segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Mais sobre a PM na USP e a ocupação da FFLCH

Assembléia de alunos na FFLCH ocupada, sábado, 29 de outubro

Desculpem insistir no assunto, mas o "time fora PM" e o "time via a PM" continuam fazendo campanha, e eu gostaria de divulgar um texto da bióloga (e amiga minha) Flávia Ferrari.
Ontem, ela publicou em seu perfil no Facebook uma frase do estudante de Ciências Sociais da FFLCH, Rafael Pacheco Marinho:

"Se você acha que a resistência à permanência da Polícia Militar do campus de uma universidade é só para que "maconheiros possam se drogar em paz" então você não entendeu nada."
Questionada sobre "para que é, então?", ela respondeu:
Bom. Primeiro precisa ver se os caras estavam fumando mesmo. Hoje conversei com um pessoal que estava por lá e parece que a PM já tinha feito uma batida antes, enquadrando barbudos que estavam estudando embaixo de uma árvore (claramente uma atitude suspeita) e não acharam nada. Voltaram duas horas depois e numa nova batida, acharam maconha. Agora peralá. Acho que o Morrinho na entrada da FFLCH não é exatamente um centro de violencia que justifique DUAS batidas no período de duas horas.
(observação: eu também tenho ouvido muitos casos de estudantes da FFLCH que eram abordados e revistados sem motivo)
A polícia já era liberada de entrar no Campus desde 2007. Inclusive a reunião do conselho gestor do campus criou um fórum para discutir diversos pontos, entre eles segurança e já tinham liberado o acesso... bastava ver a qualquer hora em qualquer restaurante da USP.

A questão é: Eles não impediram os 4 sequestros esse ano... Eles não impediram o assassinato do Felipe de Paiva (que diga-se de passagem, reagiu ao assalto. Condição que sempre é usado em justificativas da PM como algo perigoso e que pode induzir o "marginal" (sic) a cometer o crime).

Além disso é engraçado o pensamento que rola tanto na esquerda quanto na direita da "USP-Bolha". Ou acham que é um consulado com leis próprias ou acham que tem mais é que encher de polícia atrás de cada árvore para se sentir seguro no "mundinho". A violência é um problema urbano e generalizado.

O estudante foi assassinado e então começou a comoção como a PM ostensiva como grande solucionadora para trazer de novo a paz à bolha chamada USP (pois muitos a vem assim... tudo bem ser assaltado fora, o problema é bulirem com meu mundinho). Bom... os índices de criminalidade não baixaram, crimes continuaram sendo cometidos dentro e fora (e próximo) da USP.

Então alegar que a polícia "estava fazendo seu papel" coibindo algo ilegal é só corroborar sua ineficiência. Ela apenas se prestou a coibir crimes menores... talvez com mais visibilidade, mas eficiência nula.

Eu acredito piamente que só se respeita o que se conhece e se cria vínculos. E sobre isso tem pesquisas e pesquisas. Diversas escolas que se abriram para o bairro aos finais de semana tiveram quedas no vandalismo e furtos. Enquanto a USP se fechar cada vez mais, mais "visada" ela será, pois a não ser para sua comunidade, ela não faz sentido pra mais ninguem.

Murar... encher de polícia com rota ostensiva... nada disso adianta e os números estão aí pra isso.

Eu acho que boa iluminação, bom sistema de inteligência e principalmente, deixar a USP cada vez mais inserida no cotidiano da cidade (e não apenas como passagem) melhores soluções do que simplesmente a "rota na rua". Ela já se mostrou ineficaz.

Acho que a grande questão nessa discussão toda é: O policiamento ostentivo é solução para o problema de violência? Outras medidas preventivas estão sendo tomadas?

Cabe lembrar que o porte e uso de drogas não é considerado crime pela legislação brasileira. A lei 11.343 o art. 48, parágrafo 2°, determina que o usuário seja prioritariamente levado ao juiz (e não ao delegado), dando clara demonstração de que não se trata de "criminoso", a exemplo do que já ocorre com os autores de atos infracionais, além de deixar claro que o porte de drogas não pode resultar em “prisão em flagrante”. A polícia porém resolveu colocar os três estudantes num camburão e levá-los à delegacia, o que revoltou muitos estudantes presentes.

Os policiais então, em outra atitude ilegal, retiraram suas identificações, mostrando que o uso da violência já estava premeditado, como inúmeros vídeos disponíveis na internet mostram.

Infelizmente, a PM, que tinha como papel “coibir os crimes contra estudantes” passou ela mesma a cometer infrações e a focar suas energias em contravenções não violentas mas mais fáceis de se atacar. Será que agora usará da mesma energia para qualquer ato ilícito no campus como por exemplo a cópia de um livro? É essa a sua função? Isso garantirá a segurança?

Medidas simplistas como a dicotomia “fora PM” X “sim a PM” não resolvem absolutamente nada. Porém, a USP prefere resolver seus problemas se isolando cada vez mais. Agora, 17 viaturas para levar 3 estudantes para assinar termos substanciados e duas batidas num local sem histórico de crimes violentos nos faz pensar se a PM realmente estava lá para "proteger a comunidade."

Os jornais e a televisão mostram os estudantes da FFLCH como um bando de rebeldes sem causa desocupados, e colocam a opinião pública contra eles.
Olha, eu não apóio essas ocupações, e desde o meu segundo ano de graduação passei a ser contra a maioria das greves, que ocorrem praticamente todo ano. Mas a manifestação na FFLCH tem um propósito maior. Eles não estão apenas querendo "o direito de fumar maconha", nem são "um bando de bucha de canhão de traficantes", e quem está "sujando a imagem da USP" é a cobertura de imprensa.

A FFLCH tem a tradição de ser a faculdade da USP que mais inicia e participa de manifestações e greves. Mas isto faz de seus alunos uns "desocupados", uns "drogados"?
Segundo ranking internacional feito pela TopUniversities, nove cursos da Universidade de São Paulo aparecem entre os 200 melhores do mundo. Dentre esses, seis são da FFLCH.

Este episódio poderia e deveria levar a discussões sérias sobre qual é o papel da PM dentro do campus e que medidas devem ser tomadas para reduzir a violência, mas infelizmente o debate ficou nessa superficialidade de dois lados defendendo duas posições extremistas ("fora PM, blábláblá ditadura" e "viva a PM, abaixo os drogados vagabundos")... dá um misto de preguiça e descrença na humanidade...

3 comentários:

Carla disse...

Pois eh, eu nao aguento mais, e eu nem to mais lah. O Ari mandou um texto, eu dei share no facebook, dah uma olhada. Sera que ninguem ve que a discussao nao eh essa?

Anônimo disse...

Algo foi esquecido: a posse de drogas ilícita não é crime dependendo de sua quantidade, o q poderia caracterizar tráfico. Outro ponto esquecido: se há grande circulação de drogas é pq há alguém q a forneça dentro do campus, ou seja, dentre estudantes, usuários e reacionários existem traficantes, estes devendo ser responder pelo crime de tráfico de drogas, inafiançável. Ainda, apesar da posse de drogas não configurar crime, é um ilicito penal, em todo o país, não estando a USP isenta a aplicação da Lei 11.343/2006, configurando em muitos casos também o crime de apologia ao crime. Infelizmente, os usuários, sim, usuários, pq se estivessem na boca de fumo assim iriam ser intitulados, esquecem q seu vício, para eles de cunho pseudo-intelectual, financia o tráfico, possibilita a compra de armas e consequentemente financiam a violência. Sim, a PM q tanto desejam afastar esta lá para coibir a violência financiada por todos estes q a querem fora dali. Será que o direito de fumar maconha é mais importante q o direito a vida? Será q as criançinhas q vivem em mundo de fadas terão consciência q um efetivo desarmado seria insignificante comparado a criminosos cada vez mais bem armados? A única coisa q isso resultou foi a aversão da sociedade q passa a generalizar que todo estudante da USP é maconheiro...

Indignação disse...

Se voce não sabe, e legitima e o que a lei permite, estes babacas da usp não estão criando um futuro estão querendo passar ferias com dinheiro publico .

E impressionante a falta de capacidade das pessoas que apoiam uma ação desta como voce.

Não importa o motivo e sim que esta no codigo Civil e temos obrigação de respeitar.