sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Caos no transporte I – que tal começar por uma solução?

imagem de um desenho do Pateta sobre estresse no trânsitoQue o transporte é um problema no nosso país, acho que quase todo mundo sabe. Talvez com exceção de uns poucos que andam de helicóptero. Imagino que boa parte dos meus leitores estejam cansados de pegar trânsito, de ter problemas respiratórios por causa da poluição, de conviver com buzinas e motoristas nervosos que ultrapassam pela contramão, xingam, viram sem dar seta, e se batem no seu carro ou te atropelam acham que a culpa é sua.

Acho que o trânsito é o maior fator de estresse nas cidades brasileiras. Em São Paulo, acredita-se que ele vá parar completamente a qualquer momento, simplesmente por causa do excesso de carros na rua. E não é para menos: já temos uma média de dois carros por habitante, e a cada dia mais de 800 carros novos entram em circulação.

E o trânsito também reduz nossa qualidade de vida de outra maneira: asma, rinite, sinusite, pneumonia, enfisema, câncer – são todos males que podem ser causados pela poluição. São Paulo é uma das cidades mais poluídas do mundo, e 70% dessa poluição vêm dos meios de transporte. Estima-se que, a cada dia, ocorrem em média oito mortes e um aborto em decorrência da poluição na cidade!

poluição do ar na cidade de São Paulo
Este é o ar que a gente respira!

O que fazer?

Bem, a prefeitura de São Paulo parece achar que a solução está nas obras para melhorar o fluxo dos carros, como o alargamento de avenidas e a criação de vias expressas.

E por que ninguém faz nada pelos outros meios de transporte?
Cadê melhorias no transporte público? E as bicicletas, de que tanto se fala?

Ah, foi por isso que eu resolvi escrever esta postagem...

ciclismo urbano No final do ano passado, li a seguinte reportagem no Estado:
Verba de ciclovia em SP é menor do que no discurso
e fiquei indignada.
Segundo a reportagem, o investimento previsto pela prefeitura para a infraestrutura cicloviária da cidade, para o ano de 2011 (R$1 milhão e R$1 mil, dos R$ 34,6 bilhões previstos no orçamento) , é insuficiente até para realizar estudos e construir uma ciclovia de comprimento maior que 5 km, e a maior parte do valor (R$1 milhão – quase tudo, na verdade) está previsto para ser utilizado pela Secretaria do Verde e do Meio Ambiente, responsável pela construção de ciclovias em parques e em áreas de lazer. Apenas o valor simbólico de R$1 mil está previsto para ser gasto com esses projetos na Secretaria de Transportes, responsável pelas obras em avenidas e ruas visando a melhorar a mobilidade urbana.
O valor reservado para as bicicletas é apenas 0,09% do total a ser gasto pela Secretaria de Transportes. Se um terço do dinheiro que a prefeitura gasta com melhorias para o transporte individual fosse usado para o transporte público e outros meios alternativos, viveríamos em outro mundo.

Mais recentemente, descobri que era para termos cerca de 367 km de ciclovias em São Paulo, sendo que 275 eram para serem entregues em 2006 e o resto em 2012. Nenhum quilômetro desse planejamento foi executado. Nenhum.

Infelizmente, e apesar de ser reconhecida como meio de transporte pelo Código de Trânsito Brasileiro, a bicicleta ainda é vista apenas como uma forma de lazer pelo poder público.

Usando a bicicleta, os ciclistas estão investindo em sua qualidade de vida, mas estão também prestando um serviço para toda a cidade: não contribuem com a poluição e representam um carro a menos nas ruas.
Está mais do que na hora de respeitá-los e tornar a cidade mais segura para eles!

ciclovia - uma necessidade urbana Uma pesquisa do IBOPE, realizada no Dia Sem Carro de 2008, apontou que 94% dos habitantes de São Paulo são favoráveis à construção de ciclovias.
São Paulo praticamente só tem ciclovias dentro de parques. Com algumas exceções, por exemplo um trecho que margeia o Rio Pinheiros e outro na Brigadeiro Faria Lima.
Aos domingos e em um horário limitado, temos também a chamada Ciclofaixa de Lazer (“de lazer”, reitero), interligando os parques Ibirapuera, Villa Lobos, do Povo e das Bicicletas.
Passei por ela (infelizmente, de carro, com a família) no último domingo. Alguns motoristas estavam reclamando porque levaram alguns minutos a mais para fazer seus trajetos (eita egoismo!), mas havia muitos ciclistas usando as pistas. Achei maravilhoso!
Agora, por que só aos domingos?
Por que não fazer uma faixa para bicicletas nos locais de maior movimento – e portanto mais perigosos para os ciclistas –, assim como fazem pistas para motos?

Em muitas cidades pelo mundo, a bicicleta é o meio de transporte oficial.
Na Europa, elas estão por toda parte. Cidades como Cambridge (Inglaterra), Amsterdam (Holanda), Barcelona (Espanha) e Copenhague (Dinamarca) parecem feitas para elas. Em Copenhague elas não apenas têm uma faixa própria, mas também, em muitas esquinas, seu próprio semáforo. Na Holanda, é possível pegar bicicletas emprestadas em uma estação de trem e devolver em qualquer outra estação, mesmo em outra cidade. Não dá pra ter a desculpa de que não dá pra andar de bicicleta na chuva; nessas cidades se anda de bicicleta com sol, com chuva e até com neve (veja esses vídeos!).
E essas cidades não nasceram assim! Copenhague estava se tornando uma cidade para carros quando, na década de 60, começou a se transformar em uma cidade para... pessoas.
(o artigo Nós não somos dinamarqueses fala sobre isso. É interessante, apesar de estar no site da Veja)

ciclovia na cidade de Copenhague, Dinamarcabicicletas estacionadas, Copenhague, Dinamarca
Ciclovia (à esquerda) e bicicletas estacionadas (à direita) em Copenhague, Dinamarca


imagem da webcam na praça Koningsplein, Amsterdam, Holanda (clique para ver ao vivo)
A foto acima mostra a praça Koningsplein, em Amsterdam.
Clicando na imagem, você pode ver imagens ao vivo da praça, transmitidas 24hs por dia.
Dê uma olhada e veja como quase não passam carros, mas passam muitas bicicletas e um bonde de vez em quando.


ônibus lotadoSeria tão bom poder ir para a faculdade de bicicleta. Não ter que perder meia hora, no mínimo, esperando o ônibus, depois mais sabe-se lá quanto tempo (a depender do trânsito) em pé em um ônibus lotado e quente (e cada vez mais caro) para chegar ao destino.
É uma pena, mas eu não me sinto segura para andar de bicicleta pela minha cidade.

Infelizmente, o carro particular ainda é o meio de transporte “ideal” para a maioria das pessoas em nosso país.
Ônibus (devido aos atrasos e ao desconforto, decorrentes de falta de investimento público e da transformação de um serviço público em um negócio, visando o lucro das empresas) é para quem não tem dinheiro para ter um carro.
(o metrô, por ser mais eficiente e confortável do que os ônibus, ainda é mais democrático. Porém, à medida que fica cada vez mais lotado e não dá mais conta da demanda – que é o que está acontecendo em São Paulo – vai sendo cada vez mais considerado uma opção para quem não tem opção – porque não pode comprar um carro)

Acaba havendo um círculo vicioso: o poder público investe em melhorias para o transporte particular e sucateia o transporte público. Por isso, as pessoas dão preferência ao transporte individual. O número de carros aumenta, o trânsito piora, e o poder público investe mais em paliativos para o trânsito de carros fluir...
Isso não é nada inteligente.
Enquanto a maioria dos carros circula pelas ruas com apenas uma pessoa dentro, um ônibus, que ocupa espaço equivalente a três carros, pode transportar mais de 60 pessoas.

três formas possíveis de transportar o mesmo número de pessoas - qual é mais inteligente?
Nossa mentalidade tem que mudar.
Por que você não deixa o carro em casa, pelo menos um dia na semana?
Vá a pé, de carona, de metrô, de ônibus, de bicicleta...

Qual a sua desculpa?

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