Peace Onde Day)

E um clipe simpático do cantor e ex-criança-soldado Emmanuel Jal, do Sudão do Sul, com a participação de Alicia Keys, Peter Gabriel, George Clooney, Kofi Annan, Jimmy Carter, Richard Branson e Fernando Henrique Cardoso (WTF?!?):



*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*
21 de setembro também é o Dia da Árvore (que tal comemorar o Dia da Paz plantando uma árvore?) e o Dia Nacional de Luta das Pessoas Deficientes.
Estou vendo na internet que várias prefeituras e secretarias prepararam eventos especiais para homenagear os portadores de deficiências, como a inauguração da primeira praça paradesportiva do Estado de São Paulo, exibição de filmes com autodescrição e desfile de moda inclusiva (veja a programação para São Paulo).
Tudo muito lindo, mas que tal lembrar que eles existem durante os outros 364 dias do ano também?
Por que ninguém toma uma atitude para, por exemplo, tornar as calçadas mais transitáveis?

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Semana da Mobilidade

22 de setembro é o Dia Mundial Sem Carro, e a semana do dia 16 ao 24 é a Semana da Mobilidade.

Semana da Mobilidade 2011 - descubra uma cidade melhor
Segue a programação da semana (de acordo com compilações do IDEC e do Vá de Bike) para a cidade de São Paulo, que precisa urgentemente acordar para o problema da mobilidade urbana.
É tudo gratuito!
(Não está em São Paulo? É só entrar no Google e procurar eventos mais perto de você! Eles estão rolando no mundo inteiro!)
16/9 - Sexta:
Seminário "A mobilidade urbana e os modais não motorizados - pedestres/ciclistas"
(Rede Nossa São Paulo)
Das 9h30 às 12h30 no Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo – Viaduto Jacareí, 100, 8º andar, Bela Vista.
Mais informações

16/09 - Sexta:
Vaga Viva noturna no Baixo da Augusta
(Matilha Cultural)
A partir das 22hs na Rua Augusta, altura 584, 591 e 822, Centro.
Mais informações

16/09 - Sexta:
Contagem de Ciclistas na Av. Paulista
(Ciclocidade)
Das 6hs às 20hs - Ação para estimar o uso da bicicleta como meio de transporte no ambiente urbano.
Mais informações

17/09 – Sábado:
Oficinas de Bicicleta Casa do Zezinho
(Casa do Zezinho)
Mais informações

17/09 e 18/09 – Sábado e Domingo:
Virada Esportiva

Saída do Parque das Bicicletas às 20hs e término às 4hs da manhã.
Mais informações

18/09 - Domingo:
Flash Mob no Metrô: Pijamas day
(Youth for Public Transport)
O evento ocorrerá em Brasília, São Paulo, Salvador e mais 18 cidades no mundo, simultaneamente, às 14hs.
Mais informações

18/09 - Domingo:
Passeio Ciclístico nos Parques

Saída do Parque do Nabuco às 9hs.
Mais informações

18/09 – Domingo:
Mão na Roda Itinerante no BiciMobi
(Movimento Boa Praça)
A ciclo oficina comunitária Mão na Roda armará sua bancada itinerante na Praça Amadeu Decome, Lapa, das 10hs às 15hs.
Mais informações

20/09 – Terça:
Desafio Intermodal de São Paulo
(Instituto Ciclo BR)
Saída às 18hs da Praça General Gentil Falcão (Av. L.C.Berrini) e chegada no prédio da Prefeitura de São Paulo, no Viaduto do Chá.
Mais informações: faragonez@gmail.com

21/09 - Quarta:
Audiência pública sobre a Lei das Ciclovias (PL 655/2009)

às 10h30 na Comissão de Política Urbana da Câmara Municipal de São Paulo - Viaduto Jacareí, 100, 1º andar, Sala Prestes Maia (Plenarinho)
Mais informações

21/09 - Quarta:
Oficina de Arte para a Passeata "A Cidade é Nossa!"
(Idec)
Das 17hs às 19hs - oficina de andomóveis e materiais para adornar a Passeata de sábado.
Mais informações

21/09 - Quarta:
Lançamento da Pesquisa Nossa São Paulo / Ibope sobre Mobilidade Urbana
(Rede Nossa São Paulo)
Das 10hs às 12h30, Salão Nobre da Câmara Municipal de São Paulo.
Inscrições pelo e-mail andrea@isps.org.br
Mais informações

22/09 - Quinta:
Dia Mundial Sem Carro

O dia todo! Deixe o carro em casa e incentive seus amigos e familiares a fazerem o mesmo!

transporte sustentável - Dia Mundial Sem Carro
22/09 - Quinta:
Café da manhã
(Ciclocidade)
Para quem passar de bicicleta na Praça do Ciclista, a partir das 7h30.

22/09 - Quinta:
Vaga Viva na Rua Padre João Manoel
(Rede Nossa São Paulo)
Das 7hs às 19hs, Rua Padre João Manoel, esquina com a Av. Paulista, ao lado do Conjunto Nacional.
Mais informações

22/09 - Quinta:
1º evento de consumo colaborativo e transporte compartilhado do Brasil
(Caronetas)
Das 9hs às 18hs, no auditório do Cenesp - Centro Empresarial de São Paulo.
Mais informações e programação

22/09 - Quinta:
Bicicletada especial

A partir das 18hs na Praça d@ Ciclista

22/09 - Quinta:
Cinema de Bicicleta Casa do Zezinho
(Casa do Zezinho)
Cine-debate especial “O Caminho das Nuvens”, filme com Wagner Moura e Cláudia Abreu, a partir das 19hs.
Mais informações

23/09 – Sexta:
Ciclocine
(Ciclocidade)
A partir das 19hs. Exibição de curtas e um longa metragem no Museu da Imagem e do Som (MIS).
Mais informações

24/09 – Sábado:
Passeata pelo Plano de Mobilidade de São Paulo

Concentração às 15hs no vão do MASP, com saída prevista para as 16hs.
Mais informações
Evento no Facebook

poster - passeata pelo Plano de Mobilidade Sustentável de São Paulo
24/09 - Sábado:
Oficina de Bicicleta da Casa do Zezinho + Bicicletada de encerramento
(Casa do Zezinho)
Local de concentração: Campo do Astro – Rua Manuel Bordalo Pinheiro – Pq Sto. Antonio
*Depois da bicicletada, a Casa do Zezinho vai doar um bicicletário comunitário com bikes doadas e restauradas pelos próprios “Zezinhos” (integrantes do projeto)
Mais informações

24/09 – Sábado:
Ciclocine 2
(Ciclocidade)
A partir das 19hs, exibição de curtas e um longa metragem no Museu da Imagem e do Som (MIS).
Mais informações

Semana da Mobilidade 2011 - São Paulo pode
Semana da Mobilidade 2011 - São Paulo pode
Semana da Mobilidade 2011 - São Paulo pode

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Poses

Achei o link para o documentário "Poses", de Yolanda Domínguez, no Escreva, Lola, Escreva, e achei hilário.

Este curta-metragem coloca mulheres comuns imitando poses de modelos em meio a cenas cotidianas, para "criticar o absurdo e artificial do mundo do glamour e da moda que nos vendem as revistas, em concreto a imagem distorcida que difundem da mulher através de modelos que não representam as mulheres reais" (descrição no youtube).

Curto, simples e ótimo.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

11 de setembro: 38 anos

Pouco depois dos atentados terroristas em Nova York, 11 cineastas de vários países foram convidados para realizar curtas sobre o acontecimento, que integram o filme 11 de Setembro.

Esta foi a contribuição do britânico Ken Loach:



Neste 11 de Setembro, o mundo lembra os Estados Unidos.
Os Estados Unidos se lembram do resto do mundo?

Palestina: hora de ser ou não ser

Da redação Carta Capital, 9 de setembro de 2011:
O presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas, deve ir à ONU pedir o reconhecimento e a admissão do Estado Palestino pela Assembleia Geral, a ser aberta em 19 de setembro. Hillary Clinton quis dissuadi-lo por telefone, sem sucesso. A Palestina já é reconhecida por 125 países, precisa de 129 votos e espera conseguir apoio de 140 dos 193 integrantes da ONU. Israel diz ter certeza de apenas cinco votos contrários, além do seu: EUA, Alemanha, Itália, Holanda e República Tcheca.

Em represália, a presidenta republicana da Comissão de Relações Exteriores da Câmara, Ileana Ros-Lehtinen, apresentou projeto de lei que corta pelo menos metade dos recursos dos EUA para a ONU, que chama de “organização antissemita”. Sob pressão do lobby sionista e de Israel, a subsecretária de Estado de Obama, Wendy Sherman, anunciou que os EUA vetarão a admissão da Palestina na ONU. Isso custará caro às relações de Washington com o mundo árabe e não impede o reconhecimento formal e suas consequências legais e políticas.

Como Estado não membro, mas reconhecido pela ONU (como é o caso do Vaticano), a Palestina poderá assinar tratados internacionais patrocinados pela organização, inclusive o Tratado de Roma, que criou a Corte Penal Internacional. E então processar Israel em Haia por crimes de guerra, inclusive a transferência forçada de populações e a criação de assentamentos judeus em suas terras desde o início da ocupação.

mapa: países que reconhecem o Estado da Palestina
Países que já reconhecem o Estado Palestino

Uma visão realista sobre a crise na Somália

Artigo do Dr. Unni Karunakara, presidente internacional dos Médicos Sem Fronteiras
Doutor Unni Karunakara, presidente internacional de Médicos Sem Fronteiras,<br />visita o hospital de MSF em Galcayo, cidade da Somália
Doutor Unni Karunakara, presidente internacional de Médicos Sem Fronteiras,
visita o hospital de MSF em Galcayo, cidade da Somália.
Foto de Sven Torfinn

5 de setembro de 2011 - A emergência atual na Somália e nos países vizinhos está sendo descrita por muitas organizações de ajuda humanitária e pela mídia em termos simplistas, como "fome no Chifre da África" ou "pior seca dos últimos 60 anos". Mas culpar apenas causas naturais é ignorar a complexa realidade geopolítica que contribui para essa situação e sugerir que a solução para tais problemas se resume apenas a arrecadar fundos e enviar alimentos para o Chifre da África. Infelizmente, esconder as causas humanas para a fome na região e as dificuldades na resposta à crise não vai ajudar a resolver os problemas.

Acabo de retornar do Quênia e da Somália e o que eu e meus colegas de Médicos Sem Fronteiras (MSF) vimos naqueles países foi uma situação profundamente perturbadora. Em Mogadíscio, conheci uma jovem da região de Lower Shebelle, no sul do país, que agora vive em um dos acampamentos improvisados que se multiplicam pela cidade. Ela deixou sua casa com o marido e seus sete filhos após uma colheita muito ruim, e porque não tinha dinheiro para comprar água e alimentos. Durante sua jornada, ela teve que deixar seu marido e três de seus filhos para trás, pois eles estavam muito fracos para completar a viagem de cinco dias até a capital. É triste perceber que a história dela reflete a de outras milhares de famílias nas regiões central e sul da Somália, que foram devastadas por anos de conflito e que chegaram ao seu limite com a seca.

A desnutrição é crônica em muitas áreas do Chifre da África, e é preciso que haja um esforço internacional de longo prazo para garantir que alimentos cheguem às pessoas que mais precisam deles. Hoje, no entanto, as necessidades mais urgentes estão concentradas nas regiões central e sul da Somália. E mesmo não conhecendo o panorama em todo o país, nós sabemos que a situação é crítica devido à enorme quantidade de somalis que chegam, fracos e exaustos, na capital, Mogadíscio, e em acampamentos no Quênia e na Somália.

As colheitas fracas exacerbaram uma situação que já era catastrófica. A Somália é o palco de uma guerra brutal entre o Governo de Transição, que recebe o apoio das nações ocidentais e é guardado pelas tropas da União Africana, e grupos armados de oposição, com destaque para o Al-Shabaab. Em um cenário político fracassado, essa guerra, combinada com as mortíferas rivalidades de diversos clãs no país, impediu que a ajuda humanitária internacional independente chegasse a várias comunidades. A população somali está encurralada, no meio de múltiplas forças que, seja por motivos políticos ou para enfraquecer seus oponentes, privam as pessoas de receber assistência. O acesso a cuidados de saúde é praticamente inexistente em grande parte do país.

Em meio a esse cenário, onde muitos interesses estão em jogo, é difícil para uma organização de ajuda médico-humanitária como MSF expandir a oferta de cuidados de saúde e realizar ações de impacto. MSF está trabalhando na Somália há duas décadas e tem projetos em nove locais, que estão sob domínio de diferentes lados do conflito – Governo de Transição e Al-Shabaab. Nós estamos fazendo o máximo possível para aumentar nossa presença no país e responder às crescentes necessidades. Já existem mais de 8 mil crianças com desnutrição aguda em nossos programas nutricionais no país, e muitas delas não estão sofrendo apenas de desnutrição. As quatro crianças que saíram de Lower Shebelle que conheci também estão com sarampo, além de desnutridas. Elas vivem com a mãe e com milhares de deslocados em acampamentos superlotados, sem condições sanitárias. Outras pessoas nesses campos reclamam de infecções nos olhos e na pele, e há ainda aquelas que estão fracas demais até para procurar alimentos ou cuidados médicos.

Em campos de refugiados no Quênia e na Etiópia, nós conseguimos oferecer ajuda médica e nutricional para dezenas de milhares de pessoas. Mas expandir as nossas atividades na Somália é um processo lento e difícil. MSF é constantemente forçada a fazer duras escolhas na hora de implementar ou aumentar suas atividades no país. E se não pudermos fazer avaliações independentes e oferecer assistência em áreas que acreditamos que estão mais afetadas, não seremos capazes de prevenir as piores conseqüências desta emergência.

A ajuda humanitária é vista no país, por todas as partes em conflito, como uma oportunidade ou uma ameaça. Em áreas consideradas como o centro desta crise, o Al-Shabaab, que já suspeita de interesses ocidentais no país, decretou a proibição da entrada de equipes internacionais, do envio aéreo de materiais e suprimentos médicos e da realização de campanhas de vacinação. Nem mesmo a suspensão temporária das restrições aos Estados Unidos na oferta de ajuda em certas áreas controladas pelo Al-Shabaab deve melhorar o acesso a cuidados de saúde. Em outros locais, a necessidade de conduzir intermináveis negociações para realizar procedimentos simples, como contratar uma enfermeira ou alugar um carro, toma grande parte de um tempo precioso, que poderia estar sendo empregado na resposta rápida que o país precisa.

A realidade da oferta de ajuda humanitária na Somália é a pior possível. Nossas equipes correm constantemente o risco de levarem tiros ou serem raptados enquanto tentam dar assistência médica fundamental para a população no país. Apesar de nossas constantes negociações com todas as partes do conflito para ganhar acesso a novas regiões, nós talvez tenhamos que nos conformar com a triste realidade de que não conseguiremos chegar até as comunidades que mais precisam de ajuda. Ou que teremos que comprometer parcialmente nossa independência quando finalmente conseguirmos chegar a elas.

É em meio a esse clima hostil que slogans como "Fome no Chifre da África" estão sendo utilizados com o objetivo de arrecadar grandes somas em dinheiro para enviar alimentos e outros suprimentos à região. Mas eu estou preocupado com o passo seguinte: levar assistência e suprimentos dos portos de Mogadishu às pessoas que necessitam deles urgentemente. A menos que todas as partes envolvidas no conflito removam as barreiras que separam organizações que podem salvar vidas das pessoas que dependem delas para sua sobrevivência, milhares de mortes que poderiam ser evitadas continuarão ocorrendo.

Fome na Somália: ajude agora - Médicos sem Fronteiras
Clique aqui para apoiar a missão dos MSF na Somália

sábado, 3 de setembro de 2011

O crédito desmatamento

Felipe Milanez para a Carta Capital, 29 de agosto de 2011
Na amazônia, a expansão da fronteira agrícola criou o marco geo-gráfico do “Arco do Desmatamento”. É lá que avança a substituição da cobertura florestal pela produção agropecuária. Um processo caro que exige enormes somas de financiamento. E o pior: na sua maioria, o dinheiro tem saído dos cofres de bancos públicos. É o que aponta estudo inédito do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), coordenado pelo pesquisador Paulo Barreto e obtido com exclusividade por CartaCapital.

desmatamento na Amazônia - foto de Rogério Assis/Fotosite
Empréstimos, principalmente públicos, sustentam a devastação.
Foto: Rogério Assis/Fotosite

Segundo o levantamento, os dados do Banco Central mostram o aumento espetacular do crédito rural no bioma Amazônia entre 1997 e 2009, apesar de algumas oscilações. Nesse período, foram concedidos cerca de 35 bilhões de reais por meio de, aproximadamente, 2 milhões de contratos. No restante da Amazônia Legal fora do bioma, foram emprestados outros 43 bilhões de reais em 1,25 milhão de contratos. Os pesquisadores ressaltam que a queda do volume de crédito entre 2005 e 2008 coincidiu com a baixa dos preços do gado e da soja. A redução não teria, portanto, relação direta com a mudança da política de crédito adotada pelo governo federal para tentar diminuir o desmatamento, mas com uma contingência econômica. “Análises recentes mostram que o crédito rural estimula o desmatamento na Amazônia, apesar de as regras proibirem o crédito para a derrubada de florestas”, escrevem os pesquisadores. “O crédito amplia o desmatamento por causa do subsídio para as atividades agropecuárias e falhas de controle dos próprios bancos e órgãos ambientais.”

Nos anos 1970 e 1980, quando se iniciou o projeto de ocupação da Amazônia, o principal financiador do desmatamento era o próprio Estado. Pressões à época levaram à suspensão da política do financiamento direto da devastação e, em 1991, as instituições federais comprometeram-se a exigir dos clientes o cumprimento de leis ambientais por meio do Protocolo Verde. Após 1992, o compromisso com sustentabilidade passou a fazer parte dos manuais de responsabilidade socioambiental do setor financeiro, especialmente as regras do Protocolo do Equador. Acontece que, mostra o Imazon, persistiu a “correlação entre crédito rural e desmatamento na Amazônia na última década”.

Para tentar conter a fonte financeira da destruição da floresta, em fevereiro de 2008 o Conselho Monetário Nacional (CNM) publicou a Resolução 3.545, que passou a exigir comprovantes de regularidade ambiental para a concessão de crédito rural no bioma da Amazônia. A medida teve, até agora, pouco sucesso. A torneira do financiamento continuou aberta, segundo Barreto. O estudo afirma que o crédito influencia o desmatamento tanto pelo volume de recursos e contratos concedidos quanto pelo perfil das atividades financiadas. A maioria dos recursos liberados pelos bancos estimulou atividades agropecuárias associadas ao desmatamento.

A pecuária, que ocupa, aproximadamente, 75% das áreas desmatadas da região, recebeu 13,6 bilhões de reais, ou 39% do total financiado, entre 1997 e 2009. Um exemplo recente é o caso ocorrido em 16 de julho, quando foi assinado um compromisso entre o Banco do Brasil, o Banco da Amazônia e o governo do estado de Rondônia para a liberação de 440 milhões aos pecuaristas. O financiamento teria por objetivo fortalecer a cadeia do leite, a agroindustrialização e a recuperação de pastagens. Mas não foram estabelecidos compromissos para reflorestar áreas desmatadas.

Desmatamento na Amazônia: Em várias áreas, as placas anunciam grandes obras industriais. Foto de Felipe MilanezUm dos casos mais graves de financiamento seria o crédito a criadores de gado cujas propriedades estão localizadas na região da chamada “terra do meio”, próximo ao Rio Xingu. Só em 2010, foram devastados mais de 14 mil hectares da Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu, região de preservação que registrou o mais alto nível de desmatamento no Brasil (25% destruídos). Na falta de um “plano de manejo” da área, onde é possível ter propriedades individuais, os pecua-ristas fazem desmatamentos irregulares. Mesmo assim, aponta Barreto, conseguem crédito para financiar a pecuária. Dinheiro para comprar gado, por exemplo, cujo pasto está localizado em área desmatada. Ainda que o dinheiro não seja usado diretamente para o desmatamento, destina-se ao produto dessa devastação.

O estudo indica que o crédito subsidiado tende a aumentar as atividades financiadas mais do que ocorreria sem subsídio e pode estimular indiretamente o desmatamento. Um exemplo dado pelo Imazon é de um fazendeiro que pode desmatar novas áreas com capital próprio, pois sabe que obterá bons rendimentos com o crédito para comprar o rebanho. Na Transamazônica, pequenos produtores em assentamentos rurais desmataram mais do que aqueles fora dos assentamentos e sem crédito.

Ao mesmo tempo, falta dinheiro para o trabalho com a floresta. “O crédito para o setor florestal (reflorestamento e manejo de florestas nativas) somou apenas 0,8% do total ou 284 milhões de reais. Portanto, o enorme valor dos recursos subsidiados e a predominância do apoio à agropecuária indicam um forte potencial de estimular o desmatamento legal ou ilegalmente”, anotam os pesquisadores do Imazon.

É o que ocorre, por exemplo, no assentamento agroextrativista Praia Alta Piranheira, ao sul do Pará, na cidade de Nova Ipixuna. Foi lá que, em 24 de maio, foram assassinados José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo. Em um projeto cuja destinação é agroextrativista, atividades agropecuárias são toleradas, desde que não ultrapassem 20% da propriedade. Acontece que, na parte financeira, é só esse ramo, e não o florestal ou o extrativismo, a receber subsídios.

José Maria Gomes Sampaio, o Zé Rondon, cunhado de Maria, reclama da falta de incentivo à atividade florestal. Quando quis transformar parte da mata em pastagem e criar um pouco de gado para leite, dentro da área permitida, Zé Rondon conseguiu crédito do Pronaf no Banco da Amazônia. Foram 14 mil reais, dinheiro que, diz ele, “foi direto para pagar o trator e a compra do gado”. Mas em todas as tentativas de financiar a coleta de castanha, de andiroba e outros produtos florestais, e investir em equipamentos para extração dos óleos que agregariam valor ao extrativismo, não teve o mesmo sucesso. “Para trabalhar com a floresta, nunca consegui um tostão. Nem para fazer um plano de manejo. Dinheiro, só para mexer com gado.”

No mesmo assentamento, mantém-se a produção ilegal de carvão vegetal de mata nativa, destinado ao polo siderúrgico de Carajás. Mesmo que consumam carvão sem origem comprovada, Oduval Lobato Neto, gerente-executivo- do Banco da Amazônia, admite que o banco financia seis usinas produtoras de ferro-gusa. Segundo ele, todos os projetos contratados estão em conformidade com a sua política socioambiental e a legislação ambiental vigente. Embora quatro usinas financiadas pela instituição tenham sido fechadas em razão de multas ambientais, e duas, a Cosipar e a Sidepar, em atividade, tenham recebidos notificações recentes por causa do consumo de carvão ilegal, irregularidade pela qual são processadas pelo Ibama. Todas as guseiras estão em negociação com o Ministério Público Federal, em Marabá, para assinar um termo de ajustamento de conduta. O MPF chegou a ingressar com ações no início do ano contra o Banco do Brasil e o Banco da Amazônia. “O sistema financeiro precisa assumir a sua responsabilidade”, afirma o procurador Ubiratan Cazetta.

Segundo a procuradoria, o dinheiro público tem sido utilizado para financiar o desmatamento. “Desvendou-se, de forma factual, que as propagandas de serviços e linhas de crédito que abusam dos termos ‘responsabilidade socioambiental’ e ‘sustentabilidade’ não retratam essa realidade nas operações de concessão desses financiamentos a diversos empreendimentos situados na Amazônia, que em sua maioria são subsidiados com recursos dos Fundos Constitucionais de Desenvolvimento e de outras fontes da União”, anota o Ministério Público nas ações. A ação tinha o objetivo de impedir que os bancos emprestassem a produtores irregulares.

O Banco do Brasil, que assumiu algumas falhas, informa ter tomado providências. Uma regulamentação interna estabeleceu uma medida que o diretor de crédito, Walter Malieni Jr., chama de “segregação”: a agência local não avalia créditos acima de 800 mil reais. Valores altos devem ser analisados por outras agências. Isso- impede, explica Malieni, a -pressão sobre o gerente. “O processo fica mais longo, aumenta o prazo de desembolso.” Outra medida, diz o executivo, visa- evitar empréstimos concedidos por agências da base domiciliar de empresas e pessoas físicas fora do bioma. Seria um modo indireto de financiar- -atividades na Amazônia.

Do total de crédito concedido na Amazônia pelo BB em 2011, 49% financiou a agricultura, enquanto cerca de 30% foi destinado ao Pronaf e 21% à pecuária. Malieni afirma que, neste ano, 23% dos 2.085 pedidos de crédito foram devolvidos.

Já o Banco da Amazônia contestou a ação proposta pelo Ministério Público. O banco nem tomou novas medidas de proteção ao sistema de crédito nem sofreu condenação judicial pelas práticas. O principal foco de financiamento do Banco da Amazônia é a agricultura familiar, responsável 74,4% de suas operações.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Classe C gasta mais para alimentar o carro do que para alimentar a família

gasto com combustível - Classe C vai gastar mais para alimentar o carro do que para alimentar a família
Não é novidade que carros e motos são prioridade de consumo da classe média.

Mas eu achei chocante o cálculo, feito por Lincoln Paiva no blog Mobilidade Sustentável, que mostra que a Classe C gastaria mais para alimentar um carro do que para alimentar a família e, se carro foi financiado, o comprometimento poderia representar quase 70% da sua renda:

"Vamos imaginar que a média de consumo de combustível de um carro popular seja 12 km/ litro de gasolina dentro da cidade de SP sem contar com as horas paradas no trânsito.

Uma pessoa que circula 20 km por dia apenas para trabalhar vai percorrer 4.800 km por ano e vai desembolsar cerca de R$ 1.000,00 apenas com combustível.

Se somarmos outras despesas de um carro popular zero km, vamos ter mais ou menos os seguintes gastos por ano, sem contar custos de manutenção e aumento do combustível.

1.000,00 gasolina
1.500,00 seguro
2.400,00 estacionamento
1.200,00 IPVA

Chegaríamos a um custo de R$ 508,00 por mês para alimentar o carro, quase que um salário mínimo (R$ 545,00)"

Uau.

E uma pesquisa Ibope divulgada em outubro de 2010 revelava que cerca de 30% das pessoas da Classe C planejavam comprar um carro até fevereiro de 2011.


*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*
Em tempo: está tramitando no senado um projeto de lei (38/2011) que obriga a divulgação de índices de poluição dos veículos.
Apóie!
#QueroArLimpo
advertência - carro

Você tem algum distúrbio de personalidade?

Faça o teste.
(mas não leve muito a sério; é só mais um teste de internet)

Eu descobri o que eu já sabia: I'm a loner.

resultado do teste de distúrbios de personalidade
O resultado do meu teste para distúrbios de personalidade

Gostaria de ter conhecido isso antes...
Todas as vezes que me perguntaram por que eu falo pouco ou não tenho namorado ou não quis ir à festa, eu podia ter respondido que tenho transtorno de personalidade esquizóide.
Talvez reduzisse a pressão.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Guitarras Gibson com madeira ilegal?

modelos famosos de guitarra da marca Gibson: Les Paul, SG e Flying V
Sonho de consumo de muita gente (eu, inclusive!), guitarras famosas como a Les Paul e a SG podem ser fabricadas com madeira de origem ilegal.

A empresa nega (claro!), e muitos fãs falam em conspiração política (o presidente da Gibson apóia políticos do Partido Republicano) ou "dicas anônimas" falsas da concorrente Fender, mas na semana passada agentes federais apreenderam guitarras, pedaços de madeira e arquivos digitais em fábricas da Gibson nas cidades de Memphis e Nashville.
A empresa está sob suspeita de importar ilegalmente ébano indiano.


O mandado de busca alegava que 1250 peças de ébano indiano, que entraram nos EUA pelo aeroporto de Dallas no dia 22 de junho, foram importados ilegalmente, pois a Índia não permite a exportação da madeira (informações do jornal The Australian).

Em nota oficial à imprensa, a Gibson afirma que as acusações são baseadas numa interpretação errada da lei indiana - a mesma madeira seria legal se utilizada por trabalhadores indianos, mas ilegal se utilizada por americanos, segundo a interpretação.
A nota afirma, também, que a madeira apreendida é certificada pelo Forest Stewardship Council.

Segundo o blog Contraversão, o presidente da Gibson, Henry Juszkiewicz, disse em uma coletiva que a empresa é objeto de investigações injustas, que não houve acusações formais e que as autoridades não revelaram o que procuravam nas buscas realizadas no dia 24 de agosto.
Juszkiewicz disse, ainda, que a empresa toma precauções para assegurar a importação legal da madeira.


As guitarras Gibson são feitas com madeiras nobres de espécies em risco de extinção, como o mogno e o jacarandá.

Em 2009, já haviam sido feitas apreensões, com a alegação de que a empresa havia comprado jacarandá ilegalmente de Madagascar. Também não foram feitas acusações formais, até hoje.
Segundo a empresa, a madeira foi adquirida legalmente.

Consta que o mogno usado nas guitarras é todo de madeira de reflorestamento, oriundo de países da América Central.
Será que dá pra confiar?

"Pacote de bondades" pré-eleitoral de Kassab

Julia Duailibi para o Estadão, 31 de agosto de 2011
Kassab cria agenda positiva rumo a 2012

Desgastado pelas articulações para criar o PSD, prefeito vai abrir o cofre municipal e lançar medidas de impacto, como fez na campanha de 2008

o prefeito de São Paulo Gilberto Kassab fazendo o sinal da vitória
Orientado por pesquisas de opinião pública, o prefeito paulistano Gilberto Kassab criou uma agenda positiva de governo, principal aposta para recuperar a popularidade na capital paulista, desgastada pela tentativa de viabilizar o seu novo partido, o PSD.

No último mês, Kassab lançou iniciativas de repercussão, algumas com impacto direto no bolso do eleitor. Com R$ 7,1 bilhões em caixa, pretende promover tradicionais investimentos de ano eleitoral, como recapeamento e plantio de flores. Para a oposição e entidade de acompanhamento das gestões municipais, trata-se de maquiagem eleitoral.

Kassab confirmou ontem que quer diminuir a taxa de inspeção veicular, de R$ 61,98 para R$ 49,30, conforme antecipou o Estado. Disse ser "justo" o valor de R$ 49,30. Em janeiro, no entanto, o valor foi reajustado de R$ 56,44 para os R$ 61,98. O prefeito quer viabilizar neste ano projeto do PT que cria bolsa de R$ 272 a 147 mil famílias sem vaga em creche da rede pública.

Nesta semana, ainda na esteira das ações positivas, acatou recomendação de aliados e vetou a criação do Dia do Orgulho Hétero e surfou na ação da Corregedoria Municipal que descobriu fraudes de R$ 50 milhões promovidas por construtoras.

Para emplacar seu candidato em 2012 - a aposta hoje é o secretário do Verde e do Meio Ambiente, Eduardo Jorge -, Kassab tem de melhorar a avaliação do governo. Pesquisas internas apontam um terço de bom e ótimo e um quarto de ruim e péssimo. E o eleitor que o elegeu - paulistano do centro expandido da cidade e, no geral, antipetista - mostra má vontade. Avalia que o prefeito trocou a capital pela política.

As ações de "ordenamento" buscam esse eleitorado. O projeto de maior interesse do governo na Câmara Municipal é o do mobiliário urbano, que concede a empresas a exploração publicitária em pontos de ônibus e relógios em troca de reformas.

O prefeito reedita a estratégia vitoriosa de 2008. Desconhecido do eleitor, mas com dinheiro em caixa, apostou em ações de impacto e reverteu a popularidade derrubada pelas enchentes.

"Kassab não cumpriu suas promessas e, agora, vai tentar maquiar a cidade e enganar o eleitor paulistano", diz o presidente municipal do PT, Antonio Donato.

Levantamento do Movimento Nossa São Paulo com base em dados oficiais mostra que, das 223 metas propostas para a cidade até 2012, só 35 foram cumpridas. "Há uma corrida para acelerar projetos e anunciar medidas que não são prioridade", avalia o coordenador executivo da ONG, Maurício Broinizi.

Para o vereador tucano Floriano Pesaro, "o tempo joga contra eventual uso eleitoral dos projetos". "Não dá tempo para isso."

PACOTE DE BONDADES PRÉ-ELEITORAL

Proteção ao Pedestre
Em busca de marca no segundo mandato, Kassab lançou campanha de defesa dos transeuntes

Bolsa Creche
Kassab encampou o projeto do PT que prevê bolsa de R$ 272 a mães cujos filhos não têm vaga em creches da rede pública

Inspeção Veicular
Passa de R$ 61,98 para R$ 49,30

Projeto Florir
Investimento de R$ 16 milhões para revitalizar 594 praças

Corrupção
Ação contra construtoras que causaram desvios de R$ 50 mi