A cada dois dias um homossexual morre no Brasil!
Recentemente, vieram à tona diversos casos de violência contra homossexuais no Brasil. Apenas alguns exemplos:
- no dia 22 de outubro, um aluno de biologia da USP e seu namorado, estudante de arquitetura, foram vítimas de agressão gratuita, verbal e física, em uma festa da ECA, diante de negligência por parte dos seguranças da festa.
- dia 07 de novembro, um travesti foi encontrado morto a pedradas em Tubarão (SC), e consta que é o 14º travesti assassinado na região.
- dia 14 de novembro, cinco rapazes - um de 19 anos, um de 17 e três de 16 - agrediram quatro pessoas na Avenida Paulista, ao que tudo indica com motivação homofóbica. Uma das agressões foi filmada por uma câmera de segurança e exibida em telejornais, mostrando um dos agressores quebrar duas lâmpadas fluorescentes na cabeça de um rapaz que passava pela calçada no sentido oposto. Um segurança do prédio socorreu o rapaz.
Os agressores foram presos, mas soltos em seguida, e seus pais afirmam ter sido "apenas uma briga". O pai de Jonathan Lauton Domingues, único maior preso, afirmou que o filho "foi assediado por homossexuais. Ele pediu para parar, eles não pararam. Aí, virou briga".
É um argumento recorrente, quando se lê opiniões a respeito desses casos: "ser gay não é problema, desde que não venha me cantar". Parece que espancar (ou matar?) homossexuais que passam cantadas é legítimo.
(oba! Podemos bater nos caras que nos passam cantadas na rua, também? Vou já comprar lâmpadas fluorescentes; isso deve ser divertido!)
- no mesmo dia, 14 de novembro, algumas horas depois da Parada Gay do Rio de Janeiro, alguns jovens estavam namorando no Arpoador quando foram abordados por oficiais do exército. Um sargento deu um tiro de fuzil em um estudante. A bala perfurou a barriga e saiu pelas costas. Felizmente, o rapaz sobreviveu.
O sargento afirma que o tiro foi "acidental".
- 21 de novembro, o criador da série para a web "Apenas Heróis" (de temática GLS), Daniel Sena, foi agredido em Salvador. Ele foi atacado por três homens, que o espancaram, obrigaram a comer terra e beber gasolina e ameaçaram violentá-lo com uma barra de ferro.
- 23 de novembro, em um debate na TV Câmara sobre a "Lei da Palmada", o deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ) defendeu agressões físicas para mudar o comportamento de jovens homossexuais.
Entrevistado pela Folha, ele manteve a posição: "Se o garoto anda com maconheiro, ele vai acabar cheirando, e se anda com gay, vai virar boiola com toda certeza. Nesse momento, umas palmadas nele coloca (sic) o garoto no rumo certo"
- no mesmo dia, neonazistas ameaçam travestis e dizem que Parada Livre de Porto Alegre será "alvo", em telefonema para a sede do Igualdade — Associação de Travestis e Transexuais do Rio Grande do Sul. Segundo Marcelly Malta, presidente do grupo, dois travestis foram assassinados em Porto Alegre este ano.
Além de nossas fronteiras, a coisa também está feia.
Orientação sexual foi retirada da lista da ONU de motivos discriminatórios para execuções. O que significa que a Organização não condena mais que se mate homossexuais e bissexuais apenas pelo fato de o serem.
Uma resolução da ONU afirma que todas as pessoas têm o direito à vida, e faz um apelo aos países que não ratifiquem e que investiguem mortes com base discriminatória, como etnia, crença religiosa e minoria lingüística. Orientação sexual constava da lista, até o último dia 17, quando foi retirada por 79 votos a 70.
Dos 79 países que votaram a favor, 5 aplicam pena capital contra homossexuais, e outros - como Uganda - estão considerando acrescentar a pena de morte em suas leis que criminalizam a homossexualidade.
Acho que parte dessa divisão está relacionada com a discussão se a orientação sexual é uma escolha, ou é algo da "natureza" da pessoa. Acho que, na cabeça de muita gente, se uma pessoa nasce gay, condená-la à morte por isso seria contrário ao direito fundamental à vida. Mas se, pelo contrário, a homossexualidade for uma opção, os países teriam mais liberdade para criminalizá-la.
Considero essa discussão simplesmente inútil.
Eu tenho olhos castanhos, sou fã do U2 e heterossexual.
Acabo de citar três características minhas. Elas não me definem, mas são parte do que eu sou. Não importa realmente se eu nasci com algumas delas ou se eu as adquiri a partir de minhas experiências de vida. Se eu não estou prejudicando ninguém, por que alguém me pressionaria para mudar qualquer uma dessas características? Ou pior, me condenaria à morte por uma delas, sem que eu tenha feito mal a ninguém?
Agora, acredito que ninguém possa "escolher" por quem se sentir atraído. As pessoas podem escolher com quem se relacionar. Podem se relacionar com pessoas de quem não gostam e ser infelizes pelo resto da vida, mas não podem controlar seus sentimentos.
(e uma ressalva que, como bióloga, eu não posso deixar de fazer: nenhuma característica de nenhum ser vivo é totalmente "inata" ou totalmente "adquirida pela experiência")
Bullying homofóbico
Muitos adolescentes e pré-adolescentes cometem suicídio todos os anos por sofrerem preconceito por ser diferentes. Muitas vezes, o preconceito vêm dos próprios pais. Quem nunca ouviu alguém dizer que "prefere um filho morto a um filho gay"?
Vídeo: reportagem sobre o suicídio de um garoto de 14 anos, no Profissão Repórter
Nos Estados Unidos, uma campanha de depoimentos em vídeo, intitulada It Gets Better (algo como "vai melhorar") procura oferecer esperança a eses jovens. Até o presidente Obama participou:
PLC 122/2006
O PLC 122/06 é um projeo de lei em tramitação no Senado que pune a discriminação baseada na orientação sexual ou na identidade de gênero.
Se você concorda com o projeto, assine o abaixo-assinado!
Uma vez, acho que eu tinha uns 13 anos, estava descobrindo a internet e fui debater sobre homossexualidade num site, uma espécie de ancestral do Orkut que não existe mais há anos.
Eu perguntei por que as pessoas eram contra a homossexualidade. Um cara respondeu que não gostava de homossexuais "porque eles molestam garotinhos".
Eu respondi "puxa, não tinha pensado nisso! Vamos odiar os homens heterossexuais também, então, por molestarem garotinhas!"
O cara não se manifestou mais...
Caso alguém ainda tenha a falta de senso crítico para dizer algo parecido com o que o cara disse, sugiro procurar as palavras "homossexual" e "pedófilo" no dicionário. Elas não são sinônimos, ok?
Heterossexuais, homossexuais, bissexuais, transgêneros... são todos seres humanos, com virtudes e defeitos, e que merecem ter os mesmos direitos.
Qual é a justificativa para impedir que duas pessoas que se amam construam uma vida juntas?
Para que não se permita que duas pessoas que viveram juntas a maior parte de sua vida sejam reconhecidas como um casal? Para impedir uma pessoa de visitar quem ela ama no hospital por não ser oficialmente da família, independente de quantos anos elas viveram juntas?
Por que não aprovar o casamento gay, como fez recentemente a Argentina?
(para os assustados: o casamento legalmente aceito é o civil. Um casamento religioso pode - ou não - valer como civil. Mas aprovar o casamento entre pessoas do mesmo sexo não significa dois homens ou duas mulheres no altar. Isso não depende da lei, depende de cada igreja. Uma igreja pode, hoje, realizar cerimônias de casamento para casais do mesmo sexo; elas só não terão valor legal)
Aqui está uma lista de países que reconhecem legalmente o casamento entre pessoas do mesmo sexo (fonte: Wikipedia):
África do Sul, Argentina, Bélgica, Canadá, Espanha, Islândia, Noruega, Países Baixos, Portugal, Suécia e alguns estados (Connecticut, Iowa, Massachusetts, New Hampshire, Vermont, Washington D.C.) dos EUA.
Faz sentido a imagem de dois homens se beijando ser mais chocante do que a imagem de dois homens se matando?
Termino citando o que a Lola escreveu - e eu adorei - no blog Escreva Lola Escreva:
"Não ser gay não é ser homofóbico. Os 90% da população que não é homossexual deveria ficar na sua e deixar os gays em paz. É totalmente absurdo odiar alguém por el@ ser diferente. Não compreendo essa necessidade de gastar tanta energia com algo que não lhe diz respeito. Tipo: eu não gosto de banana. Então o que faço? Ué, eu não como banana. Se alguém me oferece banana, eu agradeço e digo “Não, obrigada”. Quando vou a um buffet por quilo, não fico apontando pras bananas à milanesa e fazendo cara de nojo. Tampouco as procuro pra poder destrui-las com um garfo. E ninguém tenta me convencer a gostar de bananas. Eu não gosto, mas sei que tem um monte de gente que gosta. É meio egoísta eu querer que as bananas desapareçam da face da Terra só por eu não gostar delas. Sabe, quem morreu e me nomeou deus? E por falar em deus, não vou ficar procurando na bíblia passagens que possam ser interpretadas como “deus odeia bananas e quer que elas ardam no inferno”. Tenho mais o que fazer."
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