terça-feira, 19 de julho de 2011

Acompanhe as discussões sobre o Código Florestal no Senado

Desde o dia 13 de julho, há um portal sobre o Código Florestal na página do Senado.

site do Senado sobre o Código Florestal
Clique aqui para acessar o portal "Reforma do Código Florestal"

O polêmico projeto de alteração da lei que protege nossas florestas e nossos recursos hídricos (que já foi assunto de muitas postagens neste blog - clique no marcador "código florestal" ali embaixo para saber mais) foi aprovado na Câmara dos Deputados no dia 24 de maio - mesmo dia em que os extrativistas José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo foram assassinados no Pará - e agora tramita no Senado.

Os ruralistas (a favor da alteração - ou flexibilização, melhor dizendo - da lei) tinham muita pressa na sua aprovação porque as punições para quem infringiu o Código atual passariam a valer no dia 11 de junho deste ano, mas, numa tentativa de barrar uma votação feita às pressas, a presidenta Dilma adiou o prazo por mais seis meses.

O principal argumento a favor da mudança é que a agricultura do Brasil precisa crescer e, para crescer, precisa ampliar seu território, reduzindo as áreas protegidas. Porém, vários estudos demonstram que isto é desnecessário e que pode trazer conseqüências muito graves.
Cientistas de várias faculdades e universidades, inclusive a Esalq (de agricultura), já se manifestaram contra o projeto. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) apresentaram um estudo, na forma de um livro intitulado "O Código Florestal e a Ciência, Contribuições para o Diálogo", no qual fazem críticas à proposta e apontam para a necessidade de elaboração de um Código Florestal com base científica.

Várias manifestações contra as mudanças já foram realizadas em todo o país,e devem acontecer outras (vai ter uma na Paulista dia 31 de julho).
Mantenha-se informado!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Dia Internacional Nelson Mandela

Nelson Mandela, Madiba Hoje o mundo celebra o 93º aniversário de Nelson Mandela e o segundo Dia Internacional Nelson Mandela.
A ONU e a Fundação Nelson Mandela fazem um apelo para que a data seja celebrada com 67 minutos de trabalho comunitário, pois "Mandela devotou 67 anos de sua vida a serviço da humanidade - como advogado de direitos humanos, prisioneiro de consciência, defensor da paz mundial e o primeiro presidente democraticamente eleito de uma África do Sul livre".

"O próprio Nelson Mandela disse certa vez: “Nós podemos mudar o mundo e torná-lo um lugar um lugar melhor. Está em nossas mãos fazer a diferença", diz o secretário-geral Ban Ki-Moon. "A melhor forma de agradecer Mandela pelo seu trabalho é agir e inspirar a mudança".

Veja 67 sugestões de ações que você pode fazer para mudar o mundo no site do Nelson Mandela Day - e não se esqueça que datas especiais são criadas apenas para que pensemos nos assuntos, mas essas ações podem - e devem - ser feitas em qualquer dia. Como diz o site, make every day a Mandela day!

Mandela passou 27 anos de sua vida na prisão por sua luta contra o apartheid na África do Sul. Ele foi libertado em 1990.
Em 1993, foi homenageado com o prêmio Nobel da paz e, no ano seguinte, foi eleito presidente nas primeiras eleições livres do país.

"Ser livre não é apenas libertar-se das correntes, mas viver
de uma forma que respeite e reforce a liberdade dos outros"
(Nelson Mandela)

Para se inspirar: O filme Mandela - A Luta pela Liberdade (título original Goodbye Bafana) mostra o período em que Mandela esteve preso, do ponto de vista de um dos guardas da prisão, e o filme Invictus, dirigido por Clint Eastwood, mostra o início de seu mandato como presidente, e a forma como um esporte - o rugby - ajudou a promover a união em uma nação dividida.



Vibração das cordas do violão

Muito legal; vi no Trabalho Sujo:

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A Marcha das Vadias

Machismo Mata - cartaz da Marcha das Vadias em RecifeRecentemente, aconteceu em várias cidades de todo o Brasil uma manifestação chamada Marcha das Vadias.

Muita gente não entendeu o sentido dessa Marcha.
Pelo que vi em boa parte dos comentários a respeito, estão achando que é para defender a promiscuidade ou algo assim. Não é nada disso!


Pura preguiça. Se gastassem um minuto para procurar na internet como a Marcha começou, ou vissem algumas imagens dos cartazes que @s manifestantes carregavam, acho que o sentido ficaria bastante claro.

Mas eu dou esse crédito para os mal-informados: boa parte dos meios de comunicação não ajudou nem um pouquinho. O que mais foi mostrado foram fotos de mulheres com roupas provocantes ou fazendo topless, reafirmando o papel das mulheres como objeto sexual, que é justamente o que essas marchas questionam!

Não sou puta nem sou santa, sou livre - cartaz da Marcha das Vadias
A Marcha das Vadias (uma das versões em português para Slutwalk) começou no Canadá, depois que um policial disse em uma entrevista que, para evitar serem estupradas, as mulheres não devem se vestir como sluts (putas).

Essa afirmação causou muita repercussão e as mulheres foram às ruas para protestar. Afinal, tod@s nós temos o direito de nos vestir como quisermos!

Um homem sem camisa... quer ser estuprado, é claro! - cartaz da Marcha das Vadias em Brasília
Cartaz da Marcha das Vadias em Brasília

Marcha das Vadias (Slutwalk) em Toronto, Canadá - não nos diga como devemos nos vestir, diga aos homens para não estuprar
Cartaz da Slutwalk em Toronto, Canadá:
"Não nos diga como devemos nos vestir, diga aos homens para não estuprar"

Ensinem aos homens que estuprar é errado, e não às mulheres que elas devem viver com medo. Senão, daqui a pouco vamos voltar no tempo e viver trancadas dentro de casa, até o dia em que nosso pai nos der em casamento, e então viveremos trancadas na casa de nossos maridos.
(Não que isso vá resolver o problema, já que, em 80% dos casos de estupro, o estuprador era conhecido da vítima, muitas vezes um membro da família)

Ensinem os homens a respeitar, não as mulheres a temer - cartaz da Marcha das Vadias em Brasília
Nossa cultura machista vive culpando a vítima nos crimes sexuais.
Quantas vezes você não viu uma notícia sobre um estupro e ouviu alguém comentar, ou até pensou, que "ah, mas ela estava bêbada" ou "também, do jeito que ela se veste..." ou "mas ela já vivia dando pra todo mundo"?

Marcha das Vadias (Slutwalk) em Toronto, Canadá - abuso sexual é o único crime em que a vítima se torna o acusado
Cartaz da Slutwalk em Toronto, Canadá:
"Abuso sexual é o único crime em que a vítima se torna o acusado"

Cartaz da Marcha das Vadias em Brasília - coisas que causam o estupro
Cartaz da Marcha das Vadias em Brasília

Agora você já sabe que a Marcha das Vadias é um protesto contra a violência sexual e contra a culpabilização da vítima de crimes sexuais.

Veja mais algumas fotos das manifestações:
São Paulo:

Estupro é questão de poder - cartaz da Marcha das Vadias em São Paulo
Marcha das Vadias em São Pauloprotestos contra Rafinha Bastos na Marcha das Vadias de São Paulo
Brasília:

Marcha das Vadias em BrasíliaMarcha das Vadias em Brasília
Recife:

Marcha das Vadias em Recife
Marcha das Vadias em Recife

Fortaleza:

Marcha das Vadias em Fortalezavários homens na Marcha das Vadias de Fortaleza
Belo Horizonte:

não sou eu quem tem que evitar o estupro; é o estuprador - cartaz da Marcha das Vadias em Belo Horizonte

sábado, 2 de julho de 2011

A Guerra da Independência do Brasil

festejos do 2 de Julho, na Bahia
2 de Julho é dia de festa na Bahia
(Guest post de Gau; meus comentários em itálico)
No último sábado, comemorou-se, na Bahia, a data de 2 de julho. Comemoração que passa completamente despercebida no restante do país. E o que se comemora nessa data? Nada menos que o fim das lutas de Independência do Brasil, com a expulsão das tropas portuguesas em 2 de julho de 1823.

quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo, exposto no Museu PaulistaParece estranho se falar de guerra de Independência, quando aprendemos na escola que a Independência do Brasil foi proclamada em 7 de setembro de 1822, quando, às margens plácidas do riacho Ipiranga, em São Paulo, o então príncipe regente D. Pedro bradou “Independência ou Morte” , e depois seguiu para o Rio de Janeiro, onde, em 12 de outubro, foi proclamado imperador. Tudo de forma pacífica. A realidade na Bahia (e no Piauí, onde se travou a Batalha do Jenipapo, em março de 1823), entretanto, foi outra. Houve guerra, violentas batalhas em terra e mar, e milhares de vítimas.

Para se compreender a independência e a guerra ocorrida na Bahia é preciso retroceder um pouco nos fatos históricos daquela época. O Brasil foi uma Colônia de Portugal até 1808. Ser Colônia significava, do ponto de vista econômico, ter apenas relações comerciais com a metrópole, para onde se exportava matéria prima e de onde se importava todo tipo de manufaturados. Do ponto de vista político, significava seguir e obedecer integralmente as ordens e leis da metrópole, sem governo próprio.
Chegada de D. João VI a Salvador - tela de Cândido Portinari
Com a vinda da família real, em 1808, fugindo da invasão de Portugal por tropas napoleônicas, a situação brasileira muda e o país perde a condição de Colônia. O comércio é aberto a outras nações, especialmente a Inglaterra, e o Brasil passa a ser sede de governo, integrando o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

A derrota de Napoleão leva os portugueses, em Portugal, a buscar retomar o domínio de seu exército (que estava sob comando inglês) e o retorno à sua condição de metrópole sede do reino. Em 1820 ocorre a Revolução Liberal do Porto, que exige o regresso de D. João VI a Portugal, o retorno do chamado Pacto Colonial (restrição do comércio brasileiro exclusivamente com a metrópole) e propõe a formação das Cortes Constituintes.

D. João volta efetivamente a Portugal, deixando Pedro como príncipe regente do Brasil. No final de 1821, as Cortes portuguesas decretam o fim da regência e o retorno do príncipe. Em 9 de janeiro de 1822, pressionado pelo partido brasileiro e pelos liberais do país, ele decide desobedecer às Cortes e ficar no Brasil. Este é o significado do “Dia do Fico”, que estudamos na escola. Em 7 de setembro, às margens do Ipiranga, ele recebe novas cartas da Corte, desta vez exigindo o seu retorno e sua submissão. É quando ocorre o grito “Independência ou Morte”.

Nesse contexto se entende melhor a guerra. Na Bahia, havia uma grande população civil de portugueses e grande contingente de soldados portugueses no exército e marinha. A cisão entre brasileiros e portugueses começa a se agravar a partir de 1821, com os primeiros conflitos. Em novembro daquele ano, por exemplo, soldados portugueses atacaram soldados brasileiros nas ruas de Salvador, culminando em um confronto maior na Praça da Piedade.

ilustração - O Martírio de Joana AngélicaEm fevereiro de 1822, é destituído o comandante das Armas, favorável ao rompimento com Portugal, e nomeado outro, completamente submisso às Cortes: Madeira de Melo. Tropas portuguesas tomam, após violentos confrontos, quartéis em Salvador em poder de soldados brasileiros. E invadem o Convento da Lapa, de freiras, onde se haviam refugiado revoltosos. À porta do convento, matam a abadessa Joana Angélica, que tentava impedir a invasão. Joana Angélica foi a primeira mártir da guerra da Independência. Surpreendentemente, ninguém sabe disso.

Outros conflitos se sucedem. Representantes da Bahia nas Cortes de Lisboa consultam por carta seus municípios sobre qual a posição da Bahia com relação a Portugal. As cidades de Cachoeira e São Francisco do Conde, seguidas pelas demais do Recôncavo, se manifestam favorável à regência e ao príncipe regente e contra as decisões da Corte. Em 25 de junho de 1822 essa posição é oficializada pela Câmara de Cachoeira. Uma escuna militar enviada por Madeira de Melo chega à cidade. Três dias depois, inicia-se o combate e o povo toma a embarcação. É o começo da guerra.
Maria Quitéria, por Domenico Failutti

Reforços chegam à Bahia para apoio às tropas portuguesas. Da parte dos brasileiros, soldados se juntam ao povo, que se arma e se mobiliza para a guerra. Surge uma heroína: Maria Quitéria, jovem que se veste de homem e se alista como voluntário, participando de inúmeras batalhas. Um herói: Luís Lopes, o Corneteiro Lopes, português que lutava do lado brasileiro. Na batalha de Pirajá, com as tropas portuguesas em maior número e quase a vencer, o comandante brasileiro ordena o toque de retirada. Por conta própria, o Corneteiro Lopes substitui pelo toque de avançar cavalaria. Surpresas e em pânico, as tropas portuguesas se desorganizam e acabam derrotadas e em fuga.


Outra heroína da Independência do Brasil, ainda menos conhecida, foi Maria Felipa de Oliveira,
que liderou a resistência aos portugueses na ilha de Itaparica:
Maria Felipa, heroína da Independência do Brasil
A guerra na Bahia prosseguirá violenta até 2 de julho de 1823 quando, derrotado, Madeira de Melo embarca para Portugal com sua tropa, e vitoriosas, as tropas brasileiras entram na capital.

O símbolo da independência na Bahia é o caboclo, identificado como o índio dono original da terra, em oposição ao colonizador europeu. Há em Salvador o monumento ao 2 de Julho, encimado pela figura do índio. Nos festejos da data, há desfile com as imagens do índio e da índia pelas ruas de Salvador.

Monumento ao Dois de Julho na Praça do Campo Grande, Salvador
Monumento ao Dois de Julho na Praça do Campo Grande, em Salvador
Abaixo: detalhes do monumento - à esquerda, o caboclo, representando o povo brasileiro; à direita, Maria Quitéria

detalhe do Monumento ao Dois de Julho na Praça do Campo Grande, SalvadorMaria Quitéria - detalhe do Monumento ao Dois de Julho na Praça do Campo Grande, Salvador
O Hino a 2 de julho foi, no ano passado, oficializado como Hino do Estado da Bahia. E o poeta baiano Castro Alves – o Poeta da Liberdade – escreveu vários poemas comemorativos, sendo o mais conhecido a Ode ao 2 de Julho:
Ode ao 2 de Julho

Era no Dous de Julho
A pugna imensa
Travara-se nos cerros da Bahia…
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
“Neste lençol tão largo, tão extenso,
“Como um pedaço roto do infinito …
O mundo perguntava erguendo um grito:
“Qual dos gigantes morto rolará?! …

Debruçados do céu. . . a noite e os astros
Seguiam da peleja o incerto fado…
Era tocha — o fuzil avermelhado!
Era o Circo de Roma — o vasto chão!
Por palmas — o troar da artilharia!
Por feras — os canhões negros rugiam!
Por atletas — dous povos se batiam!
Enorme anfiteatro — era a amplidão!

Não! Não eram dous povos os que abalavam
Naquele instante o solo ensangüentado…
Era o porvir — em frente do passado,
A liberdade — em frente à escravidão.
Era a luta das águias — e do abutre,
A revolta do pulso — contra os ferros,
O pugilato da razão — com os erros,
O duelo da treva — e do clarão! …

No entanto a luta recrescia indômita
As bandeiras – corno águias eriçadas —
Se abismavam com as asas desdobradas
Na selva escura da fumaça atroz…
Tonto de espanto, cego de metralha
O arcanjo do triunfo vacilava…
E a glória desgrenhada acalentava
O cadáver sangrento dos heróis!

Mas quando a branca estrela matutina
Surgiu do espaço e as brisas forasteiras
No verde leque das gentis palmeiras
Foram cantar os hinos do arrebol,
Lá do campo deserto da batalha
Uma voz se elevou clara e divina.
Eras tu — liberdade peregrina!
Esposa do porvir — noiva do Sol!…

Eras tu que, com os dedos ensopados
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia terra,
Sagravas livre a nova geração!
Tu que erguias, subida na pirâmide
Formada pelos mortos do Cabrito,
Um pedaço de gládio — no infinito…
Um trapo de bandeira — n’amplidão!...
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Crianças representam personagens do 2 de Julho nas festas da Independência da BahiaCrianças representam personagens do 2 de Julho nas festas da Independência da Bahia
Crianças representam personagens do 2 de Julho nas festas da Independência da Bahia
(fotos de Eduardo Martins; veja mais imagens no site do jornal A Tarde)


moradores de Salvador pedem a volta do nome original do aeroporto, durante os festejos de 2 de Julhocampanha O Aeroporto de Salvador é 2 de Julho
O nome do aeroporto da cidade de Salvador homenageava a data histórica. Porém, em 1998, os baianos foram surpreendidos com a mudança repentina do nome para Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães, em homenagem ao filho do ex-senador Antônio Carlos Magalhães.

Tramitando no Congresso Nacional desde 2002, o Projeto de Lei 6.106/02 do Deputado Federal Luiz Alberto (PT/BA) luta para trazer de volta o nome do Aeroporto 2 de Julho.

Você pode ajudar: visite www.meuaeroportoe2dejulho.com.br