sábado, 30 de abril de 2011

Quero falar de blues!

Quero fazer uma pequena pausa na campanha em defesa do Código Florestal Brasileiro, ainda que seja um assunto urgente e digníssimo de atenção!
Parafraseando, aqui de improviso, o professor John Keating, a defesa do nosso planeta é uma causa nobre e necessária para manter a vida. Mas música é uma das coisas pelas quais nós vivemos.


Eu tenho ouvido muito blues ultimamente.
Engraçado que, até recentemente, eu não conhecia nada de blues.
Meus pais sempre ouviram mpb (e um pouco de chanson francesa). Desde pequena eu adoro rock - rock clássico, que muita gente até considera um sub-gênero do blues. E já curtia Rolling Stones e Cream, que gravaram muito blues. Mas as poucas vezes que eu parava para ouvir blues mesmo, eu achava... meio chatinho.

gatinho envergonhado
Isso começou a mudar há uns dois anos atrás.

capa do DC Brownie and Sonny - The Giants of the BluesEu estava estudando gaita, autodidaticamente (estudo que foi interrompido há meses por tempo indeterminado, porque eu estava ficando com os lábios machucados, mas ainda espero retomar) e meu pai me deu um cd de blues que ele tinha em casa e que achava... meio chatinho.

Foi esse CD aí ao lado.

Sonny Terry e Brownie McGhee, respectivamente gaitista e violonista, fizeram muito sucesso com seu blues acústico, gravando e fazendo uma turnê atrás da outra, desde o início da parceria na década de 1940 até os anos 80. E não era pra menos:

Walk On
Brownie McGhee & Sonny Terry, final da década de 70


A partir dessa "revelação", eu comecei a me interessar mais pelo gênero e a procurar outras coisas para ouvir.

Fiquei conhecendo um pouco do trabalho de Robert Johnson, de quem todo mundo que conhece blues já ouviu falar; diz a lenda que ele vendeu a alma ao diabo em uma encruzilhada em troca da habilidade musical. Sua canção mais conhecida chama-se Crossroads, "encruzilhada" (e tem uma outra chamada Me and the Devil).
Ajudam a aumentar a lenda em torno do nome dele (além, é claro, de seu virtuosismo no violão) o fato de não se saber ao certo quando ele nasceu (há divergência entre seus documentos, mas teria sido entre 1909 e 1912) e qual a causa de sua morte prematura em 1938 (talvez envenenado por um marido ciumento). Gravou apenas 29 músicas em toda a sua vida.

Ele foi uma grande influência para muitos músicos, muitos o consideram o mais importante cantor de blues que já existiu.
Eu, no entanto, confesso que não curti muito, achei monótono, pra ficar ouvindo uma música seguida de outra.

Crossroads
Robert Johnson


Versão do Cream (vídeo de 1968, vejam o jovem Eric Clapton):


Também adoro a versão com a cantora Jonell Mosser, mas não encontrei para partilhar aqui.

Bem, passei por muitos outros artistas, até que no começo deste ano minha aventura pelo blues revelou uma verdadeira jóia e eu ganhei uma "ídola". Seu nome era Willie Mae, mas muitos só a conhecem como Big Mama Thorntom.

Willie Mae 'Big Mama' Thorntom Ela começou a cantar ainda criança na Igreja Batista, onde seu pai era ministro e sua mãe, cantora.
Iniciou sua carreira no blues em Houston, Texas, em 1948.
Infelizmente, faleceu no ano em que eu nasci, 1984, aparentemente por problemas de saúde relacionados ao alcoolismo.

Ela tinha uma voz poderosa e intensa, é uma delícia de ouvir, e também tocava gaita muito bem.
Foi ela quem gravou, originalmente, a canção Hound Dog, que ficou famosa na versão de Elvis Presley anos mais tarde. Ela também gravou um álbum com a banda de Muddy Waters, pioneiro no uso da guitarra elétrica.

Recomendo que baixem tudinho que encontrarem dela!

Summertime
Big Mama Thorntom, 1969

(Considero esta a melhor versão de todos os tempos. Me deixa toda arrepiada!)

Hound Dog (com Buddy Guy, 1965)


Elvis cantando uma versão um pouco mais acelerada de Hound Dog:


Veja mais Big Mama no YouTube:
Ball and Chain
Rock Me


Howlin' WolfAinda mais recentemente, graças ao lindo trabalho da Mara (valeu!) no blog Pintando Música, eu descobri um cara chamado Howlin' Wolf, o Lobo Uivante. E foi desses momentos "como é possível que eu nunca ouvi isso antes?!?".
Wolf, Chester Arthur Burnett na certidão de nascimento, era um cara grandalhão com uma voz rouca, voz de "Trovão", como também o chamavam. Tocava gaita e guitarra.

Howlin' Wolf, assim como outros personagens ilustres como Muddy Waters, é retratado no filme Cadillac Records, de 2008. Totalmente recomendado.
Ele rouba todas as (poucas) cenas em que aparece, com sua personalidade forte e sua convicção. E, embora fizesse pose de mau, parece que era um cara muito gentil e muito fiel a seus valores morais.
Existe um documentário sobre ele; ainda vou assistir.

Faleceu em janeiro de 1976, aos 65 anos de idade. Dizem que sua lápide foi comprada por Eric Clapton.

Eu também recomendo que não deixem passar nada dele!
Wolf e Big Mama não páram de tocar aqui em casa!

Don't Laugh at Me
Howlin' Wolf, 1964



capa do CD Let's Roll, da cantora Etta JamesE falando de Cadillac Records, outra artista retratada no filme (interpretada pela Beyoncé) é a cantora Etta James.
Não é uma das minhas cantoras favoritas, mas certamente merece estar aqui.

O filme mostra bem seu drama particular, que incluiu depressão, abuso de drogas e tentativa de suicídio. Mas esta mulher impressionante passou por tudo isso e, aos 73 anos de idade, continua lançando álbuns e se apresentando.
E sua voz emociona! Ela fala sério cada palavra.




Something's Got A Hold On Me
Etta James, 1962



Quer ouvir mais?
Visite o ótimo Pintando Música!

(E se você também gosta de blues, recomendações são bem-vindas!)

Twitaço sábado: #VocêPodeAdiar

[ATUALIZAÇÃO: até o dia da votação, ou até a votação ser adiada, o twitaço se repetirá todos os dias no mesmo horário! A partir das 15h30, esceva #VocêPodeAdiar em todas as suas postagens no twitter, e poste bastante!]

Porque o relatório foi ou está sendo reescrito e ninguém sabe o que vai para votação se o Código Florestal for votado semana que vem conforme previsto!

convocação para o twitaço relâmpago #VocêPodeAdiar
É só escrever a hashtag #VocêPodeAdiar em todas as suas mensagens no twitter amanhã, a partir das 15h30, para exigir o adiamento da votação.

O povo tem o direito de saber!
Todos têm que ser ouvidos!
De tratoraço, não!

sexta-feira, 29 de abril de 2011

Artigo de pesquisador da Esalq sobre Código Florestal

O Dr. Sergius Gandolfi, professor e pesquisador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), escreveu um artigo a respeito da proposta de alteração do Código Florestal que tramita na Câmara.
O artigo foi enviado para o jornal Folha de São Paulo, que se recusou a publicá-lo.

É muito importante que essas informações venham a conhecimento do público!
Os políticos estão se esforçando ao máximo para que a ciência seja ignorada na discussão do Código Florestal. Todo o país sofrerá as conseqüências.

A pedido do professor, publico aqui o texto na íntegra:

Novo Código Florestal: Crime Contra os Brasileiros
(27/04/2011)

A pretensa revisão atual do Código Florestal não nasceu do reconhecimento de que a lei atual é prejudicial ao Brasil, antes essa revisão é um esforço de parte daqueles que, tendo infringido a lei em vigor, procuram agora, ávidos, um mecanismo público para o perdão aos seus lucros indevidos e aos danos ambientais que produziram, mas que ainda pretendem assaltar o patrimônio real e permanente do Brasil, o meio ambiente de que todos nós dependemos. A questão é séria demais para o futuro do Brasil para que ela seja decidida às pressas com a “faca” posta na garganta do governo de ocasião. Ela demanda tempo, discussão pública, real envolvimento da imprensa e do cidadão urbano, que representa mais de 80% da população brasileira, que será a grande lesada com essa nova lei.

O assunto é complexo, necessitando extensa e profunda reflexão, pois longe ser um tema restrito ao campo e ao agricultor, a adequação da lei florestal representa uma oportunidade real de reduzir a degradação ambiental em curso, e de dar destinação econômica à biodiversidade única do país.

Não havendo espaço aqui para discussão de toda a equivocada proposta de novo Código Florestal, ressaltemos apenas dois dos maiores absurdos previstos, a redução pela metade da área de florestas nativas de proteção que deveria existir na maior parte das margens de rios brasileiros, e a proposta de consolidação da degradação já existente. A primeira dessas propostas significa colocar mais cultivos ainda mais próximos dos rios pequenos, e ao mesmo tempo diminuir pela metade as áreas de florestas nativas que protegem esses rios da erosão. Isso justamente nos rios com menores calhas e que por isso mesmo são os que tem maior risco de serem entupidos pela erosão que vem das áreas agrícolas. A segunda proposta é ainda pior, pois prevê que ao contrário de proteger os cursos d’ água da erosão, obrigando-se o proprietário rural a recuperar com florestas nativas as margens dos rios que está ocupando com plantios ilegais, seja possível manter para sempre esses plantios nessas áreas, tornando permanente a degradação dos rios brasileiros.

Trata-se de uma lei para degradar ainda mais o Brasil!

A nova proposta de Código Florestal, olhando apenas para os interesses do agricultor irregular, mas não para os interesses do Brasil, muda, de forma astuta, o critério de medida da largura dos rios, fazendo “encolher” os rios e conseqüentemente a largura das áreas que deveriam ter florestas nativas de proteção. Como conseqüência, essa medida reduz as florestas de proteção na maioria dos rios brasileiros. Pior, em rios com até cinco metros de largura (rios agora de largura encolhida) propõe-se reduzir criminosamente as florestas ribeirinhas, que seguram as terras vindas das áreas cultivadas (erosão) e que filtram e água que chega aos rios, de 30 para apenas 15 metros, ou seja, aumentado-se dessa forma a área agrícola em 15 metros.

Mais lucro em troca de mais degradação!

Um absurdo que, os jornais informam, o atual governo está feliz em aceitar.

Tal proposta reduzirá as matas ciliares na imensa maioria das margens dos rios brasileiros e no curso do tempo transformará em fiasco a transposição rio do São Francisco, reduzirá o tempo de vida de todos os reservatórios de abastecimento público, de todos os reservatórios de geração de energia elétrica, reduzirá o tempo de vida de todas as turbinas de geração das usinas hidroelétricas (aliás, as ações das empresas do setor vão desabar), tornará permanente a necessidade de dragagem dos portos fluviais e marítimos, reduzirá a capacidade do transporte fluvial, tornará mais difícil e caro o tratamento das águas em todas as cidades, aumentará a freqüência e a severidade das cheias em áreas rurais e urbanas, elevará o número de estradas e pontes destruídas nesses eventos, reduzirá a produção de pescado, etc.

Triste observar que o público, em geral, e os meios de comunicação, em particular, estão sendo enganados pelo discurso recorrente de que não haverá agricultura se houver respeito ao Código Florestal atual. Trata-se de fazer crer que estando à maioria dos agricultores em desacordo com a lei todos eles são iguais. Assim um produtor 1%, e outro 100% irregular, seriam nesse discurso matreiro igualados. Não, não eles são iguais! O pequeno proprietário que pressionado pela dimensão restrita do seu lote cultiva irregularmente da margem de um rio é igualado no discurso falacioso ao grande pecuarista, sojicultor ou canavieiro que, com fartura de áreas e abundância de recursos, por vontade, e não por necessidade invade as terras destinadas as matas de proteção dos rios para aí ampliar a sua fortuna.

Faz-se uma discussão pública de maneira a sugerir que na maior parte das terras agrícolas o uso indevido das áreas de preservação permanente (APPs) na margem dos rios seria uma necessidade imposta ao pequeno agricultor pela necessidade absoluta de viabilidade econômica, no entanto, a maioria das APPs irregulares não estão na mão dos pequenos! Ao contrário, cerca de 70% das terras agrícolas brasileiras estão na mão de aproximadamente 11% dos proprietários (Censo 2006), indicando que na maioria das terras brasileiras a opção pelo uso ilegal das APPS não resulta da escassez de área para produção, sendo antes uma opção deliberada pelo lucro indevido, pela apropriação indébita.

Dados da Folha de São Paulo de dias atrás permitem avaliar a dimensão do lucro indevido que a ocupação irregular pode gerar. Segundo esse jornal, neste ano a safra de milho ou soja no Paraná produzirá um lucro de muito mais de R$ 1.000,00 por hectare cultivado. Isso significa que numa propriedade de 500 hectares, com 10% de APPs de margens de rio, e na qual, apenas metade dessa área (25 hectares) está sendo hoje ilegalmente cultivada, o lucro indevido do agricultor será de R$ 25.000,00, ou seja, equivalente a um carro popular. Em contrapartida, sem matas ciliares a erosão produzida nessas terras alcançará o curso d’ água, levando sedimentos, excesso de adubos e agrotóxicos que degradarão localmente o rio, mas que ao serem parcialmente transportados pela correnteza para áreas distantes irão, por exemplo, assorear reservatórios de água, ou de geração de energia elétrica, ou portos, ou gerar cheias em áreas rurais e urbanas distantes, etc.

Concentra-se o lucro e socializa-se o prejuízo, ao se gerar maiores custos de captação e de tratamento de água, de controle da poluição hídrica, de manutenção e ou reconstrução de infraestruturas, etc.

O atual Código Florestal não é um conjunto de leis perversas e sem sentido, ao contrário, salvaguarda o interesse real do conjunto da sociedade brasileira. Em contrapartida, a maioria dos artigos a nova proposta de Código Florestal representa o atraso, e a falta de compromisso com o bem estar comum, em favor de vantagens e lucros indevidos, sobretudo para um pequeno conjunto dos grandes proprietários rurais que, se ele vier a ser aprovado, receberão anistias, não recuperarão o que degradaram, e ainda conseguirão converter áreas de proteção em áreas agrícolas. Sendo esses proprietários donos da imensa maioria das terras agrícolas brasileiras, serão eles os principais beneficiados pelas propostas de mudança do Código Florestal em discussão no Congresso, enquanto o principal prejudicado será o Brasil, que verá ser degradado o seu o patrimônio real e permanente, os seus rios, as suas cachoeiras, etc.

As diferentes causas de inadequação ao Código não devem ser anistiadas, em todos os casos deve-se reconhecer o passivo ambiental atual, mas o poder público deve dar um tratamento desigual e justo para aqueles que, por causas distintas, estão irregulares.

Deve-se imediatamente auxiliar o pequeno agricultor que invadiu incorretamente áreas marginas dos rios, com uma política pública que, através das secretarias estaduais de meio ambiente, forneça orientação técnica e mudas, para a restauração integral das florestas ribeirinhas, forçando-se à gradual desocupação dessas áreas que garantem a sobrevivência dos rios. Ao mesmo tempo eles devem receber também, das secretarias estaduais de agricultura, assistência técnica destinada a aumentar a produtividade das áreas que realmente devem ser agrícolas, e que devem prover o sustento do agricultor, e sua melhoria de vida. Dessa forma a redução de área cultivada, não se refletiria numa redução de renda, ao contrário, visaria aumentá-la pelo incremento da produtividade. Apenas para esses pequenos agricultores que estariam se regularizando, vantagens econômicas como, créditos, prazos e certificação ambiental, deveriam ser mobilizados por governos estaduais, ou pelo governo federal.

Diferentemente da proposta de novo Código Florestal que prevê a redução das áreas de proteção, consolidação da ocupação irregular das margens dos rios, levando conseqüentemente à manutenção da degradação ambiental, o uso do Código Florestal em vigor, associado a políticas públicas justas, seria suficiente para gerar proteção, produção e melhoria de qualidade de vida.

Quanto ao grande produtor irregular que abasteceu seu patrimônio particular com o lucro indevido do desrespeito à lei, esse no mínimo, deve arcar com o ônus de, em curto prazo, recuperar a floresta ribeirinha que os seus irregulares impediram de se formar, nas margens de rios que ele ocupa. Em contrapartida, ao se regularizar também ele será beneficiado, pois estará se tornando apto a certificar ambientalmente a sua produção, um mecanismo que pelo seu respeito à legislação ambiental lhe permitirá agregar valor à sua produção.

Outros tantos aspectos relevantes do Código Florestal demandam espaço para sua discussão, no entanto, é preciso no mínimo dizer que a manutenção das Reservas Legais em todas as propriedades rurais, antes de ser um obstáculo, é uma oportunidade que o Brasil não pode perder, pois permitiria imediatamente dar uso efetivo à nossa biodiversidade florestal

Governos municipais, estaduais, e federal inteligentes, veriam nessas Reservas como uma nova oportunidade de cadeias produtivas, de negócios, de distribuição de renda, e de geração de empregos, a partir de produtos que são únicos no mundo, por serem exclusivos do Brasil.

É papel desses governos e dos políticos abertos para o futuro trabalharem duro na criação de cadeias produtivas de produtos florestais produzidos em Reservas Legais, pois o agricultor poderia estar ambientalmente regular e ao mesmo tempo passar rapidamente a lucrar abastecendo o mercado interno e externo de lenha, carvão, madeira (carpintaria e movelaria), de frutas únicas no mundo (in natura ou processadas), de cosméticos, de fármacos e muitos outros produtos.

O Código Florestal é a oportunidade de recuperar passivos ambientais e de gerar um Brasil novo, com proteção e produção florestal em cada propriedade rural, de articular a lei florestal com o uso racional da biodiversidade, de geração de mais ciência, de mais tecnologia, de mais produtos, de mais crescimento.

Só não deve ser o sonho equivocado de lucrar degradando.

Sergius Gandolfi
Laboratório de Ecologia e Restauração Florestal
Departamento de Ciências Biológicas
Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”
Universidade de São Paulo

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Universidade Federal do Paraná também manifesta-se contra as alterações do Código Florestal

A Universidade Federal do Paraná aprovou hoje moção em defesa do atual Código Florestal.

"Consideramos, portanto, prematura, precipitada, inconseqüente, inconstitucional e com fraca base de argumentos científicos as propostas de mudanças nesta essencial legislação brasileira"

~ trecho da Moção em Defesa dos Rios e das Florestas do Brasil

Leia o documento na íntegra:

MOÇÃO EM DEFESA DOS RIOS E DAS FLORESTAS DO BRASIL

No ano em que se celebra o Ano Internacional das Florestas assistimos a uma das maiores catástrofes naturais de que se têm notícias no nosso litoral e em várias regiões do Brasil. Nos defrontamos com a percepção da importância estratégica que as florestas da Serra do Mar e da Planície Litorânea – a Mata Atlântica - desempenham na vida cotidiana da população do Litoral do Paraná e entendemos claramente que aqui a tragédia humana poderia ter tido dimensões muito maiores não fosse a proteção ambiental que o Código Florestal Brasileiro, nossa Carta Magna da Natureza, impõem às chamadas áreas de risco (encostas de montanhas, margens de rios, manguezais e restingas). Outrossim, temos plena ciência da importância desta lei para promover a qualidade de vida de todos os brasileiros especialmente relacionada à manutenção dos serviços ecossistêmicos e seus benefícios sociais, entre os quais a disponibilidade de recursos hídricos para abastecimento público, o controle hídrico, o controle de erosões, a segurança social territorial, a qualidade dos solos e das águas, a manutenção da biodiversidade, a regulação climática, a produção de alimentos e a conservação do modo de vida das comunidades que vivem diretamente destes recursos.

Consideramos, portanto prematura, precipitada, inconseqüente, inconstitucional e com fraca base de argumentos científicos as propostas de mudanças nesta essencial legislação brasileira lideradas pela Frente Parlamentar Agropecuária, apresentada no Projeto de Lei 5.367/09 de relatoria do Deputado Federal Aldo Rebelo. Nos alinhamos às posições da Academia Brasileira de Ciências, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, Ministério do Meio Ambiente e dos diversos Movimentos Sociais em defesa do atual Código Florestal Brasileiro. A Universidade Federal do Paraná, enquanto a mais antiga instituição superior de ensino público do Brasil, símbolo do povo paranaense, referência no ensino superior do Estado e do Brasil e envolta por uma história de muitas conquistas, desde 1912 – demonstra com esta moção em defesa das florestas e dos rios do Brasil e contrária às mudanças no Código Florestal sua grande preocupação e responsabilidade social perante a comunidade paranaense e a população brasileira acreditando que qualquer proposta de alteração de uma legislação desta magnitude deve ser amplamente discutida com a sociedade para ser aprimorada em direção as tendências do século XXI em atender as necessidades para o bem comum da nação e não para atender de forma desastrosa os interesses de grupos minoritários ligados ao agronegócio. Nossa Constituição Federal é muito clara em relação a estas mudanças quando reconhece que “Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-la e preservá-la para as presentes e futuras gerações”.

Reunião do Conselho Universitário da Universidade Federal do Paraná, realizada no dia 14 de abril de 2011 em Matinhos, Litoral do Paraná. A Moção foi aprovada no COUN, hoje, dia 28/04/2011 justamente o dia em que se celebra nas ruas do Brasil inteiro a defesa das florestas, dos rios e da vida.
(fonte: Movimento Com Florestas)

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Breve apanhado sobre o Código Florestal

Bem, como todos que entram aqui devem estar sabendo, amanhã (28 de abril) é dia de manifestações em defesa do Código Florestal Brasileiro em várias cidades.

A lista, por enquanto, tem 9 cidades: São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Natal, Volta Redonda, Florianópolis, Salvador, Fortaleza e Piracicaba.
Se você está em uma dessas cidades, participe!

Eu tenho me esforçado para divulgar as manifestações, e alguns ruralistas têm vindo discutir comigo trazendo os mesmos velhos argumentos que vemos Aldo Rebelo e Kátia Abreu repetindo como disco riscado, e que já foram refutados por muita gente.
(sim, eu também tenho me sentido um disco riscado tendo que repetir os mesmos argumentos contrários, e também repetindo toda hora a divulgação das manifestações... e por isso peço sinceras desculpas aos meus leitores e seguidores em redes sociais)

Bom, por tudo isso, eu juntei algumas imagens para expor alguns desses argumentos contra o "novo" Código Florestal.
Desta forma, é fácil ler e lembrar na hora em que algum ruralista tentar colocar você em uma saia-justa.

Em primeiro lugar; devastar para produzir é coisa do passado.
O mundo inteiro está tentando encontrar meios de proteger o que resta dos ecossistemas, e é cada vez mais importante proteger as águas e reduzir a emissão de gases-estufa.
O "novo" Código Florestal vai contra tudo isso.
E ainda por cima, corre o risco de ser aprovado no ano eleito pela ONU para ser o "Ano Internacional das Florestas"!

o Código Florestal e o Ano Internacional das Florestas
O Brasil, com toda a sua biodiversidade e com o avanço que tem tido nas ciências, deveria ser um exemplo para o mundo, não andar para trás!

E, falando em ciência, cientistas já se manifestaram contrários à proposta de alteração do Código que tramita na Câmara.
Na última segunda-feira, a ABC e a SBPC apresentaram um amplo estudo a respeito. E o que os políticos fazem? Ignoram!
Que vergonha!

capa do livro-relatório da SBPC e ABC sobre os impactos do novo Código Florestal - políticos, não ignorem a ciência!
Mas, sabem por que os políticos ignoram?
Porque têm interesses pessoais envolvidos!

23 parlamentares cometeram crimes ambientasi
O Correio Braziliense fez um levantamento nas multas e embargos do Ibama, e descobriu que 18 parlamentares já foram autuados e multados pelo órgão (e estão enrolando na Justiça para não pagar, claro; afinal, apenas 1% das multas aplicadas pelo Ibama são quitadas!), e 12 parlamentares (alguns nomes se repetem) tiveram obras e propriedades rurais embargadas por crimes ambientais.

Eu cresci ouvindo, a vida inteira, que a legislação ambiental brasileira é a melhor do mundo, o problema é a aplicação da lei.
Pois, agora, os políticos estão querendo nivelar por baixo e tornar a lei tão ruim quanto a aplicação, para legalizar os criminosos? Que raciocínio é esse?

Alguns produtores não acreditam que a lei seja importante. Eles realmente acham, ou pelo menos querem nos convencer, que não vai ter problema nenhum desmatar e acabar com as Reservas Legais e as APPs, ao contrário do que dizem os cientistas.

Isto não é sustentável!
Perdi a conta de quantas vezes por dia eu li, nesta última semana, que é um absurdo ter que preservar 80% da área na Amazônia.

sem a floresta, a Amazônia vai virar um deserto.
A foto acima é de uma área desmatada na Amazônia


O Código Florestal atual pode não ser perfeito, mas para que ele melhore é preciso muito estudo; analisar as particularidades de cada ecossistema e de cada região, e também mudar a forma como nossa agricultura produz.
Só assim podemos ter um desenvolvimento sustentável.

Ou então, vai continuar acontecendo isto:

impactos do novo Código Florestal - Sergius Gandolfiimpactos do novo Código Florestal - Sergius Gandolfi
As duas fotos acima mostram situações que serão legalizadas com a aprovação da proposta que tramita na Câmara.
Imagens da apresentação sobre os impactos da mudança no Código Florestal, do Dr Sergius Gandolfi, da Esalq. Os slides da apresentação estão disponíveis no site da Frente Parlamentar Ambientalista.


Isto já foi um rio - é o que vai virar regra, com o novo Código Florestal
A Usina Hidrelétrica de Assis Chateaubriant não durou 10 anos funcionando. Ela parou de gerar energia, porque as APPs dos rios que a abasteciam não foram preservadas conforme manda a lei e secaram.

Sergius Gandolfi - desmatamento acaba com hidrelétrica de Assis ChateaubriantSergius Gandolfi - desmatamento acaba com hidrelétrica de Assis Chateaubriant
Imagens da apresentação do Dr Sergius Gandolfi, da Esalq.

Um argumento recorrente dos ruralistas, na verdade dois-em-um, repetido à exaustão pelo Aldo Rebelo, é que nós precisamos aumentar a área de produção para podermos competir no mercado internacional com países europeus e os Estados Unidos, que, segundo a lógica deles, já teriam destruído todas as suas florestas.

Aldo Rebelo: mentiroso e cara-de-pau
Ah, para quem leu esta postagem, este argumento ruralista não vai se sustentar nem por um minuto!

A Alemanha tem um terço do território coberto por vegetação nativa, é 20 vezes menor que o Brasil e exporta mais produtos agrícolas
E isso foi só pra dar um exemplo.
Ok, 20 vezes é um arredondamento... na verdade, cabem umas 23 ou 24 Alemanhas dentro do Brasil.

a Floresta Negra, na Alemanha. Foto de Rainer SturmLago Tittisee, na Floresta Negra, Alemanha
Paisagens da região da Floresta Negra, na Alemanha. A foto à esquerda é de Rainer Sturm / pixelio.de


Além de tudo isso, podemos dizer que o "novo" Código Florestal é inconstitucional. O poder público tem o dever de preservar o meio ambiente:

O novo Código Florestal é inconstitucional. O poder público tem o dever de preservar o meio ambiente!
Porque as matas, as águas, o ar que respiramos, os animais, não pertencem a ninguém. Pertencem a todos nós, e nossa vida depende deles.

A Terra Vista do Alto: as florestas são de toda a humanidade!