sexta-feira, 29 de julho de 2011

Se seu CD favorito fosse um livro...

...como ele seria?

Esta é a proposta da série The Record Books.
Esses são os meus favoritos (tem muito mais no Flickr):

capa de Horses, por Patti Smith capa de How to Dismantle an Atomic Bomb, por U2 capa de Are You Experienced, por Jimi Hendrix capa de Out of Time, por R.E.M. capa de Bad, por Michael Jackson capa de What's Going On, por Marvin Gaye capa de IV, por Led Zeppelin capa de Brothers in Arms, por Dire Straits capa de The Man Who Sold the World, por David Bowie capa de London Calling, por The Clash capa de Born to Run, por Bruce Springsteen capa de Pet Sounds, por Beach Boys capa de Welcome to My Nightmare, por Alice Cooper capas de A Day at the Races e A Night at the Opera, por Queen

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Prefeitura de São Paulo quer nos convencer de que é "verde"

Não sei como a Prefeitura de São Paulo não sente vergonha de veicular um anúncio destes (eu sinto!):

anúncio da Prefeitura de São Paulo veiculado na edição 648 da revista Carta Capital
"São Paulo é cheia de atrações, mas o que fez a cidade ser escolhida para sediar
o 4º Climate Summit foi o seu cuidado com o meio ambiente"

(Anúncio da Prefeitura de São Paulo veiculado na edição 648 da revista Carta Capital)

Claro! É só olhar para o horizonte colorido em belos tons de cinza e marrom ou passar perto do nosso perfumado rio para ver o quanto São Paulo cuida do meio ambiente!
[/sarcasmo]

Desde domingo, minha rinite (com a qual eu pensava estar acostumada) está me deixando louca!

E, enquanto nosso digníssimo prefeito libera "ciclofaixas de lazer" (só aos domingos, veja bem!) e planta arvorezinhas uma arvorezinha no Dia da Terra, o transporte público vai mal, cerca de mil novos carros entram em circulação a cada dia (e isto é comemorado!), e os jornais publicam notícias do tipo:

Kassab descumpre sua própria lei do clima
A gestão do prefeito Gilberto Kassab (PSD) desrespeita a legislação ambiental que ela mesma criou há dois anos. A lei de Mudanças Climáticas do município exigia que em junho de 2011 os 96 distritos da cidade tivessem pelo menos um ecoponto, local de entrega voluntária de pequenos volumes de entulho. E que a coleta seletiva virasse obrigatória em toda a cidade. Porém, há apenas 42 ecopontos em funcionamento. Só as pequenas obras na capital devem produzir 12 mil toneladas de resíduos todos os dias. Deste total, apenas 5.200 chegam aos aterros oficiais do município. No que se refere à coleta seletiva, a gestão Kassab capta de forma voluntária apenas 155 toneladas diárias de resíduos para reaproveitamento. Essa quantia representa menos de 1% das 17 mil toneladas de lixo produzidas diariamente em São Paulo
FSP, 27/7, Cotidiano, p.C4.

Promessas verdes
"Em meados de 2009, a gestão do prefeito Gilberto Kassab aprovou na Câmara Municipal de São Paulo a Lei de Mudanças Climáticas. De acordo com ela, o governo da cidade passava a assumir uma série de compromissos na área ambiental. Passados dois anos, à luz dos resultados obtidos, o saldo não é nada positivo. A prefeitura está em dívida flagrante com a legislação que ela própria criou. A não ser que se tome o documento como peça de ficção, ou como gesto inconsequente de adesão à onda verde que varre o planeta, o mínimo que se pode dizer é que a iniciativa da prefeitura foi tratada de forma leviana por seus autores. É mais preocupante quando se sabe que o secretário do Meio Ambiente da atual gestão, Eduardo Jorge, do PV, desponta como nome preferido do prefeito para concorrer à sua sucessão"
editorial - FSP, 28/7, Editoriais, p.A2.

Nova Marginal fica sem verde, tecnologia e acessibilidade
O complexo da Nova Marginal do Tietê, em São Paulo, foi concluído ontem com a inauguração da Ponte Estaiada Governador Orestes Quércia, mas sem a tecnologia prometida. A construção também não respeita as exigências ambientais previstas, como deixar a via mais verde ou melhorar a vida de quem anda ali a pé ou de bicicleta. Mesmo assim, o investimento na Nova Marginal já chega a R$ 1,75 bilhão, 75% a mais do que o orçado inicialmente. O projeto foi lançado em junho de 2009 pelo então governador José Serra (PSDB). Outras promessas também ficaram no papel. O projeto desrespeita exigências feitas pelo município para a obtenção da licença de instalação, como a criação de barreiras acústicas para diminuir o ruído perto de escolas, hospitais e residências
OESP, 28/7, Metrópole, p.C1 e C3.

Gestão Kassab recicla menos de 1% dos resíduos de São Paulo
O governo de São Paulo regulamentou, em 2010, a lei de Mudanças Climáticas. As metas principais eram criar ecopontos, para os 96 distritos da cidade, e tornar a coleta seletiva obrigatória. No entanto, os resultados atuais mostram que a gestão Kassab não prioriza a legislação ambiental. Na prática, nenhuma das metas estipuladas para junho de 2011 foram cumpridas. Um dos objetivos era que cada um dos 96 distritos da cidade tivessem, no mínimo, um ecoponto. Porém, há apenas 42 ecopontos em funcionamento.
Os aterros oficiais do município recebem diariamente 5.200 toneladas de lixo, mas o número de resíduos produzidos diariamente é muito maior, de forma que predominam na cidade a criação de depósitos ilegais de entulhos. Há, pelo menos, 1.500 pontos de depósitos não autorizados em todo o território paulistano. Em relação à coleta seletiva, a negligência também é preocupante. A cidade de São Paulo recicla menos de 1% das 17 mil toneladas de lixo produzidas. Apenas 155 toneladas de resíduos são reaproveitadas diariamente.
Redação CicloVivo, 28/7

segunda-feira, 25 de julho de 2011

O Esperanto completa 124 aninhos

No dia 26 de julho de 1887, o Esperanto foi apresentado ao mundo com a publicação do Unua Libro ("primeiro livro") pelo criador do idioma, Ludwig Zamenhof.
A edição original foi escrita em russo mas, antes do fim de 1887, o Unua Libro foi traduzido para o polonês, o alemão, o francês e o inglês.

primeira edição do Unua Libro, em russo
Capa da primeira edição do Unua Libro, em russo

O Esperanto é uma língua neutra para comunicação internacional, reconhecida e recomendada pela UNESCO.

Estima-se que existam hoje entre 2 e 5 milhões de Esperantistas no mundo.
Existe literatura, músicas e filmes produzidos no idioma, sem contar inúmeras traduções. Por exemplo, a tradução da Bíblia em Esperanto é considerada a mais precisa de todas.
E O Senhor dos Anéis (La Mastro de l' Ringoj), de J. R. R. Tolkien, foi traduzido por William Auld, autor escocês nomeado três vezes ao Nobel de Literatura por sua obra em Esperanto.

Aprender Esperanto é incrivelmente fácil.
A maioria das pessoas torna-se fluente no idioma em 4-6 meses de estudo enquanto, para ser fluente em inglês, um brasileiro leva, em média, de 7 a 10 anos.
(O escritor russo Leo Tolstoy afirma ter aprendido Esperanto em apenas 3 dias)

Você pode aprender Esperanto de graça no site lernu.net.


Esperanto é uma forma muito mais fácil e mais democrática de comunicação entre pessoas de culturas diferentes do que o inglês ou qualquer outra língua nacional.

Para homenageá-lo e ajudar a difundi-lo, será feito um twitaço. Pessoas do mundo inteiro vão participar.
Participe também!
É só usar a hashtag #Esperanto nas suas mensagens do Twitter.
Diga "olá" a seus seguidores em Esperanto: "Saluton"!

Tutmonda Twitter Agado - twitaço em homenagem ao aniversário do Esperanto
Tutmonda Twitter Agado - twitaço em homenagem ao aniversário do Esperanto
Página do evento no Facebook
Grupo de discussão no GoogleGroups

terça-feira, 19 de julho de 2011

Acompanhe as discussões sobre o Código Florestal no Senado

Desde o dia 13 de julho, há um portal sobre o Código Florestal na página do Senado.

site do Senado sobre o Código Florestal
Clique aqui para acessar o portal "Reforma do Código Florestal"

O polêmico projeto de alteração da lei que protege nossas florestas e nossos recursos hídricos (que já foi assunto de muitas postagens neste blog - clique no marcador "código florestal" ali embaixo para saber mais) foi aprovado na Câmara dos Deputados no dia 24 de maio - mesmo dia em que os extrativistas José Claudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo foram assassinados no Pará - e agora tramita no Senado.

Os ruralistas (a favor da alteração - ou flexibilização, melhor dizendo - da lei) tinham muita pressa na sua aprovação porque as punições para quem infringiu o Código atual passariam a valer no dia 11 de junho deste ano, mas, numa tentativa de barrar uma votação feita às pressas, a presidenta Dilma adiou o prazo por mais seis meses.

O principal argumento a favor da mudança é que a agricultura do Brasil precisa crescer e, para crescer, precisa ampliar seu território, reduzindo as áreas protegidas. Porém, vários estudos demonstram que isto é desnecessário e que pode trazer conseqüências muito graves.
Cientistas de várias faculdades e universidades, inclusive a Esalq (de agricultura), já se manifestaram contra o projeto. A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) apresentaram um estudo, na forma de um livro intitulado "O Código Florestal e a Ciência, Contribuições para o Diálogo", no qual fazem críticas à proposta e apontam para a necessidade de elaboração de um Código Florestal com base científica.

Várias manifestações contra as mudanças já foram realizadas em todo o país,e devem acontecer outras (vai ter uma na Paulista dia 31 de julho).
Mantenha-se informado!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Dia Internacional Nelson Mandela

Nelson Mandela, Madiba Hoje o mundo celebra o 93º aniversário de Nelson Mandela e o segundo Dia Internacional Nelson Mandela.
A ONU e a Fundação Nelson Mandela fazem um apelo para que a data seja celebrada com 67 minutos de trabalho comunitário, pois "Mandela devotou 67 anos de sua vida a serviço da humanidade - como advogado de direitos humanos, prisioneiro de consciência, defensor da paz mundial e o primeiro presidente democraticamente eleito de uma África do Sul livre".

"O próprio Nelson Mandela disse certa vez: “Nós podemos mudar o mundo e torná-lo um lugar um lugar melhor. Está em nossas mãos fazer a diferença", diz o secretário-geral Ban Ki-Moon. "A melhor forma de agradecer Mandela pelo seu trabalho é agir e inspirar a mudança".

Veja 67 sugestões de ações que você pode fazer para mudar o mundo no site do Nelson Mandela Day - e não se esqueça que datas especiais são criadas apenas para que pensemos nos assuntos, mas essas ações podem - e devem - ser feitas em qualquer dia. Como diz o site, make every day a Mandela day!

Mandela passou 27 anos de sua vida na prisão por sua luta contra o apartheid na África do Sul. Ele foi libertado em 1990.
Em 1993, foi homenageado com o prêmio Nobel da paz e, no ano seguinte, foi eleito presidente nas primeiras eleições livres do país.

"Ser livre não é apenas libertar-se das correntes, mas viver
de uma forma que respeite e reforce a liberdade dos outros"
(Nelson Mandela)

Para se inspirar: O filme Mandela - A Luta pela Liberdade (título original Goodbye Bafana) mostra o período em que Mandela esteve preso, do ponto de vista de um dos guardas da prisão, e o filme Invictus, dirigido por Clint Eastwood, mostra o início de seu mandato como presidente, e a forma como um esporte - o rugby - ajudou a promover a união em uma nação dividida.



Vibração das cordas do violão

Muito legal; vi no Trabalho Sujo:

segunda-feira, 11 de julho de 2011

A Marcha das Vadias

Machismo Mata - cartaz da Marcha das Vadias em RecifeRecentemente, aconteceu em várias cidades de todo o Brasil uma manifestação chamada Marcha das Vadias.

Muita gente não entendeu o sentido dessa Marcha.
Pelo que vi em boa parte dos comentários a respeito, estão achando que é para defender a promiscuidade ou algo assim. Não é nada disso!


Pura preguiça. Se gastassem um minuto para procurar na internet como a Marcha começou, ou vissem algumas imagens dos cartazes que @s manifestantes carregavam, acho que o sentido ficaria bastante claro.

Mas eu dou esse crédito para os mal-informados: boa parte dos meios de comunicação não ajudou nem um pouquinho. O que mais foi mostrado foram fotos de mulheres com roupas provocantes ou fazendo topless, reafirmando o papel das mulheres como objeto sexual, que é justamente o que essas marchas questionam!

Não sou puta nem sou santa, sou livre - cartaz da Marcha das Vadias
A Marcha das Vadias (uma das versões em português para Slutwalk) começou no Canadá, depois que um policial disse em uma entrevista que, para evitar serem estupradas, as mulheres não devem se vestir como sluts (putas).

Essa afirmação causou muita repercussão e as mulheres foram às ruas para protestar. Afinal, tod@s nós temos o direito de nos vestir como quisermos!

Um homem sem camisa... quer ser estuprado, é claro! - cartaz da Marcha das Vadias em Brasília
Cartaz da Marcha das Vadias em Brasília

Marcha das Vadias (Slutwalk) em Toronto, Canadá - não nos diga como devemos nos vestir, diga aos homens para não estuprar
Cartaz da Slutwalk em Toronto, Canadá:
"Não nos diga como devemos nos vestir, diga aos homens para não estuprar"

Ensinem aos homens que estuprar é errado, e não às mulheres que elas devem viver com medo. Senão, daqui a pouco vamos voltar no tempo e viver trancadas dentro de casa, até o dia em que nosso pai nos der em casamento, e então viveremos trancadas na casa de nossos maridos.
(Não que isso vá resolver o problema, já que, em 80% dos casos de estupro, o estuprador era conhecido da vítima, muitas vezes um membro da família)

Ensinem os homens a respeitar, não as mulheres a temer - cartaz da Marcha das Vadias em Brasília
Nossa cultura machista vive culpando a vítima nos crimes sexuais.
Quantas vezes você não viu uma notícia sobre um estupro e ouviu alguém comentar, ou até pensou, que "ah, mas ela estava bêbada" ou "também, do jeito que ela se veste..." ou "mas ela já vivia dando pra todo mundo"?

Marcha das Vadias (Slutwalk) em Toronto, Canadá - abuso sexual é o único crime em que a vítima se torna o acusado
Cartaz da Slutwalk em Toronto, Canadá:
"Abuso sexual é o único crime em que a vítima se torna o acusado"

Cartaz da Marcha das Vadias em Brasília - coisas que causam o estupro
Cartaz da Marcha das Vadias em Brasília

Agora você já sabe que a Marcha das Vadias é um protesto contra a violência sexual e contra a culpabilização da vítima de crimes sexuais.

Veja mais algumas fotos das manifestações:
São Paulo:

Estupro é questão de poder - cartaz da Marcha das Vadias em São Paulo
Marcha das Vadias em São Pauloprotestos contra Rafinha Bastos na Marcha das Vadias de São Paulo
Brasília:

Marcha das Vadias em BrasíliaMarcha das Vadias em Brasília
Recife:

Marcha das Vadias em Recife
Marcha das Vadias em Recife

Fortaleza:

Marcha das Vadias em Fortalezavários homens na Marcha das Vadias de Fortaleza
Belo Horizonte:

não sou eu quem tem que evitar o estupro; é o estuprador - cartaz da Marcha das Vadias em Belo Horizonte

sábado, 2 de julho de 2011

A Guerra da Independência do Brasil

festejos do 2 de Julho, na Bahia
2 de Julho é dia de festa na Bahia
(Guest post de Gau; meus comentários em itálico)
No último sábado, comemorou-se, na Bahia, a data de 2 de julho. Comemoração que passa completamente despercebida no restante do país. E o que se comemora nessa data? Nada menos que o fim das lutas de Independência do Brasil, com a expulsão das tropas portuguesas em 2 de julho de 1823.

quadro Independência ou Morte, de Pedro Américo, exposto no Museu PaulistaParece estranho se falar de guerra de Independência, quando aprendemos na escola que a Independência do Brasil foi proclamada em 7 de setembro de 1822, quando, às margens plácidas do riacho Ipiranga, em São Paulo, o então príncipe regente D. Pedro bradou “Independência ou Morte” , e depois seguiu para o Rio de Janeiro, onde, em 12 de outubro, foi proclamado imperador. Tudo de forma pacífica. A realidade na Bahia (e no Piauí, onde se travou a Batalha do Jenipapo, em março de 1823), entretanto, foi outra. Houve guerra, violentas batalhas em terra e mar, e milhares de vítimas.

Para se compreender a independência e a guerra ocorrida na Bahia é preciso retroceder um pouco nos fatos históricos daquela época. O Brasil foi uma Colônia de Portugal até 1808. Ser Colônia significava, do ponto de vista econômico, ter apenas relações comerciais com a metrópole, para onde se exportava matéria prima e de onde se importava todo tipo de manufaturados. Do ponto de vista político, significava seguir e obedecer integralmente as ordens e leis da metrópole, sem governo próprio.
Chegada de D. João VI a Salvador - tela de Cândido Portinari
Com a vinda da família real, em 1808, fugindo da invasão de Portugal por tropas napoleônicas, a situação brasileira muda e o país perde a condição de Colônia. O comércio é aberto a outras nações, especialmente a Inglaterra, e o Brasil passa a ser sede de governo, integrando o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves.

A derrota de Napoleão leva os portugueses, em Portugal, a buscar retomar o domínio de seu exército (que estava sob comando inglês) e o retorno à sua condição de metrópole sede do reino. Em 1820 ocorre a Revolução Liberal do Porto, que exige o regresso de D. João VI a Portugal, o retorno do chamado Pacto Colonial (restrição do comércio brasileiro exclusivamente com a metrópole) e propõe a formação das Cortes Constituintes.

D. João volta efetivamente a Portugal, deixando Pedro como príncipe regente do Brasil. No final de 1821, as Cortes portuguesas decretam o fim da regência e o retorno do príncipe. Em 9 de janeiro de 1822, pressionado pelo partido brasileiro e pelos liberais do país, ele decide desobedecer às Cortes e ficar no Brasil. Este é o significado do “Dia do Fico”, que estudamos na escola. Em 7 de setembro, às margens do Ipiranga, ele recebe novas cartas da Corte, desta vez exigindo o seu retorno e sua submissão. É quando ocorre o grito “Independência ou Morte”.

Nesse contexto se entende melhor a guerra. Na Bahia, havia uma grande população civil de portugueses e grande contingente de soldados portugueses no exército e marinha. A cisão entre brasileiros e portugueses começa a se agravar a partir de 1821, com os primeiros conflitos. Em novembro daquele ano, por exemplo, soldados portugueses atacaram soldados brasileiros nas ruas de Salvador, culminando em um confronto maior na Praça da Piedade.

ilustração - O Martírio de Joana AngélicaEm fevereiro de 1822, é destituído o comandante das Armas, favorável ao rompimento com Portugal, e nomeado outro, completamente submisso às Cortes: Madeira de Melo. Tropas portuguesas tomam, após violentos confrontos, quartéis em Salvador em poder de soldados brasileiros. E invadem o Convento da Lapa, de freiras, onde se haviam refugiado revoltosos. À porta do convento, matam a abadessa Joana Angélica, que tentava impedir a invasão. Joana Angélica foi a primeira mártir da guerra da Independência. Surpreendentemente, ninguém sabe disso.

Outros conflitos se sucedem. Representantes da Bahia nas Cortes de Lisboa consultam por carta seus municípios sobre qual a posição da Bahia com relação a Portugal. As cidades de Cachoeira e São Francisco do Conde, seguidas pelas demais do Recôncavo, se manifestam favorável à regência e ao príncipe regente e contra as decisões da Corte. Em 25 de junho de 1822 essa posição é oficializada pela Câmara de Cachoeira. Uma escuna militar enviada por Madeira de Melo chega à cidade. Três dias depois, inicia-se o combate e o povo toma a embarcação. É o começo da guerra.
Maria Quitéria, por Domenico Failutti

Reforços chegam à Bahia para apoio às tropas portuguesas. Da parte dos brasileiros, soldados se juntam ao povo, que se arma e se mobiliza para a guerra. Surge uma heroína: Maria Quitéria, jovem que se veste de homem e se alista como voluntário, participando de inúmeras batalhas. Um herói: Luís Lopes, o Corneteiro Lopes, português que lutava do lado brasileiro. Na batalha de Pirajá, com as tropas portuguesas em maior número e quase a vencer, o comandante brasileiro ordena o toque de retirada. Por conta própria, o Corneteiro Lopes substitui pelo toque de avançar cavalaria. Surpresas e em pânico, as tropas portuguesas se desorganizam e acabam derrotadas e em fuga.


Outra heroína da Independência do Brasil, ainda menos conhecida, foi Maria Felipa de Oliveira,
que liderou a resistência aos portugueses na ilha de Itaparica:
Maria Felipa, heroína da Independência do Brasil
A guerra na Bahia prosseguirá violenta até 2 de julho de 1823 quando, derrotado, Madeira de Melo embarca para Portugal com sua tropa, e vitoriosas, as tropas brasileiras entram na capital.

O símbolo da independência na Bahia é o caboclo, identificado como o índio dono original da terra, em oposição ao colonizador europeu. Há em Salvador o monumento ao 2 de Julho, encimado pela figura do índio. Nos festejos da data, há desfile com as imagens do índio e da índia pelas ruas de Salvador.

Monumento ao Dois de Julho na Praça do Campo Grande, Salvador
Monumento ao Dois de Julho na Praça do Campo Grande, em Salvador
Abaixo: detalhes do monumento - à esquerda, o caboclo, representando o povo brasileiro; à direita, Maria Quitéria

detalhe do Monumento ao Dois de Julho na Praça do Campo Grande, SalvadorMaria Quitéria - detalhe do Monumento ao Dois de Julho na Praça do Campo Grande, Salvador
O Hino a 2 de julho foi, no ano passado, oficializado como Hino do Estado da Bahia. E o poeta baiano Castro Alves – o Poeta da Liberdade – escreveu vários poemas comemorativos, sendo o mais conhecido a Ode ao 2 de Julho:
Ode ao 2 de Julho

Era no Dous de Julho
A pugna imensa
Travara-se nos cerros da Bahia…
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
“Neste lençol tão largo, tão extenso,
“Como um pedaço roto do infinito …
O mundo perguntava erguendo um grito:
“Qual dos gigantes morto rolará?! …

Debruçados do céu. . . a noite e os astros
Seguiam da peleja o incerto fado…
Era tocha — o fuzil avermelhado!
Era o Circo de Roma — o vasto chão!
Por palmas — o troar da artilharia!
Por feras — os canhões negros rugiam!
Por atletas — dous povos se batiam!
Enorme anfiteatro — era a amplidão!

Não! Não eram dous povos os que abalavam
Naquele instante o solo ensangüentado…
Era o porvir — em frente do passado,
A liberdade — em frente à escravidão.
Era a luta das águias — e do abutre,
A revolta do pulso — contra os ferros,
O pugilato da razão — com os erros,
O duelo da treva — e do clarão! …

No entanto a luta recrescia indômita
As bandeiras – corno águias eriçadas —
Se abismavam com as asas desdobradas
Na selva escura da fumaça atroz…
Tonto de espanto, cego de metralha
O arcanjo do triunfo vacilava…
E a glória desgrenhada acalentava
O cadáver sangrento dos heróis!

Mas quando a branca estrela matutina
Surgiu do espaço e as brisas forasteiras
No verde leque das gentis palmeiras
Foram cantar os hinos do arrebol,
Lá do campo deserto da batalha
Uma voz se elevou clara e divina.
Eras tu — liberdade peregrina!
Esposa do porvir — noiva do Sol!…

Eras tu que, com os dedos ensopados
No sangue dos avós mortos na guerra,
Livre sagravas a Colúmbia terra,
Sagravas livre a nova geração!
Tu que erguias, subida na pirâmide
Formada pelos mortos do Cabrito,
Um pedaço de gládio — no infinito…
Um trapo de bandeira — n’amplidão!...
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Crianças representam personagens do 2 de Julho nas festas da Independência da BahiaCrianças representam personagens do 2 de Julho nas festas da Independência da Bahia
Crianças representam personagens do 2 de Julho nas festas da Independência da Bahia
(fotos de Eduardo Martins; veja mais imagens no site do jornal A Tarde)


moradores de Salvador pedem a volta do nome original do aeroporto, durante os festejos de 2 de Julhocampanha O Aeroporto de Salvador é 2 de Julho
O nome do aeroporto da cidade de Salvador homenageava a data histórica. Porém, em 1998, os baianos foram surpreendidos com a mudança repentina do nome para Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães, em homenagem ao filho do ex-senador Antônio Carlos Magalhães.

Tramitando no Congresso Nacional desde 2002, o Projeto de Lei 6.106/02 do Deputado Federal Luiz Alberto (PT/BA) luta para trazer de volta o nome do Aeroporto 2 de Julho.

Você pode ajudar: visite www.meuaeroportoe2dejulho.com.br