Quero fazer uma pequena pausa na campanha em defesa do Código Florestal Brasileiro, ainda que seja um assunto urgente e digníssimo de atenção!
Parafraseando, aqui de improviso, o professor John Keating, a defesa do nosso planeta é uma causa nobre e necessária para manter a vida. Mas música é uma das coisas pelas quais nós vivemos.
Eu tenho ouvido muito blues ultimamente.
Engraçado que, até recentemente, eu não conhecia nada de blues.
Meus pais sempre ouviram mpb (e um pouco de chanson francesa). Desde pequena eu adoro rock - rock clássico, que muita gente até considera um sub-gênero do blues. E já curtia Rolling Stones e Cream, que gravaram muito blues. Mas as poucas vezes que eu parava para ouvir blues mesmo, eu achava... meio chatinho.
Isso começou a mudar há uns dois anos atrás.
Eu estava estudando gaita, autodidaticamente (estudo que foi interrompido há meses por tempo indeterminado, porque eu estava ficando com os lábios machucados, mas ainda espero retomar) e meu pai me deu um cd de blues que ele tinha em casa e que achava... meio chatinho.
Foi esse CD aí ao lado.
Sonny Terry e Brownie McGhee, respectivamente gaitista e violonista, fizeram muito sucesso com seu blues acústico, gravando e fazendo uma turnê atrás da outra, desde o início da parceria na década de 1940 até os anos 80. E não era pra menos:
Walk On
Brownie McGhee & Sonny Terry, final da década de 70
A partir dessa "revelação", eu comecei a me interessar mais pelo gênero e a procurar outras coisas para ouvir.
Fiquei conhecendo um pouco do trabalho de Robert Johnson, de quem todo mundo que conhece blues já ouviu falar; diz a lenda que ele vendeu a alma ao diabo em uma encruzilhada em troca da habilidade musical. Sua canção mais conhecida chama-se Crossroads, "encruzilhada" (e tem uma outra chamada Me and the Devil).
Ajudam a aumentar a lenda em torno do nome dele (além, é claro, de seu virtuosismo no violão) o fato de não se saber ao certo quando ele nasceu (há divergência entre seus documentos, mas teria sido entre 1909 e 1912) e qual a causa de sua morte prematura em 1938 (talvez envenenado por um marido ciumento). Gravou apenas 29 músicas em toda a sua vida.
Ele foi uma grande influência para muitos músicos, muitos o consideram o mais importante cantor de blues que já existiu.
Eu, no entanto, confesso que não curti muito, achei monótono, pra ficar ouvindo uma música seguida de outra.
Crossroads
Robert Johnson
Versão do Cream (vídeo de 1968, vejam o jovem Eric Clapton):
Também adoro a versão com a cantora Jonell Mosser, mas não encontrei para partilhar aqui.
Bem, passei por muitos outros artistas, até que no começo deste ano minha aventura pelo blues revelou uma verdadeira jóia e eu ganhei uma "ídola". Seu nome era Willie Mae, mas muitos só a conhecem como Big Mama Thorntom.
Ela começou a cantar ainda criança na Igreja Batista, onde seu pai era ministro e sua mãe, cantora.
Iniciou sua carreira no blues em Houston, Texas, em 1948.
Infelizmente, faleceu no ano em que eu nasci, 1984, aparentemente por problemas de saúde relacionados ao alcoolismo.
Ela tinha uma voz poderosa e intensa, é uma delícia de ouvir, e também tocava gaita muito bem.
Foi ela quem gravou, originalmente, a canção Hound Dog, que ficou famosa na versão de Elvis Presley anos mais tarde. Ela também gravou um álbum com a banda de Muddy Waters, pioneiro no uso da guitarra elétrica.
Recomendo que baixem tudinho que encontrarem dela!
Summertime
Big Mama Thorntom, 1969
(Considero esta a melhor versão de todos os tempos. Me deixa toda arrepiada!)
Hound Dog (com Buddy Guy, 1965)
Elvis cantando uma versão um pouco mais acelerada de Hound Dog:
Veja mais Big Mama no YouTube:
Ball and Chain
Rock Me
Ainda mais recentemente, graças ao lindo trabalho da Mara (valeu!) no blog Pintando Música, eu descobri um cara chamado Howlin' Wolf, o Lobo Uivante. E foi desses momentos "como é possível que eu nunca ouvi isso antes?!?".
Wolf, Chester Arthur Burnett na certidão de nascimento, era um cara grandalhão com uma voz rouca, voz de "Trovão", como também o chamavam. Tocava gaita e guitarra.
Howlin' Wolf, assim como outros personagens ilustres como Muddy Waters, é retratado no filme Cadillac Records, de 2008. Totalmente recomendado.
Ele rouba todas as (poucas) cenas em que aparece, com sua personalidade forte e sua convicção. E, embora fizesse pose de mau, parece que era um cara muito gentil e muito fiel a seus valores morais.
Existe um documentário sobre ele; ainda vou assistir.
Faleceu em janeiro de 1976, aos 65 anos de idade. Dizem que sua lápide foi comprada por Eric Clapton.
Eu também recomendo que não deixem passar nada dele!
Wolf e Big Mama não páram de tocar aqui em casa!
Don't Laugh at Me
Howlin' Wolf, 1964
E falando de Cadillac Records, outra artista retratada no filme (interpretada pela Beyoncé) é a cantora Etta James.
Não é uma das minhas cantoras favoritas, mas certamente merece estar aqui.
O filme mostra bem seu drama particular, que incluiu depressão, abuso de drogas e tentativa de suicídio. Mas esta mulher impressionante passou por tudo isso e, aos 73 anos de idade, continua lançando álbuns e se apresentando.
E sua voz emociona! Ela fala sério cada palavra.
Something's Got A Hold On Me
Etta James, 1962
Quer ouvir mais?
Visite o ótimo Pintando Música!
(E se você também gosta de blues, recomendações são bem-vindas!)
PERGUNTAS E RESPOSTAS: SOBRE ABORTO
Há 6 dias
Um comentário:
Mari!!! Parabéns!!! Excelente artigo.
O blues é um estilo impar com várias vertentes e sabemos que foi praticamente o berço do Rock.
Vc sabe que amo música e particularmente acho que as pessoas (não todas é claro) tem pouca informação sobre a História dos mais variados estilos musicais, por isso artigos assim são tão importantes.
Que bom que está curtindo mais o Blues, pois mexe com os sentidos e o imaginário.
Parabéns.
Bjs.
Lidia de Oliveira.
PS: Corrigindo o erro do comentário anterior. rsrsrs
Bjks.
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