quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Parece impossível: o que acontece quando se valoriza a bicicleta

Cenas filmadas na cidade de Utrecht, na Holanda.

"Hora do rush" (interessante não só pelo número de bikes, mas também por mostrar como resolver questões que parecem problemáticas, como carregar crianças pequenas):


Outro vídeo da "hora do rush", em outro local (não sei porque, mas achei muito engraçado):


Apenas imaginem como estaria o trânsito, se todas essas pessoas estivessem andando de carro! (como aqui...)

Bicicletas estacionadas (impressionante!):


Mas, e no inverno??
Não parece fazer muita diferença:


Dá pra pedalar na neve, como no vídeo acima, e também num dia de frio e chuva:


Afinal, como diz a descrição do vídeo, não somos feitos de açúcar!

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Aquecimento global é culpado por 2/3 dos recordes de chuva

área de deslizamento de terra em Teresópolis, Rio de Janeiro - 12/01/2011A culpa das centenas de mortes nas tragédias climáticas é nossa.

Somos culpados pelo descaso. Por não dar opções de moradia para as pessoas. Por não fiscalizar. Por não nos prepararmos para reduzir o impacto das chuvas e das enchentes, mesmo estando cansados de saber que elas acontecem todos os anos.

Mas mais do que isso, somos culpados pela chuva.

Trechos da reportagem Fomos nós que fizemos a chuva, publicada na seção de Ciência e Tecnologia da revista Época:
Olhar os recordes do passado não nos ajudará a nos preparar. O conjunto de gases de efeito estufa que a atividade humana está lançando na atmosfera está mudando o clima. Entre as consequências esperadas estão o aumento da frequência e a intensidade das tempestades. Na semana passada, duas pesquisas independentes mostraram, pela primeira vez, que isso já começou a acontecer em larga escala. Os estudos, publicados pela revista científica britânica Nature, devem reduzir a cautela dos cientistas em associar as tragédias recentes ao aquecimento global. E têm um efeito imediato: quem planeja construir ou reformar o que foi atingido pelas chuvas precisa considerar que as próximas tempestades poderão ser ainda mais destrutivas e mais freqüentes.

Os pesquisadores, das universidades de Edimburgo, no Reino Unido, e de Victoria, no Canadá, analisaram os recordes anuais de chuvas de 6 mil estações meteorológicas da América do Norte, Europa e Ásia durante o período de 1951 a 1999. Depois, usando dezenas de modelos diferentes de simulação do clima no computador, compararam como teria sido o comportamento da atmosfera em cada um desses lugares sem os gases de efeito estufa lançados por nós. A conclusão é que o aquecimento global gerado pela humanidade intensificou dois terços dos recordes anuais de chuva registrados pelas estações. A pesquisa não mediu qual foi o tamanho da contribuição humana para as chuvas recordes. A influência foi ainda pequena nessas cinco décadas, quando os gases começaram a se acumular na atmosfera. As maiores consequências são esperadas a partir da próxima década. Outro grupo de pesquisa, liderado por pesquisadores da Universidade de Oxford, se concentrou em um evento específico: as chuvas causaram no Reino Unido, no ano 2000, as piores enchentes desde que as medições começaram, em 1766. Segundo várias comparações com modelos de computador capazes de prever o clima para um local preciso, os cientistas concluíram que o aquecimento global aumentou entre 20% e 90% a chance de haver enchente.
(...)
Segundo a ONU, 2010 foi um dos piores anos da história em catástrofes naturais.

As tragédias e as previsões de mais alterações causadas pelo aquecimento global trazem um alerta para quem vai construir ou reformar pontes, ruas, prédios ou mesmo uma casinha na montanha. Os engenheiros costumam olhar para o histórico de chuvas da região e planejam sua obra para resistir ao pior evento que pode acontecer naquele lugar. É a chamada “chuva do século”, que cai uma vez a cada 100 ou 500 anos. Essa precaução não é mais o bastante. “O grande pressuposto é que o clima no futuro, ao longo da vida útil daquela estrutura, será o mesmo que o do passado”, disse a ÉPOCA Zuebin Zhang, um dos autores do estudo canadense. “Isso não vale mais. Os engenheiros vão precisar considerar as mudanças climáticas de agora em diante.”
(...)
No Brasil, as projeções do clima mostram que até 2050 as regiões Sul e Sudeste terão um aumento entre 10% e 30% na frequência e intensidade das chuvas. Elas serão, porém, irregulares. “O aquecimento global vai afetar o ciclo hidrológico e acelerar o processo de precipitação”, afirma José Marengo, pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). “Isso quer dizer que os 100 milímetros de chuva previstos para cair durante todo o mês numa determinada região podem cair em apenas dois dias.” Serão, portanto, chuvas muito mais fortes. Nas regiões Norte e Nordeste, o volume de chuvas pode reduzir drasticamente. “As áreas quentes do Oceano Atlântico, responsáveis pela formação de nuvens que trazem umidade para o Nordeste, mudarão de posição.”

Isso significa que obras projetadas para aguentar o grande evento climático dos séculos passados estarão expostas com frequência aos riscos de enchentes, inundações e deslizamentos de terra no futuro. Segundo um estudo do ano passado feito pelo Centro de Ciência do Sistema Terrestre do Inpe e pelo Núcleo de População da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), mais de 20% da região metropolitana da cidade de São Paulo estará sujeita a inundações ou desabamentos, caso não ocorra uma mudança no padrão de uso e ocupação do solo.


como o calor influencia as chuvas - Revista Época
Obs: a melhor cobertura que li sobre os desastres na região serrana do rio: Afogados no descaso, de Gerson Freitas Jr. e Rodrigo Martins, para a Carta Capital. Se não leu, leia!

Mudando a direção

Encontrei o vídeo abaixo no Vá de Bike.

É um contraponto ao comercial da Renault, aquele que começa dizendo que as pessoas foram "enfeitiçadas" pelo carro, num "culto à maquina". Dá a impressão que estão fazendo uma crítica a isso, e ainda mais quando dizem "mas nós escolhemos outra direção". E então reforçam tudo o que acabaram de criticar!
"Quando criamos um carro, não procuramos o brilho do metal, mas o brilho dos olhos de quem vai andar nele". Aham. O brilho nos olhos de quem vai abrir a carteira pra comprá-lo.
"Porque as pessoas gostam de se sentir bem, se sentir grandes, se sentir protegidas". Alguma diferença de qualquer outra propaganda de carro?
E de quem foi a idéia de usar a imagem da Janis Joplin? Logo ela, que zombava do "sonho americano" de ter uma TV colorida e uma Mercedes Benz...

Vamos mudar a direção de verdade?



PS: ainda não sou ciclista urbana, mas estou tomando coragem! Agora só falta a grana pra comprar uma bicicleta...

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Buffy vs. Edward Cullen

Buffy vs. Edward Cullen: a batalha do século! Quem vencerá?


Buffy, a caça-vampiros, invade Crepúsculo!
A montagem acima não é do vídeo... eu não sei quem fez, se alguém souber me avisa!




...e então Buffy empalou Edward. Fim.
Restou apenas uma pilha de glitter.


O autor da montagem, Jonathan McIntosh, escreveu um texto muito bom contando seus motivos para todo esse trabalho (muito além de pura diversão): What Would Buffy Do. Em inglês, mas vale a leitura!

Campanha contra o machismo no Equador

No Equador, foram feitos vários vídeos para a campanha contra o machismo.
Precisam fazer isso por aqui, e passar em todos os canais de televisão!









"Eu não sou machista. E daí?"

Marcha contra o preconceito!!!

marcha na avenida paulista contra o preconceito

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Quando o lucro é mais importante do que vidas

avião despejando venenoNo Simpósio Brasileiro de Saúde Ambiental (I SIBSA), evento que aconteceu em dezembro de 2010, Raquel Rigotto, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e membro do GT de Saúde e Ambiente da Abrasco, contou a experiência do núcleo de pesquisa Tramas – Trabalho, Meio Ambiente e Saúde para a sustentabilidade – coordenado por ela. O grupo acompanha, há quatro anos, os problemas da população da região da Chapada do Apodi, entre os municípios de Limoeiro do Norte e Quixeré, no Ceará, área de expansão recente da fruticultura para exportação, com grande exploração da força de trabalho e degradação ambiental.

"Quando chegamos lá, a comunidade do Tomé nos falou de um problema que era a pulverização aérea de agrotóxicos, especificamente no cultivo da banana, com fungicidas que são muito tóxicos e persistentes no meio ambiente. E essa pulverização atingia também as comunidades, já que as empresas foram instaladas justamente onde já havia muitas comunidades há muitos anos. Eles fizeram relatos de que as roupas que eles lavavam ficavam com cheiro de veneno no varal, que galinhas morriam e crianças passavam mal", relata a pesquisadora.

O Diário do Nordeste denunciou, em 2008, que os casos de câncer em Limoeiro do Norte estão muito acima da média nacional (até o ano de 2007, média aproximada de um caso de câncer para cada 300 habitantes), e houve pelo menos três mortes de trabalhadores rurais por envenenamento desde 2006.

Diante das denúncias, o grupo Tramas fez um acompanhamento da pulverização aérea em 2008 e 2009, e verificou contaminação da água da região pelos mesmos agrotóxicos pulverizados, entre outros.

peixes mortos por agrotóxico - pessoas bebem essa água!
Peixes mortos em tanque que abastece famílias com água para beber, em Limoeiro do Norte.
Agrotóxicos são a causa da mortandade.

Em novembro de 2009, graças à mobilização das comunidades, a Câmara de Vereadores de Limoeiro do Norte aprovou uma lei proibindo a pulverização aérea, dez meses depois que a União Europeia havia proibido esse tipo de pulverização.

Entretanto, as empresas reagiram fortemente, falando do prejuízo que teriam sem a pulverização, e em uma sessão realizada, segundo Raquel, "às escondidas", a Câmara de Vereadores de Limoeiro revogou a lei anterior e a pulverização aérea voltou a ser permitida na região.

José Maria Filho, líder comunitário assassinadoHidelbrando dos Santos, diretor da Fafidam-Uece, em Limoeiro, publicou no início da década um levantamento sobre a intensa concentração de terras e a conseqüente expropriação de trabalhadores, como o líder comunitário José Maria Filho, conhecido como Zé Maria do Tomé, que presidia a Associação dos Desapropriados São João.

José Maria denunciou a contaminação da água por agrotóxicos e combatia a pulverização aérea. Ele foi assassinado em 21 de abril de 2010, com 19 tiros.
Ninguém foi preso.

Outras regiões do Ceará também têm tido problemas com a pulverização (vide notícia Pulverização de agrotóxicos causa morte de gados e aves em Paraipaba, de 01/02/2011, no Ceará Agora).

*~*~*~*
Infelizmente, o assassinato de pessoas que lutam pelos direitos humanos e pelo meio ambiente, contrariando interesses particulares, é algo comum no nosso país.

No dia 12 de fevereiro, o assassinato da missionária Dorothy Stang completou 6 anos.
A região continua um cenário de faroeste. Madeireiros invadem o terreno dos agricultores, cortam árvores ilegalmente, e quem denuncia é ameaçado de morte. Há menos de um mês, a revista Carta Capital publicou um artigo intitulado "Continua tensa a situação em assentamento onde morreu missionária".

Em dezembro de 2008 foi assassinado o seringueiro e ambientalista Chico Mendes.

Muitos outros, anônimos, já foram mortos covardemente em nome do lucro individual de fazendeiros e empresários.
Infelizmente, é provável que muitos ainda serão.
E todos sabemos o porquê:

Não podemos perder um único dólar - trecho de carta sobre poluição causada pelos produtos, que circulou internamente na Monsanto
"Não podemos perder um único dólar" - trecho de carta sobre como lidar com a questão da poluição causada por seus produtos, que circulou internamente na Monsanto na década de 70.
Resume bem a maneira como as grandes empresas lidam com qualquer polêmica, não?
(não deixe de ver o documentário "O mundo segundo a Monsanto"!)


"No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a floresta amazônica. Agora, percebi que estava lutando pela humanidade."
~ Chico Mendes


Cuando los Ángeles Lloran - Maná

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Cartilha sobre produtos orgânicos

Já publiquei uma extensa postagem sobre a questão dos agrotóxicos.
Esta manhã, eu fiquei sabendo que o Ministério da Agricultura fez uma cartilha informando a população sobre os benefícios dos alimentos orgânicos e como identificá-los, ilustrada pelo Ziraldo.

imagem da cartilha do Ministério da Agricultura sobre os benefícios dos produtos orgânicos - ilustração de Ziraldoimagem da cartilha do Ministério da Agricultura sobre os benefícios dos produtos orgânicos - ilustração de Ziraldo
imagem da cartilha do Ministério da Agricultura sobre os benefícios dos produtos orgânicos - ilustração de Ziraldo
Ela foi preparada em 2009, mas até hoje não foi lançada.
Por quê? Dizem que a toda-poderosa Monsanto entrou com uma ação impedindo a sua distribuição! (a empresa nega)


Não podemos perder um único dólar - trecho de carta sobre poluição causada pelos produtos, que circulou internamente na Monsanto
"Não podemos perder um único dólar" - trecho de carta sobre como lidar com a questão da poluição causada por seus produtos, que circulou internamente na Monsanto na década de 70.
Resume bem a maneira como as grandes empresas lidam com qualquer polêmica, não?


A cartilha "proibida" está disponível na internet.
Para visualizá-la, é só clicar na imagem da capa, logo aí embaixo. Ou clique com o botão direito e salve no seu computador.

Divulgue!
clique na imagem para baixar a cartilha do Ministério da Agricultura sobre os benefícios dos produtos orgânicos

Comer salada é saudável. Certo?

vai um veneno aí?Depende.
Você sabe o que tem nos vegetais que sua família come? Sabe de onde eles vêm?

De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), 15% dos alimentos consumidos pelos brasileiros apresentam taxas de resíduos de veneno (pesticidas, praguicidas, formicidas, herbicidas, fungicidas, ou, coletivamente, agrotóxicos) em níveis prejudiciais à saúde.

Desde 2008, o Brasil é o maior consumidor mundial de agrotóxicos.
Na safra de 2009, foram utilizadas 1 milhão de toneladas de defensivos agrícolas, adubos e fertilizantes, e esse recorde deve ter sido superado em 2010 (os dados oficiais devem sair no próximo mês).

Isso acontece por causa do modelo de produção brasileiro, baseado no agronegócio.
Incentivados pelas políticas públicas, os produtores compram “pacotes tecnológicos”, com sementes (muitas vezes, transgênicas), fertilizantes e agrotóxicos.
Em entrevista ao Portal Ecodebate, a pesquisadora da Fiocruz Lia Giraldo explica que "desde a década de 70, exatamente no ano de 1976, o governo criou um plano nacional de defensivos agrícolas. Dentro do modelo da Revolução Verde, os países produtores desses agroquímicos pressionaram os governos, através das agências internacionais, para facilitar a entrada desse pacote tecnológico. Em 1976, o Brasil criou uma lei do plano nacional de defensivos agrícolas, na qual condiciona o crédito rural ao uso de agrotóxicos. Assim, parte desse recurso captado deveria ser utilizada em compra de agrotóxicos, que eles chamavam, com um eufemismo, de defensivos agrícolas. Então, com isso, os agricultores foram praticamente obrigados a adquirir esse pacote tecnológico".

Quem enriquece são as grandes multinacionais.
As seis maiores empresas produtoras de agrotóxicos no mundo (Syngenta, Bayer, Monsanto, Basf, Dow e DuPont) concentram cerca de 70% do mercado de sementes, agrotóxicos, fertilizantes e transgênicos.
monocultura de soja transgênica
obs: ao contrário do que muitas vezes afirmam as empresas, o uso de transgênicos não minimiza os custos e nem o uso de agrotóxicos. Só no caso da soja (75% transgênica no Brasil), a venda de herbicidas aumentou mais de 200% na última década, enquanto o aumento na área plantada foi de 67%.

Para combater as pragas e aumentar a produção, os agricultores compram venenos que também fazem mal às próprias plantas que produzem, precisando comprar em seguida adubos e fertilizantes, que – mera coincidência – são produzidos e comercializados pelas mesmas empresas que produzem os agrotóxicos.
Um dos efeitos que os agrotóxicos têm é matar bactérias benéficas, como as fixadoras de nitrogênio, um nutriente necessário para as plantas. Torna-se necessário, então, aplicar fertilizantes (cujo elemento principal é o nitrogênio). Só que, depois de aplicado no solo, cerca de 1% do nitrogênio dos fertilizantes é liberado para o ar na forma de óxido nitroso, um gás quase 300 vezes pior para o aquecimento global do que o CO2. E cada 100kg de fertilizante químico emite 540 quilos de CO2 para ser fabricado.
Os resíduos de fertilizantes vão parar em lagos, rios, lençóis freáticos e até no mar, causando um grande desequilíbrio ecológico: primeiro, eles fertilizam algas e plantas aquáticas, que crescem além da conta. Só que, quando elas morrem, sua decomposição rouba oxigênio da água, matando todos os peixes e outros animais. Existem cerca de 400 zonas mortas nos mares, hoje, por causa desse fenômeno.
O uso de fertilizantes tem mais um efeito nocivo, este para a nossa alimentação: as frutas cultivadas com eles têm menos nutrientes, como ferro e vitamina C, que as orgânicas. As plantas crescem e começam a produzir mais rápido, tendo raízes menores e menos tempo para acumular nutrientes nos frutos.

O uso continuado dos venenos também, por um simples mecanismo de seleção, provoca a resistência das pragas. Com o tempo, os agrotóxicos deixam de funcionar, obrigando o agricultor a aumentar a dose ou a comprar um novo produto, num ciclo vicioso (ótimo para quem vende agrotóxicos!).

ilustração de Mike Baldwin - resistência a pesticidas
Quer mais?
Um outro ranking coloca o Brasil entre os primeiros em acidentes por intoxicação com agrotóxicos.
Segundo a Tribuna do Interior, em 2008 foram registrados, somente no Sul do país, 1.139 casos de intoxicação, segundo o Sistema Nacional de Informações Toxicofarmacológicas (Sinitox), órgão vinculado à Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A Anvisa estima que, para cada caso conhecido, 50 não tenham sido informados.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 3% dos trabalhadores expostos a agrotóxicos no mundo sofrem algum tipo de intoxicação.

Os agrotóxicos estão entre os principais fatores de risco para a saúde da população, afetando os trabalhadores rurais, os consumidores e o meio ambiente.

E o pior de tudo é que o Brasil é o principal destino dos agrotóxicos proibidos no exterior.
Dez variedades vendidas livremente por aqui não circulam na União Europeia e Estados Unidos, alguns nem em vários países da África e até no Paraguai.

Ao invés de ser um argumento para que tenhamos cautela com relação a esses agrotóxicos, a proibição em outros países aumenta a pressão das empresas pelo aumento das vendas no Brasil e contra as avaliações da Anvisa, para não perder mercado.
O coordenador-geral de Agrotóxicos e Afins do Ministério da Agricultura, Luís Rangel, admite que produtos banidos em outros países e candidatos à revisão no Brasil – justamente os que possuem evidências de serem perigosos – têm aumento anormal de consumo entre os produtores brasileiros. Para reverter isso, seria preciso uma lei que controlasse a importação de agrotóxicos sob suspeita. Mas, é claro, as empresas, com auxílio de setores do governo, farão todo o possível para evitar que isso aconteça.

Em 2008, a Anvisa colocou em reavaliação 14 ingredientes ativos (utilizados em mais de 200 agrotóxicos), dentre eles o endossulfan, o acefato e o metamidofós, com base em indícios de riscos à saúde.
Entretanto, uma série de decisões judiciais impediram, por quase um ano, a Anvisa de realizar a reavaliação dessas substâncias. "Empresas de agrotóxicos e o próprio Sindicato Nacional da Indústria de Produtos para Defesa Agrícola recorreram ao Judiciário para impedir a Anvisa de cumprir seu papel", critica a consultora jurídica do Instituto de Defesa do Consumidor (IDEC), Andrea Salazar.
Após muita luta, a Anvisa conseguiu reverter as decisões judiciais.

De lá pra cá, já foram divulgados os resultados de algumas dessas reavaliações.
Resultados publicados em agosto de 2010 determinam o banimento total da cyhexatina até julho de 2011 e apresentam o indicativo do banimento da utilização de acefato, metamidofós e endossulfan.
Os indicativos de banimento da Anvisa são analisados por uma comissão tripartite formada pela própria Anvisa, o Ibama e o Ministério da Agricultura.
Este ano, já foi determinado o fim do uso do metamidofós até o dia 30 de junho de 2012. Segundo a Anvisa, mesmo em pequenas doses, esse agrotóxico provoca intoxicação.

agrotóxicos perigosos nos alimentos segundo a Anvisa
Em junho de 2010, a Anvisa divulgou os dados do Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA), que ainda em 2009 analisou 20 culturas (abacaxi, alface, arroz, banana, batata, beterraba, cebola, cenoura, couve, feijão, laranja, maçã, mamão, manga, morango, pepino, pimentão, repolho, tomate e uva) em 26 estados do Brasil. Apenas Alagoas não participou.
Os dados mostram que agrotóxicos com alto risco para a saúde humana são utilizados sem levar em consideração a existência ou não de autorização do Governo Federal. Em 15 das 20 culturas analisadas foi encontrada presença irregular de agrotóxicos – em níveis acima do permitido pela legislação ou utilizados em culturas para as quais não estão autorizados. Dentre eles, o acefato, o metamidofós e o endossulfan.
Nenhuma das culturas possui autorização de uso do agrotóxico endossulfan, que já é proibido em 45 países e causou mortes por intoxicação na Colômbia (veja a lista de países que baniram o endossulfan e de seus motivos), porém, os resultados demonstraram a presença do veneno em 14 delas.

resultados insatisfatórios do PARA - agrotóxicos perigosos nos alimentos
O gráfico acima mostra os resultados insatisfatórios do PARA, por alimento, considerando apenas os ingredientes ativos de agrotóxicos que estão em reavaliação toxicológica na Anvisa devido aos seus efeitos negativos para a saúde humana. Em vermelho está o endossulfan.

Quanto veneno pode ter na água que bebemos?

O modelo de agricultura baseado no agronegócio foi um dos temas do I Simpósio Brasileiro de Saúde Ambiental (I SIBSA), realizado de 6 a 10 de dezembro em Belém do Pará.
No encontro, foi aprovada uma moção contra o uso de agrotóxicos na agricultura e cobra a mudança do modelo de cultivo para uma plataforma agroecológica.
No dia 7 de abril, Dia Mundial da Saúde, deve ser lançada a Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida.

Outra moção aprovada durante o Simpósio questiona a revisão da portaria 518/2004 do Ministério da Saúde, que regulamenta quais e que quantidades de substâncias podem estar na água para consumo humano. A moção critica a tentativa de aumento do limite máximo de glifosfato (o Roundup da Monsanto; uma das substâncias que a Anvisa quer reavaliar pelo risco de danos à saúde) na água potável e a falta de diálogo com setores ligados à saúde ambiental durante o processo.
Para Wanderlei Pignati, professor do Núcleo de Estudos Ambientais da UFMT, ao analisar o histórico das portarias de potabilidade da água no Brasil – a primeira, 56/1977; a segunda, 36/1990; e a terceira, 51/2004 – verifica-se que a legislação foi "legalizando a poluição": "A primeira portaria diz que pode ter na água para consumo humano 10 metais pesados, nada de solventes, 12 agrotóxicos e nenhum produto de desinfecção doméstica, com exceção do cloro. Já na segunda portaria, editada 13 anos depois, os metais pesados passaram para 11, os solventes para 7, os agrotóxicos para 13 e os produtos de desinfecção passaram para dois".
Hoje, em um litro de água que bebemos, pode-se ter 13 metais pesados, 13 solventes, 22 agrotóxicos e 6 produtos de desinfecção. "Vão poluindo, aumentando o uso de agrotóxico, de metais, de solventes, de desinfetantes e isso começa a ser permitido na água".

Segundo a representante da Anvisa Letícia Silva, em um estudo feito pela UFMT em parceira com a Fiocruz foi encontrado endossulfan em águas de chuva coletadas no Mato Grosso. As pessoas podem estar bebendo água contaminada.

Também é preocupante o fato de que as maiores produções agrícolas do país, que utilizam quase 80% dos agrotóxicos consumidos, encontram-se justamente sobre o aqüífero guarani, maior reservatório subterrâneo de água potável do mundo.


Mas, esses venenos não fazem mal para as pessoas. Não é?
"Aconteceu em outubro de 2009, no interior do Espírito Santo. Foi feita uma pulverização aérea de agrotóxicos em uma plantação de café próxima a uma escola. Os aviões passavam perto da escola despejando os agrotóxicos e as aulas não puderam continuar. Por causa do cheiro forte, as crianças começaram a passar mal e algumas chegaram a desmaiar".
Relato do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) no Seminário Nacional contra o Uso de Agrotóxicos (outubro/2010)
Segundo a Anvisa, "de acordo com os conhecimentos científicos atuais, se ingerirmos quantidades dentro dos valores diários aceitáveis (IDA) não sofreremos nenhum dano à saúde."
O consumo além dessas quantidades pode resultar em diversos sintomas, dependendo de qual a substância ingerida (existem mais de 400 pesticidas liberados no mercado), o nível de exposição a estas e outras substâncias, idade, peso, tabagismo etc. Esses sintomas podem surgir logo após o contato com o produto (os chamados efeitos agudos) ou só após semanas ou anos (efeitos crônicos). Algumas substâncias tóxicas permanecem no nosso organismo por toda a vida.
Os sintomas podem variar de dores de cabeça, coceiras e alergias até distúrbios do sistema nervoso central ou câncer, nos casos mais graves de exposição.
Alguns males agudos e crônicos que podem ser causados pelos venenos:
-Dor de cabeça;
-Tontura, fraqueza, mal estar;
-Tremores no corpo;
-Diarréia;
-Convulsões;
-Desmaios;
-Irritação de nariz, garganta e olhos;
-Náuseas, vômitos;
-Falta de ar, problemas respiratórios;
-Dores no corpo;
-Problemas nos rins e/ou fígado;
-Feridas, queimaduras e alterações na pele;
-Depressão;
-Câncer;
-Distúrbios hormonais;
-Distúrbios neurológicos;
-Problemas reprodutivos;
-Má formação fetal
Carlitos: bebê com deficiências atribuídas a pesticidas
Carlitos, bebê com defeitos de nascença atribuídos a pesticidas.
Dois outros bebês nasceram com defeitos graves (que causaram a morte de um deles), num intervalo de dois meses.
Suas mães trabalharam em campos cultivados com pesticidas, nos EUA, durante a gravidez.

aplicação de agrotóxicos sem proteção adequada: este homem está arriscando sua vida
Quem mais sofre esses efeitos é o trabalhador rural.

É muito importante utilizar equipamentos de segurança (roupa adequada, máscaras, botas, luvas, chapéu, óculos de proteção...) e utilizar os produtos corretamente.
Porém, mesmo tomando-se todas as providências, alguns venenos continuam sendo muito perigosos, como o endossulfan.



E agora? Devo parar de comer salada?

Claro que não!
Mas, então, como proteger a saúde da sua família (e, de quebra, o meio ambiente e saúde dos trabalhadores rurais)?
Dando preferência aos alimentos orgânicos!
Além de não conterem agrotóxicos e não agredirem o ambiente, os orgânicos possuem mais nutrientes que os alimentos convencionais.
E alguns agricultores estão percebendo que sementes produzidas e guardadas por eles são mais produtivas e têm menor custo do que as sementes das multinacionais.

Atenção para o selo de certificação do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica (Sisorg), do Ministério da Agricultura:
selo Sisorg de produtos orgânicos
Muitos produtos vendidos como “orgânicos” não têm certificação adequada, podendo ser até enganação para cobrar mais caro do consumidor. Mas esse quadro deve mudar, agora que novas regras para regulamentação passaram a valer em 1º de janeiro deste ano, e os produtos comercializados como orgânicos devem obrigatoriamente conter esse selo.

Eu sei que eles são mais caros e pesam no bolso de muita gente. Mas vale a pena economizar com consultas e remédios mais adiante!
Pelo menos, considere substituir por orgânicos os produtos que mais utilizam agrotóxicos comprovadamente prejudiciais, segundo as análises da Anvisa.

De 20 produtos agrícolas analisados no PARA, aqui está o Top 10 dos alimentos com mais agrotóxicos:

dez produtos mais contaminados por agrotóxicos dentre os 20 avaliados pela Anvisa em 2009
Isto significa que, de cada dez pimentões à venda no supermercado, oito estão contaminados e representam risco à saúde.
A cultura analisada que apresentou melhor resultado foi a da batata, com irregularidades em apenas 1,2% das amostras analisadas.

Outras medidas apontadas pela Anvisa para reduzir a ingestão de agrotóxicos, além da substituição por orgânicos: procurar sempre alimentos de origem identificada, pois isto aumenta o comprometimento dos produtores em relação à qualidade dos alimentos; preferir alimentos da época; e lavar bem os alimentos com água limpa, deixá-los de molho em água com cloro ou vinagre e depois lavar novamente em água limpa (esse procedimento pode retirar parte dos agrotóxicos presentes no exterior dos alimentos, mas não tira a maior parte deles, que penetra na planta).
Vale lembrar que lavar o alimento é sempre bom, mesmo se ele for orgânico.

Segundo notícia do Correio do Estado, no ano passado o mercado interno de orgânicos cresceu 40% em relação a 2009, e o externo, 30%.
Temos muito a lucrar com o banimento dessas substâncias nocivas. Além de beneficiar a saúde e o meio ambiente, ele também pode ter impactos positivos na economia nacional. Por exemplo: Europa, Japão, Estados Unidos e outros países não importam alimentos com resíduos de cihexatina.
Porém, ainda é preciso mudar a mentalidade da maioria dos agricultores, e com décadas de incentivo ao atual modelo, isso requer um trabalho no sentido contrário.
A pesquisadora da Fiocruz Lia Giraldo aponta que, "como aconteceu antes, quando o crédito rural foi condicionado ao uso do agrotóxico, agora pode acontecer o contrário: ser dado o crédito para aqueles que não usarão agrotóxicos, fazer o inverso e criar uma nova escola de agricultura."

*~*~*~*
A Revolução Verde teve graves conseqüências para a sociedade, levando a um aumento na concentração de terras e ao êxodo rural, e para o meio ambiente, verificadas na perda da fertilidade do solo, erosão, perda de diversidade genética, e na contaminação do solo, dos recursos hídricos e dos próprios alimentos pelos agrotóxicos. Quem ganha com esse modelo? As bilionárias multinacionais.
Ironicamente, o modelo que promete (até hoje!) acabar com a fome no mundo leva à concentração de riquezas, à miséria e à fome.

O argumento que tentam nos fazer engolir, de que agrotóxicos, transgênicos e expansão territorial da agricultura são necessários para salvar a humanidade da inanição, é uma mentira.
Existe alimento para todas as pessoas do mundo. Mesmo com o crescimento populacional, é possível alimentar toda a humanidade sem aumentar a produção, adotando práticas como a agroecologia, o combate à desigualdade, e a adoção de uma dieta menos carnívora.
(não apenas temos grandes áreas de pastagem que poderiam ser usadas para o cultivo – a área desmatada na Amazônia para criar gado equivale à de 100 cidades de São Paulo –, como cerca de 40% dos grãos produzidos, sendo da soja quase 80%, servem para alimentação de gado. Uma única peça de picanha exige 75 quilos de vegetais para ser produzida! – então não venham dizer que os vegetarianos são culpados pela expansão da monocultura de soja!).
A tal “salvação da humanidade” está em um novo paradigma, uma nova revolução: um modelo econômico baseado na sustentabilidade.
Se é que ainda temos salvação.

Venenos agrícolas também eliminam insetos benéficos

abelha: um dos principais polinizadores, ameaçadoDe uns cinco anos para cá, tem ocorrido um declínio preocupante nas populações de abelhas. Bilhões de abelhas estão morrendo em várias partes do mundo, incluindo os Estados Unidos, o Canadá, a Europa , a China e até o Brasil.

O sumiço das abelhas veio à tona em 2006, nos EUA e no Canadá, e não cessou. Alguns apicultores chegaram a perder 90% de suas colméias.
Segundo a Avaaz, há espécies de abelhas que já se extinguiram, e de algumas outras restam apenas 4% das populações originais.

Isso é sério. Além de produzirem mel, as abelhas são importantes polinizadores. Muitas plantas não se reproduzem, nem produzem frutos ou sementes, sem a sua ajuda. Em muitos lugares, são empregadas na agricultura, polinizando plantações de maçã, abacate, laranja ou cenoura, por exemplo. É estimado que um terço dos alimentos que produzimos depende da polinização por abelhas.

As causas do fenômeno, que ganhou o nome de Distúrbio do Colapso de Colônias (CCD, em inglês), permaneceram desconhecidas por muito tempo, e ainda não há consenso entre pesquisadores.
Mas, agora, algumas pesquisas estão produzindo fortes evidências que apontam para os pesticidas neonicotinóides, substâncias sintéticas que procuram imitar os efeitos da nicotina, uma defesa natural que as plantas do tabaco produzem contra insetos devoradoras de folhas.

O toxicologista holandês Henk Tennekes publicou um estudo na revista Toxicology no início de 2010, onde apontava os neonicotenóides como fator por trás do declínio das abelhas na Europa. Agora, ele crê que as abelhas não são as únicas vítimas, e escreveu um livro (The Systemic Insecticides: A Disaster in the Making) no qual sugere que o pesticida está afetando seriamente a vida de insetos e de pássaros, e seu uso continuado poderia resultar em uma “catástrofe ambiental”.
“Um colapso ecológico já está acontecendo diante de nossos olhos. Muitas espécies de pássaros não estão encontrando comida suficiente para seus filhotes, pois os insetos estão sendo exterminados pelos pesticidas. Insetos são vitais nos ecossistemas. Na realidade, precisamos deles para a sobrevivência humana”.

Os neonicotenóides já foram proibidos em quatro países europeus (França, Itália, Eslovênia e Alemanha), e após a proibição as populações locais de abelhas voltaram a aumentar.
Mas a Bayer, principal produtora do agrotóxico, continua a exportar o veneno e está pressionando os governos para liberá-lo.

O lobby dessas empresas é forte.
Um documento vazado pelo Wikileaks mostra que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) sabia dos perigos do pesticida, mas os ignorou.
O relatório foi produzido quando a Bayer pediu aprovação da EPA para um pesticida neonicotinóide, a Clotianidina. Segundo o documento, os estudos sobre o impacto do agrotóxico nos polinizadores e na vida aquática (em decorrência da contaminação do solo), financiados pela Bayer, são inadequados, e o uso do produto apresenta “risco tóxico a longo prazo” a abelhas e “risco agudo e crônico” a invertebrados de água doce. É citado um incidente ocorrido na Alemanha em 2008, quando Clotianidina foi aplicada de modo inadequado em plantações de milho, resultando na morte de milhões de abelhas melíferas.

A Bayer descarta as preocupações, afirmando que apenas insetos que se alimentam de partes da planta e a destroem sofreriam os efeitos do veneno. “Abelhas consomem o néctar e o pólen, mas os níveis aos quais são expostas são extremamente pequenos e dentro dos limites de segurança”, afirma o representante, Dr Julian Little. (fonte: The Ecologist)

Porém, grupos como a Soil Association e a Buglife afirmam que o uso de neonicotinóides expõe os insetos a níveis do agrotóxico suficientes para enfraquecer seu sistema imunológico e, no caso das abelhas, afetam seu comportamento, podendo, segundo pesquisas, reduzir sua habilidade de forrageio (buscar alimento) e diminuir sua capacidade de lembrar como voltar à colméia.

A Avaaz organizou um abaixo-assinado (que já conta com mais de 1 milhão de assinaturas) pedindo que os neonicotinóides sejam proibidos nos EUA e na UE, onde o debate é mais forte, até que estudos científicos comprovem que a substância é segura.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Escada-piano

A melhor maneira de alterar o comportamento das pessoas é fazer com que ela se divirtam!
Pelo menos, essa é a teoria apresentada no The Fun Theory (iniciativa da Wolkswagen, mas não estou incentivando ninguém a comprar um carro deles, viu? rs).

No vídeo: como fazer com que as pessoas usem mais as escadas convencionais, e menos as escadas-rolantes?
(colocou um grande sorriso no meu rosto, e eu gostaria de compartilhar!)

10 bons motivos para NÃO ter um carro

jogue seu carro fora! - ok, não tão literalmente...Antes que venham me questionar: não, eu não tenho carro. Nem tenho vontade de ter.
(tudo bem, de vez em quando – muito de vez em quando – um carro faz uma certa falta, mas ela é facilmente suprida por caronas ou táxis. Se você fizer as contas de quanto se gasta com um carro, táxi não é tão caro quanto parece...)


Há algum tempo, li um texto que listava 23 motivos para não ter (ou vender o seu) carro e achei ótimo.

Inspirada nessa lista e para encerrar a série de postagens sobre transporte, faço aqui a minha própria lista com 10 bons motivos para NÃO ter um carro
(ou, no mínimo, usá-lo menos. Que tal, para começar?)


carros: máquinas de poluição1. Carros poluem.
A queima de combustíveis polui. A fabricação do carro polui. A extração dos combustíveis pode poluir em proporções absurdas, como aconteceu ano passado no Golfo do México (e acontece direto em muitos outros lugares).
Carro a etanol polui também, não pense que por ter um flex você tem um motivo a menos.

70% da poluição das grandes cidades é causada pelos meios de transporte.
asma e rinite, dois problemas comuns em cidades poluídas
A poluição dos veículos não apenas contribui para o aumento na temperatura das cidades e do planeta (aproximadamente 40% da emissão de gases de efeito estufa vem dos automóveis), mas causa ou agrava diversos problemas de saúde – por exemplo, alergias, asma, pneumonia, enfisema e câncer. Estima-se que, a cada dia, oito pessoas morrem e uma mulher sofre aborto em decorrência da poluição, na cidade de São Paulo.

aquecimento global: a culpa é nossa

carros são armas2. Carros são perigosos.
Motoristas embriagados, “rachas”, sentimento de superioridade e impunidade e mesmo pequenas distrações podem acabar com uma vida.
E acabam. Só no Brasil, morrem 42.000 pessoas por ano vítimas de “acidentes” de trânsito.
Em média, ocorrem 723 acidentes nas rodovias asfaltadas brasileiras a cada dia.

carros matam 1.2 milhão de pessoas por ano
Carros matam 1.2 milhão de pessoas por ano em todo o mundo

Animais mortos por atropelamento, domésticos ou selvagens, devem estar na casa das centenas de milhares por ano.

Você quer essa responsabilidade?
o que foi esse solavanco
carros custam muito caro3. Carros custam muito dinheiro.
Sem o carro, você vai economizar: o dinheiro que custaria o carro; o dinheiro do seguro do carro; o dinheiro do IPVA, o dinheiro da gasolina; o dinheiro da manutenção do carro; o dinheiro do estacionamento...
Pense em tudo o que você poderia fazer com essa grana!


se esses idiotas tivessem pego um ônibus eu já estaria em casa - quem é o idiota, afinal?4. Carros fazem você perder tempo.
Tempo no trânsito é tempo perdido.
No ônibus, trem ou metrô você pode aproveitar para ler, estudar, ouvir música, apreciar a paisagem ou conhecer e conversar com outras pessoas.
De bicicleta ou a pé, você vai estar se exercitando e conhecendo melhor a sua cidade.

Parece inacreditável, mas andar de bicicleta pode ser um meio mais rápido para se locomover na cidade do que andar de carro. Duvida?
Em 2008, um grupo de ativistas realizou, em diversas capitais brasileiras, o Desafio Intermodal. Nele, o mesmo trajeto foi percorrido de diversas maneiras (carro, ônibus, metrô, trem, moto, bicicleta e a pé) e no mesmo horário.
Qual meio de transporte você acha que terminou em menos tempo?
Veja abaixo o resultado do percurso na cidade de São Paulo:
- 36min - bike vias tranquilas (homem)
- 42min - bike vias rápidas (homem e mulher)
- 49min - bike vias tranquilas (mulher)
- 59min - bike + ônibus
- 1h04min - moto
- 1h41min - trem + metrô
- 1h51min - ônibus
- 1h51min - carro
- 2h13min - pedestre
- 2h21min - bike + metrô
- 2h40min - ônibus + metrô
Bicicleta foi o meio de transporte mais rápido, vencendo o carro por 1h15min!

a bicicleta é a vencedora!*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*~*
Atualização (23/09/2011): no Desafio Intermodal de 2011, realizado dia 20 de Setembro, a bicicleta foi mais uma vez a vencedora em São Paulo, levando 22 minutos e 50 segundos para completar o trajeto que, de carro, levou 1 hora e 14 minutos.
A bicicleta também havia ganho o Desafio em 2009 (quando foi mais rápida até que um helicóptero - modo de transporte que não participou das outras edições). Em 2010, a moto venceu a bicicleta por alguns minutos (ainda assim, o carro levou três vezes mais tempo).

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placa de trânsito: cuidado, motoristas agressivos5. Carros causam estresse e comprometem a qualidade de vida nas cidades.
Andando de carro você se estressa com engarrafamentos, com o atraso, com o comportamento de outros motoristas que acham que têm mais direito de andar do que você... e isso pode estragar todo o seu dia.
Além disso, tem o estresse com a segurança do carro – se o carro está estacionado em lugar seguro, se vão roubar o seu carro – e com a sua própria segurança no carro (roubos de carro costumam ser mais violentos que assaltos a pedestres, e podem se transformar em seqüestro).
Também tem a poluição sonora do trânsito, que pode pode causar insônia, estresse, depressão, perda de audição, agressividade, dores de cabeça etc.
Einstein andando de bicicleta
Pedalar e caminhar são atividades agradáveis que, além de ótimos exercícios, estimulam a liberação de endorfinas, que causam sensação de bem-estar. Desestressam e ajudam a colocar as coisas em perspectiva e a pensar melhor. Muitos cientistas, artistas e criadores defendem que a prática dessas atividades estimula a mente e a capacidade criativa. E você vai ganhar mais pique para as atividades diárias.

Caminhar ou andar de bicicleta no caminho para o trabalho / voltando do trabalho vai ajudar você a relaxar, coisa que ficar sentado no trânsito nunca faria.

trabalho sem estresse

cúmulo do sedentarismo6. Carros contribuem para uma vida sedentária.
Caminhando ou andando de bicicleta, fica muito mais fácil manter o peso e ter uma boa saúde.
Sem carro, você vai caminhar mais, perder peso, ser mais saudável e reduzir o risco de hipertensão (a caminhada reduz níveis de pressão arterial por até 24 horas), doenças do coração, obesidade e diabetes, entre outras doenças.
Andar de bicicleta trabalha as musculaturas das pernas, costas e abdômen, queima calorias, melhora a circulação e o funcionamento cardiovascular.
As duas atividades são de baixo impacto (menor risco de lesões), e estimulam a produção de endorfinas. Também ajudam você a dormir melhor.
E, de quebra, você economiza tempo e dinheiro com academia!

diferença entre o carro e a bicicleta
A da esquerda move-se a gordura e faz você economizar dinheiro.
O da direita move-se a dinheiro e faz você ficar gordo.


ferro-velho nos EUA, década de 707.Carros representam um gasto enorme de recursos naturais.
Imagine a quantidade de matéria-prima necessária para suprir a indústria automobilística! A extração dessa matéria-prima gera degradação ambiental. E você sabia que há vários minérios em extinção?

Isso para não falar dos combustíveis: os derivados do petróleo são altamente poluentes, e a disputa sobre eles e sua extração causam grandes impactos sociais e guerras.

Port Harcourt, Nigéria
Port Harcourt, a principal cidade da região do petróleo (Nigéria)
Fotografia de Ed Kashi (National Geographic)

Membros do grupo armado MEND
Membros do grupo armado MEND (Nigéria)
Fotografia de Ed Kashi (National Geographic)

A queima de biocombustíveis também gera poluição e gases-estufa, e as plantações para gerar biocombustíveis substituem a vegetação nativa ou ocupam áreas que poderiam ser usadas para cultivar alimentos.

plantação de cana - foto de Sérgio Delmonico

estresse ao volante8. Carros deixam as pessoas agressivas.
O fenômeno já deve ter sido estudado por algum psicólogo.
As pessoas tendem a se irritar mais e a expressar mais sua raiva no trânsito, de modo que incidentes pequenos podem levar a brigas e agressão física.

Dentro do carro, estamos isolados do mundo exterior. Aumenta a sensação de força e de impunidade, e as outras pessoas são concorrentes ou estão atrapalhando nosso caminho.
A situação agrava-se com a frustração com o trânsito lento e a irritação com outros motoristas que nos desrespeitam, forçam a passagem, “costuram”, cometem infrações ou contribuem de alguma maneira para tornar o deslocamento ainda mais lento. Nervosas, as pessoas começam elas próprias a desrespeitar os outros, forçar a passagem etc etc. Vira um verdadeiro cada-um-por-si.

Um curta-metragem da Disney de mais de 50 anos atrás já mostrava isso muito bem.


desenho de Quino ilustra como os carros ocupam a cidade9. Carros contribuem para a degradação do espaço público.
Cidades com muitos carros são mais desagradáveis: têm mais poluição sonora, mais poluição do ar, o asfalto as torna mais cinza, mais mortas, mais quentes, e o trânsito somado a tudo isso deixa as pessoas mais mal-humoradas.

Para que os carros tenham por onde passar, as cidades vão ficando cada vez mais impermeabilizadas, e o asfalto vai substituindo a vegetação, os cursos d'água, as calçadas... E os motoristas se apropriam ainda mais do espaço público, estacionando nas vias e desrespeitando leis de trânsito como não parar na faixa de pedestres.

Ruas de grande movimento de carros ficam abandonadas pelas pessoas e tornam-se apenas locais de passagem, sem crianças brincando, pessoas passeando e conversando, cafés, comércio de bairro e outras coisas que tornam as ruas mais humanas e agradáveis. Largadas, vão ficando ainda mais descuidadas, sujas, muitas vezes com pichações e acúmulo de lixo...

A pé ou de bicicleta, você aprecia o seu entorno. Pode conhecer mais pessoas. Pode descobrir lojas ou cafés ou outros locais interessantes, contribuir para a sobrevivência do pequeno comércio, e ajudar a manter as ruas mais interessantes e agradáveis para as pessoas que passam por elas.

deixe o carro em casa e ajude a humanizar o trânsito

carro: mito e realidade10. Carros não tornam as pessoas mais livres ou mais felizes.
Depois de tudo, eu não deveria nem precisar mais dizer isso.

Infelizmente, a associação entre o carro (quanto maior, melhor!) e a ascensão social está arraigada na nossa cultura.
Também, pudera; há décadas os fabricantes de carro investem bilhões para nos convencer de que não podemos viver sem um carro, e que ter um carro vai nos trazer liberdade, status, respeito, amor... quando, na realidade, o que ele faz é estragar nosso planeta, nossa cidade e nossa vida!


Você não precisa de um carro.
Tudo isso é propaganda enganosa para convencer você a comprar um.

Eu fico revoltada com propagandas como essas aí abaixo. Você não?

carro: símbolo de poder e statuse quem é você pra achar que sabe qual é o meu sonho??LIBERTE-SE!
bicicleta: a verdadeira liberdade











ATENÇÃO: saiba quais são os efeitos colaterais de pedalar uma bicicleta