terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Venenos agrícolas também eliminam insetos benéficos

abelha: um dos principais polinizadores, ameaçadoDe uns cinco anos para cá, tem ocorrido um declínio preocupante nas populações de abelhas. Bilhões de abelhas estão morrendo em várias partes do mundo, incluindo os Estados Unidos, o Canadá, a Europa , a China e até o Brasil.

O sumiço das abelhas veio à tona em 2006, nos EUA e no Canadá, e não cessou. Alguns apicultores chegaram a perder 90% de suas colméias.
Segundo a Avaaz, há espécies de abelhas que já se extinguiram, e de algumas outras restam apenas 4% das populações originais.

Isso é sério. Além de produzirem mel, as abelhas são importantes polinizadores. Muitas plantas não se reproduzem, nem produzem frutos ou sementes, sem a sua ajuda. Em muitos lugares, são empregadas na agricultura, polinizando plantações de maçã, abacate, laranja ou cenoura, por exemplo. É estimado que um terço dos alimentos que produzimos depende da polinização por abelhas.

As causas do fenômeno, que ganhou o nome de Distúrbio do Colapso de Colônias (CCD, em inglês), permaneceram desconhecidas por muito tempo, e ainda não há consenso entre pesquisadores.
Mas, agora, algumas pesquisas estão produzindo fortes evidências que apontam para os pesticidas neonicotinóides, substâncias sintéticas que procuram imitar os efeitos da nicotina, uma defesa natural que as plantas do tabaco produzem contra insetos devoradoras de folhas.

O toxicologista holandês Henk Tennekes publicou um estudo na revista Toxicology no início de 2010, onde apontava os neonicotenóides como fator por trás do declínio das abelhas na Europa. Agora, ele crê que as abelhas não são as únicas vítimas, e escreveu um livro (The Systemic Insecticides: A Disaster in the Making) no qual sugere que o pesticida está afetando seriamente a vida de insetos e de pássaros, e seu uso continuado poderia resultar em uma “catástrofe ambiental”.
“Um colapso ecológico já está acontecendo diante de nossos olhos. Muitas espécies de pássaros não estão encontrando comida suficiente para seus filhotes, pois os insetos estão sendo exterminados pelos pesticidas. Insetos são vitais nos ecossistemas. Na realidade, precisamos deles para a sobrevivência humana”.

Os neonicotenóides já foram proibidos em quatro países europeus (França, Itália, Eslovênia e Alemanha), e após a proibição as populações locais de abelhas voltaram a aumentar.
Mas a Bayer, principal produtora do agrotóxico, continua a exportar o veneno e está pressionando os governos para liberá-lo.

O lobby dessas empresas é forte.
Um documento vazado pelo Wikileaks mostra que a Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) sabia dos perigos do pesticida, mas os ignorou.
O relatório foi produzido quando a Bayer pediu aprovação da EPA para um pesticida neonicotinóide, a Clotianidina. Segundo o documento, os estudos sobre o impacto do agrotóxico nos polinizadores e na vida aquática (em decorrência da contaminação do solo), financiados pela Bayer, são inadequados, e o uso do produto apresenta “risco tóxico a longo prazo” a abelhas e “risco agudo e crônico” a invertebrados de água doce. É citado um incidente ocorrido na Alemanha em 2008, quando Clotianidina foi aplicada de modo inadequado em plantações de milho, resultando na morte de milhões de abelhas melíferas.

A Bayer descarta as preocupações, afirmando que apenas insetos que se alimentam de partes da planta e a destroem sofreriam os efeitos do veneno. “Abelhas consomem o néctar e o pólen, mas os níveis aos quais são expostas são extremamente pequenos e dentro dos limites de segurança”, afirma o representante, Dr Julian Little. (fonte: The Ecologist)

Porém, grupos como a Soil Association e a Buglife afirmam que o uso de neonicotinóides expõe os insetos a níveis do agrotóxico suficientes para enfraquecer seu sistema imunológico e, no caso das abelhas, afetam seu comportamento, podendo, segundo pesquisas, reduzir sua habilidade de forrageio (buscar alimento) e diminuir sua capacidade de lembrar como voltar à colméia.

A Avaaz organizou um abaixo-assinado (que já conta com mais de 1 milhão de assinaturas) pedindo que os neonicotinóides sejam proibidos nos EUA e na UE, onde o debate é mais forte, até que estudos científicos comprovem que a substância é segura.

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